Geraldo Barbosa, de 89 anos, ri e se emociona facilmente. Com uma edição da Bíblia nas mãos e repetindo insistentemente histórias ali relatadas recebeu na manhã desta terça-feira (15) a equipe do Portal Correio de Carajás no Apartamento 27, onde vive, no Bloco 18 do Residencial Alto Bonito, em Parauapebas.
Pelo imóvel restos de comida, lixo espalhado, moscas, objetos distribuídos por todos os lados e muita poeira. A casa não é limpa há dias e Geraldo não estava melhor apresentado, vestindo roupas sujas. Entre lágrimas e sorrisos ele prefere não detalhar como chegou àquela situação ou onde estão os familiares e segue falando de Deus.
A vizinha e dona de casa Elaine Modesto relata a preocupação dos demais moradores do bloco com a situação do idoso que vive praticamente abandonado, contando apenas com a boa vontade dos vizinhos quando estes têm tempo e recursos.
Leia mais:“Ele não gosta de pessoas estranhas, recebe apenas algumas pessoas e elas também têm suas próprias necessidades. Ele precisa ser cuidado constantemente. Está sujo, há dias não toma banho, a casa dele não é limpa há dias, às vezes ele esquece o gás aceso e já quase colocou fogo na casa. Às vezes falta água, aí ele abre a torneira e esquece aberta, quando a água volta espalha em tudo. Tudo isso incomoda também os vizinhos porque ele não mora só no bloco”, relata.
De acordo com ela, o idoso possui a saúde fragilizada. “Quando ele some a gente já fica preocupada, vai lá olhar. Hoje ele passou aqui em casa e estava com febre, dei um remédio, ele reclamou de dor, talvez esteja doente e não consegue mais realizar as atividades dele, por estar debilitado”, acrescenta.
Ela afirma saber que Geraldo Barbosa possui filhos morando em Parauapebas e apela que a família o ajude, mesmo que seja encontrando um abrigo onde ele possa viver com a aposentadoria que recebe. “Se a família não pode cuidar que procure um abrigo. Ele tem condições de pagar com o aposento dele um cuidado e um lugar não tão insalubre quanto o que ele tá vivendo hoje”, observa.
A outra opção, diz, é apelar para o Poder Público. “Gostaria que olhassem com olhar de empatia para a situação dele, alguém da família, a Assistência Social, o governo, alguém com respaldo para uma tomar atitude por ele, já que ninguém está tomando”. O mesmo pedido é feito pelo próprio Geraldo Barbosa, que evita detalhes da vida pessoal.
“Quero pedir a eles, principalmente ao Darci (prefeito), porque eu vivo votando pra ele, pra eles terem misericórdia dos velhos que tão morrendo à mingua, que tenham misericórdia. Me sinto abandonado do mundo, do povo… só não de Deus”, diz, acrescentando que antes de se aposentar trabalhava como operador de explosivos, mas devido à idade não possui mais emprego. “Hoje o povo não me quer nem pra apanhar lixo”, lamenta.
O Correio de Carajás procurou a Secretaria Municipal de Assistência Social para questionar se o órgão já possuía conhecimento do caso e o que pode ser feito em relação à situação, mas o expediente do órgão já havia sido encerrado. A assessoria de comunicação se comprometeu a apurar as informações e encaminhar posicionamento até essa quarta-feira (16). (Luciana Marschall – com informações de Rayane Pontes)