Após passar longos meses com as portas fechadas, a unidade do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) reiniciou o atendimento em Parauapebas, por recomendação do Ministério Público do Estado do Pará, e vem gerando resultados positivos na vida das pessoas acolhidas.
Joseilson da Silva Farias, por exemplo, chegou no município há cerca de cinco meses, sem ter para onde ir, sem emprego e vulnerável ao uso do álcool. Acabou em situação de rua e algum tempo depois foi acolhido pelas equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social de Parauapebas, conseguindo, assim, se restabelecer.
“A minha vida quando cheguei aqui era um pouco complicada. Cheguei muito debilitado, fraco, eu cheguei sujo, bêbado. Não tenho vergonha de falar isso em canto nenhum. Hoje me sinto um homem maravilhado”, relata. Atualmente, ele trabalha com as hortaliças da unidade e reforça a cada dia o desejo de se manter afastado das substâncias químicas e ser inserido no local de trabalho, uma vez é lavrador e também pizzaiolo.
Leia mais:“Através daqui eu tô tendo mais conhecimento e tô sentindo o gosto da sociedade, o qual eu não tinha. Hoje a sociedade me olha com outros olhos. As pessoas me olham de outra forma. Pra mim é muito importante a pessoa chegar pra mim e conversar comigo”, diz.
Além de ter onde dormir, o que vestir, estar alimentado e poder aprender mais nas oficinas ofertadas, Joseilson também comemora estar aprendendo a escrever as primeiras palavras e a ler as primeiras frases. “Eu aprendi a ler um pouco e escrever através da professora Gláucia, que é uma pessoa dedicada a todos nós, uma menina que ensina com amor e carinho, com atenção. Eu não sabia nem ler e nem escrever, mas hoje, graças a Deus e a esta ajuda, consigo”, comemora.
A professora a quem ele se refere é Gláucia Pompeu, que garante sentir-se realizada em contribuir com o projeto. “A gente teve uma conversa breve, onde ele me contou um pouquinho do sonho dele. A partir daquele momento, o sonho dele começou a fazer parte do meu sonho também porque dependia do meu trabalho”, afirma.
Ela diz entender a importância de garantir que os acolhidos aprendam a ler e escrever para que sejam reinseridos no mercado de trabalho. “É um grande desafio, uma aprendizagem que eu nunca imaginei que teria e algo que vou levar para o resto da minha vida”, destaca.
Fabiano Marinho, coordenador da unidade, informa que apenas no último mês, novembro, 11 pessoas foram reinseridas no ambiente de trabalho ou familiar. Ele explica que o centro atende principalmente homens, maiores de 18 anos. Crianças e adolescentes só podem ser acolhidas com a presença dos pais.
O Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) é o principal órgão responsável por identificar casos e fazer o encaminhamento, mas este trabalho também pode ser feito por outros órgãos, como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou unidades hospitalares.
“Chegando aqui a gente tem o trabalho de fazer um plano de atendimento familiar para cada acolhido nosso, visando a reinserção na família e no mercado de trabalho, que é o nosso grande objetivo. Para isso nós temos as oficinas. Tem oficina de horta, temos um galinheiro, temos chiqueiro e temos artesanatos de vários tipos: crochê, papel e agora estamos começando artesanato com palito de picolé”, informa.
As oficinas são pensadas de acordo com o talento do acolhido, segundo o coordenador. “A gente trabalha numa perspectiva de sustentabilidade. Parte do dinheiro que a gente arrecada paga os custos, parte faz um novo investimento e o que sobra fica pra quem trabalhou na oficina. Esse recurso é utilizado pra que ele recomece a vida quando sair daqui e enquanto isso esse dinheiro fica guardado”.
A unidade foi reaberta em abril deste ano, no início da pandemia de coronavirus, mas coordenador destaca que o trabalho é para que o projeto seja mantido mesmo após a situação emergencial. “Há uma decisão hoje da secretaria para que a gente continue. Nós temos a equipe técnica, temos enfermeiro, temos assistente social, temos psicólogos que dão todo apoio, um amparo a essa população”, detalha.
Cada pessoa que a equipe consegue reinserir no mercado de trabalho ou no ambiente familiar, segundo Fabiano, é uma gota de combustível a mais para que as ações sigam impulsionadas. “Pra gente é uma alegria muito grande. Eu brinco que é o 14º salário quando a gente vê alguém reinserido ou quando eu tô passando na rua, uma pessoa me para, me abraça e agradece. Pra gente é uma felicidade muito grande”.
Fabiano afirma que recentemente o centro iniciou parceria com Secretaria Municipal de Produção Rural (Sempror) para expor os produtos fruto das oficinas no shopping da cidade, aos sábados. “Os nossos acolhidos que vão lá vender os nossos produtos e temos uma venda também externa para algumas pessoas que a gente conhece. Nossa venda, por enquanto, está muito boa, a gente tá conseguindo dar vazão, mas queremos melhorar ainda mais”, diz. (Luciana Marschall – com informações de Ronaldo Modesto)