Correio de Carajás

Parauapebas celebra 37 anos de história com raízes maranhenses

Mais de 100 mil moradores da cidade são do Maranhão. No início, quem chegava não tinha formação, agora, o cenário mudou

Parauapebas completa 37 anos de história neste sábado, 10 de maio com uma população vinda de várias partes do País

A terra do açaí tem sabor de cuxá! Desde que a maior jazida de minério de ferro do mundo foi descoberta e começou a ser operada na Serra dos Carajás, um movimento migratório foi desencadeado nos quatro cantos do Brasil. Entretanto, a comunidade maranhense ganha destaque, e representa 35,31% da população do município, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2024.

Parauapebas completa 37 anos de história neste sábado, 10 de maio. Uma das marcas registradas desde a criação do município é a diversidade de quem aqui reside. O reflexo do movimento migratório teve um papel fundamental no crescimento da cidade. O município, atualmente, tem uma população de 298.854 mil pessoas; deste número, 105.555 mil são maranhenses.

Essa forte presença de moradores do estado vizinho na composição social de Parauapebas contribuiu para moldar a cultura local, marcada por tradições, sotaques, costumes e sabores que hoje fazem parte da identidade do município. O portal Correio de Carajás compartilha histórias de quem migrou para a ‘Capital do Minério” em busca do sonho dourado.

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Sabor maranhense em Parauapebas 

É o caso de Márcia da Silva Coutinho, natural de Zé Doca, cidade localizada no oeste do Maranhão, e que chegou a Parauapebas em 2009.

Recém-separada, mãe de três filhos e sem conseguir emprego na cidade natal, ela aceitou a ajuda de uma amiga que já morava no município para recomeçar a vida. O primeiro emprego d em solo paraense foi como auxiliar de cozinha, mas para manter os filhos que ficaram com a avó, também vendia roupas nas horas de folga para conseguir sustentá-los.

Márcia Coutinho veio de Zé Doca-MA em 2009 e hoje tem orgulho de morar na cidade

Foi em Parauapebas que Márcia tirou a primeira carteira de trabalho e abriu a primeira conta bancária. Há dois anos decidiu empreender, inaugurando o restaurante Sabor Maranhense, onde o prato mais pedido é o tradicional arroz de cuxá. “Sempre tive vontade de ter o meu próprio restaurante, e nada mais justo do que homenagear o meu estado”, diz ela.

Apesar de Márcia celebrar as raízes maranhenses, afirma não pensar em voltar ao estado de origem. “Foi esta cidade que me deu uma nova oportunidade, aqui eu posso dar aquilo que meus filhos precisam. Eu sou muito feliz em Parauapebas”, garante.

Hoje, com o dinheiro do restaurante, ela realiza o que descreve como um dos maiores sonhos: pagar a faculdade de Direito da filha, que também mora em Parauapebas e trabalha junto com a mãe. “É a melhor sensação do mundo”, diz, emocionada.

Quando o assunto é casamento, Márcia conta que ainda formalizou uma nova relação, e brinca que poderia citar na matéria que deseja subir novamente ao altar.

 

João trouxe tesoura, coragem e sonhos

Outro exemplo é João Batista Alves, 39 anos, natural de São Luiz Gonzaga do Maranhão. Ele chegou a Parauapebas em 2007, um jovem com apenas 18 anos. “Sempre fui sonhador, com vontade de conquistar algo na vida. A cidade que eu morava tinha pouca oportunidade, e vim em busca de recursos”, relembra.

No entanto, João assume que a imaturidade da juventude fez com que ele não tivesse paciência de esperar a prosperidade chegar, e o início difícil o fez voltar ao Maranhão.

Mas uma visita à “Capital do Minério” no ano passado o relembrou do sonho de ter uma vida com mais oportunidades. Retornando de vez à cidade em janeiro deste ano, dessa vez em companhia da esposa. “As pessoas que querem ter melhor oportunidade na vida e têm coragem de trabalhar, aqui é o lugar”, reconhece.

João Batista é barbeiro e revela que faz desconta para os irmãos maranhenses

João é barbeiro há duas décadas e tem o próprio salão. Ele confidenciou à reportagem do CORREIO que em Parauapebas ele tem mais clientes do que jamais teve em sua terra natal, e o valor do corte também é maior, mas aos risos revela que maranhense tem desconto.

“Aqui é um lugar de pessoas educadas e solidárias. Minha única saudade do Maranhão é de minha mãe e dos demais familiares. Pretendo crescer aqui juntamente com a cidade”, afirma.

  

De conterrâneo a anfitrião na “Capital do Minério”

A história do técnico em telecomunicações Francisco Adelaide da Silva, 37 anos, também passa por superação. Ele chegou a Parauapebas em 2012, vindo também de São Luiz Gonzaga do Maranhão. Nunca havia saído da sua cidade até então. E, a convite de um amigo, aceitou o desafio de tentar a sorte longe da família.

Os primeiros meses enfrentou dificuldades e episódios de humilhação, mas quatro meses após a sua chegada conseguiu alugar uma quitinete, já com o dinheiro do trabalho. A primeira atitude foi buscar a esposa e as três filhas para se juntarem a ele.

Francisco Adelaide recepciona quem chega do Maranhão com o coração aberto

Treze anos após a sua chegada, Francisco se orgulha em ajudar outros conterrâneos que chegam à cidade em busca do mesmo sonho dourado que um dia o trouxe. E, assim como um amigo foi o responsável por apresentar Parauapebas e abrigá-lo na própria casa, hoje ele faz o mesmo com outras pessoas.

“Eu aprendi a amar Parauapebas. Aqui tive uma profissão digna e condições melhores para a minha família”, emociona-se.

  

Parauapebas casamenteira

Natural de Pio XII, uma pequena cidade do Maranhão com cerca de 26 mil habitantes, Cleidiane Lima jamais imaginava o rumo que a vida tomaria ao visitar o irmão em Parauapebas, em 2021. O que começou como uma simples viagem para matar a saudade, acabou se tornando o início de uma nova e surpreendente jornada.

“Parauapebas conquistou meu coração desde a primeira vinda”, conta Cleidiane, com um brilho nos olhos. E não foi só o coração dela que ficou — com o tempo, quase toda a família se mudou para a cidade, tornando o que era passeio em um lar cheio de novas possibilidades.

A cidade não trouxe apenas trabalho e novas oportunidades. Foi também aqui que o amor floresceu. Cleidiane conheceu o homem com quem hoje compartilha a vida, o companheiro que não só acolheu, mas também a ajudou a reescrever sua história.

Cleidiane e a filha Maisa mudaram a vida em Parauapebas: as duas casaram-se com o mesmo sapato

Na terra natal, a realidade era outra. Cleidiane enfrentou dias difíceis, trabalhando duro em casas de família por apenas R$ 300 por mês. Hoje, com orgulho, ela diz que a vida mudou, “e mudou para melhor. Eu me sinto parte dessa cidade”.

Mas a história não para por aí. Na terceira visita a Parauapebas, a filha de Cleidiane, Maisa Ramielly, encantada com tudo que viu e com a fé compartilhada com a mãe na igreja, também encontrou o amor. E como se fosse coisa do destino, decidiu ficar. Um mês após o casamento da mãe, foi a vez da filha subir ao altar — usando o mesmo sapato que Cleidiane no dia do próprio enlace. Um símbolo de afeto, continuidade e bênçãos multiplicadas.

Parauapebas, que era apenas um destino no mapa, tornou-se o cenário de novos começos, reencontros familiares e histórias que aquecem o coração. “É a promessa Deus sendo cumprida na minha vida”

 

Sonhou em Zé Doca e colheu em Parauapebas

Rafael Castro Silva, 35 anos, viveu toda a infância e juventude na cidade de Zé Doca, no Maranhão. Assim como todos os jovens da cidade, ele acreditava que, em virtude das poucas oportunidades, os estudos eram a única saída para chegar ao lugar onde ele sonhava.

Rafael relembra que um certo dia, na faculdade, um professor o apresentou a oportunidade de trabalhar na Vale, como técnico em química. Naquele momento, teve que decidir entre continuar com a faculdade ou mudar para Parauapebas para trabalhar na mineradora.

Em 2012, ao chegar em Parauapebas, atuou por noves anos na Vale até que um dia o ciclo se fechou e decidiu empreender na cidade.

Abriu um restaurante especializado em cuscuz com uma visão sustentável, chamado Bello Cuscuz. “Construí um produto tão valorizado que muitos empresários vinham à minha procura para entender o que eu fazia para valorizar tanto um cuscuz. Nesse momento vi a necessidade de abrir uma agência de marketing”.

Rafael Castro chegou a Parauapebas com formação e migrou da mineração ao próprio negócio

Atualmente, ele é proprietário de uma agência de tecnologia e educação em Parauapebas que ajuda empresários no processo de conversão digital da empresa.

“Parauapebas representa toda minha jornada de empreendimento, sinônimo de prosperidade e sabedoria. É uma terra fértil onde tudo que você planta e cuida, prospera. Sou muito grato a Deus por ter me trazido a Parauapebas”, descreve.

 

Terra de oportunidades sob o signo dos trilhos

Parauapebas chega aos 37 anos como um mosaico de sonhos realizados e histórias entrelaçadas como a dos entrevistados que representam tantos outros maranhenses e demais moradores vindos de outros estados, que colocaram na bagagem coragem e o sonho de uma vida melhor. Muitos vieram encorajados por outros amigos que aqui já estavam e prosperavam. Ingredientes fundamentais para quem teve que se despedir da própria origem e da família.

O município que brotou entre trilhos e minério, hoje floresce com gente de fibra, e se o passado foi de luta, o futuro promete conquistas, assim acreditam os desbravadores.

Trem de passageiros da EFC é a principal porta de ligação entre Parauapebas e cidades do Maranhão

Linha de ferro da esperança

A Estrada de Ferro Carajás (EFC) foi inaugurada em 28 de fevereiro de 1985, com o objetivo principal de transportar minério de ferro das minas de Carajás.

A EFC inicia em Parauapebas, no estado do Pará, e termina em São Luís, no Maranhão. Mas também é um dos principais meios de transporte de passageiros que trafegam entre os dois estados.

Emancipação

Foi a partir da implantação do Projeto de Ferro Carajás que Parauapebas surgiu, primeiro como uma Vila chamada de Rio Verde. A partir do povoamento e crescimento da vila surgiu o movimento de emancipação, tendo em vista que ela era administrada por Marabá, e assim denominada de Parauapebas, que significa “Rio de Águas Rasas”.

A emancipação de Parauapebas foi um processo iniciado por volta de 1987 a 1988, vários fatos ocorreram que culminaram na emancipação, dentre eles, a falta do repasse mensal pela prefeitura de Marabá, de 10% dos impostos recolhidos pela Companhia Vale do Rio Doce, para o então povoado de Parauapebas. Esse fato deu início a um movimento que visava a elevação do povoado a município.

Foi marcado para o dia 24 de abril de 1988 um plebiscito para que a população manifestasse, com o voto, sua opinião a favor ou contra a emancipação. Com a participação de mais de 16 mil eleitores, o resultado foi de 99% de aprovação.  Em 10 de maio 1988, o governador do estado, Hélio da Mota Gueiros, sancionou a lei Estadual nº 5.443/88, que criou o município de Parauapebas. E no mês de outubro do mesmo ano, Faisal Salmen foi eleito o primeiro prefeito de Parauapebas.

A cidade, com menos de 40 anos de existência, tem boa estrutura para seus moradores

Mas foi na década de 60 que o geólogo Breno dos Santos descobriu a maior jazida de minério de ferro do mundo, na Serra dos Carajás, até então território de Marabá, e apenas em 1970 que o Projeto de Ferro Carajás começou a sua fase de instalação.

Em 1981, a Vale adquiriu a exclusividade de explorar minério de ferro, ouro e manganês no local, antes habitada por índios Xikrin do Cateté e remanescentes do ciclo da castanha.

(Theíza Cristhine)