Em até quatro meses, o Pará pode ter, pela primeira vez, café de açaí regulamentado e liberado para ser vendido nos centros comerciais do estado. O prazo foi dado por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade do Estado do Pará (Uepa) e Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) durante uma reunião realizada na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) nesta terça-feira (18). O encontro contou, ainda, com a presença de representantes do setor produtivo e órgãos de fiscalização e controle. O objetivo foi acompanhar o andamento dos estudos.
As instituições estão empenhadas para encontrar as melhores formas de armazenamento para o produto, bem como certificar se, de fato, ele é próprio para o consumo humano. Isso porque a bebida é novidade e não tem histórico científico que garanta a segurança. Atualmente, os estudos estão voltados para a parte técnica e produtiva do café de açaí, momento em que os pesquisadores estão levantando dados para que tanto a produção em larga escala, quanto a artesanal, tenha o mesmo tipo de qualidade, atendendo a requisitos estabelecidos.
Nilton Muto, professor do Centro de Compostos Bioativos da Amazônia da UFPA e um dos pesquisadores envolvidos no trabalho, explica que a reunião foi de caráter a entrar no processo de certificação do café de açaí. Segundo ele, houve uma grande demanda da população para que o produto fosse legitimado e garantido como não prejudicial. “A garantia de que possa fazer mal, fazer bem, ainda não está certificada, baseada em dados científicos comprováveis, então, para que a gente possa fornecer esses dados, as universidades entraram em conjunto para trabalhar”.
Leia mais:A UFPA está responsável pela parte toxicológica do estudo, enquanto que a Uepa está encarregada na parte físico-química e a Ufra trabalha na questão microbiológica. “Como é um trabalho muito grande, seria difícil que somente uma instituição ficasse responsável por esse processo. Por isso, a gente resolveu, para dar uma celeridade maior na execução e na aprovação desses dados, dividir essas partes”, afirma. O contexto todo da análise conta, também, com a participação da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará).
Resultados
Alguns dados da pesquisa, que já animam os produtores, apontam para a melhor forma de condicionar o café de açaí. Diego Aires, professor da UEPA, destaca que muitos comerciantes sentiam falta de um armazenamento adequado, “então, a gente focou um pouco nesse lado para que pudesse fornecer esses dados das melhores condições de armazenamento do produto para eles. Mesmo sendo o produto torrado ou sem ser torrado, para que eles pudessem ter esses parâmetros melhor definidos. A partir dos produtores, os órgãos começaram a se unir”.
A expectativa é que o foco dos estudos seja voltado para as análises bioquímicas nas próximas semanas. Para isso, recursos financeiros devem ser liberados por instituições parceiras. “A gente pode dizer que já teremos os resultados em breve. Do ponto de vista que vemos hoje, acredito que em quatro meses vamos conseguir chegar na Adepará e demais órgãos para mostrar os dados técnicos. A partir disso, eles vão decidir dentro dos parâmetros que vamos fornecer. É um alento para os produtores”, acrescenta o pesquisador da Uepa.
Setor produtivo espera regularização
Orlando Nascimento da Silva, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Produtoras de Café de Açaí (Abica), relembra que, em março de 2022, o setor passou por grandes dificuldades quando um memorando da vigilância sanitária fechou as fábricas do Pará. “Um total de mais de cinquenta fabricantes foram retirados dos supermercados da Grande Belém e do interior. Com isso, prejudicou muito o nosso trabalho. Mais de mil pessoas ficaram desempregadas. Junto ao governo do estado estamos tentando regularizar primeiro o Pará, através da Adepará, e depois a nível nacional, pelo Mapa [Ministério da Agricultura e Pecuária]”.
(O Liberal)