Correio de Carajás

Pai de criança com TEA ensina o significado da paternidade presente

O advogado que mora em cidade diferente do filho, prova que ser pai vai muito além de pagar pensão

Pablo e o filho Pedro: a lição de paternidade de quem ama sem limites
Por: Angélika Freitas | Texto: da Redação

No Dia dos Pais, enquanto muitos homens se limitam a uma foto nas redes sociais e um “parabéns pelo meu dia”, o advogado Pablo Angelo Almeida Silva redefine o conceito de paternidade presente. Pai de Pedro, de 12 anos, que tem TEA (Transtorno do Espectro Autista), Pablo prova que a distância física não é impedimento para uma relação próxima, amorosa e participativa com o filho.

Morando em cidade diferente da mãe e do menino, Pablo mantém uma rotina de cuidado e atenção que envergonha muitos pais que vivem na mesma casa que os filhos. “Minha relação com ele é muito íntima e próxima com o Pedro. Mesmo eu não morando na mesma cidade que a mãe dele, mas a nossa relação é de proximidade, de companheirismo e estou sempre presente, não fisicamente, mas estou sempre mentalmente em contato”, conta o advogado em entrevista emocionante à TV Correio Marabá.

A história de Pablo e Pedro é um exemplo poderoso de como a paternidade consciente pode florescer mesmo diante dos desafios impostos pela distância e pelas especificidades do autismo. É também um retrato da luta diária de famílias atípicas contra o preconceito e pela inclusão social.

Leia mais:

O amor que transforma

Para Pablo, o garoto é muito mais que um filho – é um professor de vida. “O Pedro é bênção. Ele nos mostrou e mostra até hoje o sinônimo de amor, de resiliência. De cada dia ele falar uma palavra nova e a gente dar graças a Deus por isso”, relata o pai, com a voz embargada pela emoção.

O diagnóstico do TEA mudou completamente a dinâmica familiar. “Desde o nascimento dele que a gente teve o fechamento do diagnóstico, referente ao transtorno dele, a nossa vida mudou. Costumamos dizer até que quem é família atípica não para de estudar, porque como é um aprendizado todo dia”, explica Pablo.

Essa busca constante por conhecimento não é apenas uma necessidade prática – é uma forma de amor. Cada informação sobre o transtorno, cada estratégia aprendida, cada conquista celebrada representa o comprometimento de um pai que se recusa a ser apenas um provedor financeiro.

Presença

A rotina de Pablo desmente a ideia de que proximidade depende de geografia. Suas estratégias para manter-se presente na vida de Pedro são um manual de paternidade responsável: videochamadas diárias para saber sobre a escola e as terapias, visitas regulares nos finais de semana, férias programadas onde Pedro passa temporadas com o pai.

“Eu converso com ele quase todos os dias por videochamada. Pergunto como foi a aula, como foi a terapia, porque ele faz terapia todo dia. E quando eu tenho tempo de final de semana, eu vou lá e visito ele. Todas as férias de meio e final de ano ele passa com a gente aqui”, detalha Pablo.

Mas a presença vai além das conversas. Pablo acompanha cada aspecto da vida do filho: conversa com a cuidadora que acompanha Pedro na escola, mantém contato com médicos quando o menino adoece, participa do planejamento de viagens. “Eu tento de toda forma estar presente, tanto na aula dele, quando eu converso com a cuidadora que acompanha ele durante a aula, quando ele adoece, eu converso com o médico, quando ele vai viajar, eu verifico como é que vai ser essa viagem”, enumera.

Episódio marcante

Um episódio recente ilustra perfeitamente o tipo de pai que Pablo escolheu ser. Quando o professor de futebol de Pedro sugeriu que o menino não conseguiria praticar um esporte coletivo e deveria migrar para a natação, Pablo não hesitou em se posicionar.

“Quando a mãe dele me mandou essa mensagem, eu respirei e eu falei, não, vou dar uma respirada aqui e vou ligar pra ele. Foi quando eu liguei pra ele e expliquei a situação e que realmente, será que ele seria um profissional por achar que o esporte não seria um meio de inclusão social?”, relata Pablo.

A conversa com o professor foi firme e educativa. Pablo questionou a postura excludente e defendeu o direito do filho à inclusão. “Falei assim: não, ele vai continuar no futebol. Talvez vocês precisem de se profissionalizar, vocês precisam buscar, verificar, acolher principalmente, mas dizer que ele não tem condição de praticar um esporte coletivo, então você não está sabendo a sua função como instrumento no meio da sociedade”, conta.

O resultado? Pedro continuou no futebol, e um profissional aprendeu sobre inclusão. “Tentando ser presente mesmo (fisicamente) estando ausente”, como define o próprio Pablo.

A crítica necessária

A experiência de Pablo o credencia a fazer uma crítica contundente à paternidade ausente que ainda é comum na sociedade brasileira. “Eu acredito que os pais hoje em dia não têm essa proximidade com os filhos estando morando na mesma cidade. Estando morando no mesmo bairro, estando morando, às vezes, é vizinho da mãe do filho e não vai lá visitar o filho”, observa.

O advogado critica especialmente a paternidade performática das redes sociais: “E no dia dos pais, vai lá e posta o filho. Parabéns pelo meu dia e foto com o filho. Mas o dia a dia é totalmente diferente”.

Para Pablo, o maior erro dos pais é “achar que só pagar a pensão alimentar resolve a situação”. Ele lembra que “na maioria das vezes a pensão não cobre quase nada” e defende que os pais deveriam “começar a ser mais presente na vida dos filhos, verificar o que tá acontecendo na escola, no dia a dia, o que tá precisando”.

A luta diária

Ser pai de uma criança com TEA significa também ser um militante diário contra o preconceito. “A gente luta muito durante o dia, a gente milita mesmo em relação ao preconceito, a falta de inclusão social”, conta Pablo.

Essa militância não é apenas teórica – é prática e necessária. O episódio do futebol é apenas um exemplo de como famílias atípicas precisam constantemente educar a sociedade sobre inclusão e direitos. Pablo entende que seu papel vai além de ser pai: é também ser um agente de transformação social.

O presente que vale mais

Quando perguntado sobre qual seria seu presente ideal para o Dia dos Pais, Pablo não hesita: “Estar com o Pedro”. A resposta simples revela a essência de sua paternidade – a presença, o tempo compartilhado, o amor vivido no cotidiano.

Mesmo sabendo que não passará o Dia dos Pais com o filho, Pablo demonstra uma serenidade que vem da certeza do dever cumprido: “Infelizmente, eu não vou estar com ele, só que eu não tô triste, porque a minha parte eu sempre fiz. Então, não é um dia dos pais que eu não irei passar com ele, que eu vou achar que eu não estou sendo um pai presente”.

A história de Pablo Angelo e Pedro oferece lições valiosas sobre paternidade no século XXI. Primeiro, que presença não se mede em metros, mas em atenção, cuidado e participação ativa na vida dos filhos. Segundo, que ter um filho com necessidades especiais não é uma limitação, mas uma oportunidade de crescimento e aprendizado mútuo.

Terceiro, que ser pai significa também ser um defensor dos direitos dos filhos, um educador da sociedade e um agente de inclusão. Quarto, que a paternidade verdadeira exige estudo, dedicação e disposição para sair da zona de conforto.

Por fim, Pablo nos ensina que “os filhos sentem uma proximidade junto ao pai, a presença paterna faz totalmente diferença na criação do filho”. Sua relação com Pedro prova que essa presença pode ser construída e mantida mesmo à distância, desde que haja amor, comprometimento e a disposição de fazer da paternidade uma prioridade diária.