Correio de Carajás

Paraenses ficam sem hemodiálise por falta de vagas em clínicas particulares

Dos 122 mil pacientes renais crônicos que necessitam fazer hemodiálise no Brasil, 100 mil se tratam em clínicas privadas que prestam serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS). No Pará, de acordo com a Associação dos Centros de Nefrologia do Estado do Pará (Paranefro), existem somente 13 clínicas privadas que ofertam o serviço pelo SUS e que não recebem pacientes que aguardam na fila de espera pelo tratamento devido à falta de reajuste no valor repassado pelo SUS para arcar com o tratamento nas clínicas. Enquanto isso, há mais de 100 pacientes renais crônicos sem receber o tratamento no Estado, aguardando por uma vaga em uma das clínicas.

A hemodiálise é um tratamento com terapia renal substitutiva para filtrar artificialmente o sangue. Sem o tratamento, o doente pode ter complicações de saúde e até morrer. Presidente da Paranefro e proprietário de clínicas de nefrologia, o empresário Eduardo Daher explica que o Estado conta com poucas clínicas que ofertam o serviço devido ao alto custo.

“É um problema que vem se agravando lentamente ao longo dos últimos 10 anos, porque o SUS repassa para as secretarias de saúde todo o custo. Só que hoje o tratamento está muito mais caro do que o valor pago pelo SUS às clínicas”, pontua o empresário. “Como as clínicas estão em situação difícil, não querem ampliar o número de atendimentos e cumprem apenas o número de contrato. Se trata 100 só recebe 100 pacientes”, ressalta.

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Daher diz ainda que, nos últimos três anos, pelo menos duas clínicas fecharam no Pará, por não conseguirem mais operacionalizar. “Existem muitos pacientes na fila de espera morrendo e pacientes internados nos hospitais, ocupando leitos para não perder a diálise, porque não conseguem vaga para se tratar nas clínicas”, pontua ele, acrescentando que, muitos pacientes percorrem longas distâncias, vindos do interior, para receberem o tratamento três vezes por semana, sobretudo na Região Metropolitana de Belém.

Grande parte dos insumos, como produtos e maquinários utilizados são importados, além de gastos trabalhistas, folha de pagamento, água, energia e impostos. Com todas essas despesas e a grave diferença de valor, a maioria das clínicas de diálise prestadoras de serviço ao SUS precisa recorrer a empréstimos bancários, conforme pontuou Daher. “O Pará tem um grande problema. Como não se faz prevenção na atenção básica da rede pública de saúde, acabam morrendo sem saber que tem o problema”, critica.

Espera por tratamento gera apreensão

Natural de Tomé-Açu, o estudante Felipe Nogueira dos Santos, 23 anos, aguarda há cerca de quatro meses por uma vaga para receber o tratamento de hemodiálise em uma das clínicas que prestam o serviço. Para não ficar sem o tratamento, o jovem, que também sofre de epilepsia, está internado no Hospital Ophir Loyola desde agosto passado. Mãe de Felipe, a professora Rosemeire Pantoja Nogueira, 47, doou um rim para o filho em 2010. Contudo, posteriormente ele apresentou problemas no rim transplantado e teve de retornar para o tratamento.

“Ele teve fibrose no rim transplantado. Fez tratamento e saiu de alta em abril. Os exames voltaram a apresentar alteração e em 13 de agosto internou no Ophir Loyola. Ele precisa fazer hemodiálise em um hospital com suporte porque ele tem epilepsia”, disse a mãe.

A reportagem do DIÁRIO contatou a assessoria de comunicação do Ministério da Saúde sobre o repasse do valor de custo do tratamento de hemodiálise para as clínicas que prestam o serviço pelo SUS. Porém, o MS informou que não seria possível responder a demanda ontem, pois precisam fazer um levantamento junto à área técnica para obter as informações.

(Pryscila Sores/Diário do Pará)