Correio de Carajás

Padre viúvo e avô celebra casamento do neto em Porto Alegre

Paulo Müller foi ordenado padre anos após a morte da esposa, com quem teve quatro filhos. Ânderson e Rafaela Müller estão juntos há nove anos. 'Ele ficou super feliz', diz neto.

Um avô participar do casamento do neto é uma cena mais do que comum em diversas famílias. Contudo, na união de Ânderson com Rafaela, realizada no dia 14 de maio, em Porto Alegre, o avô estava no altar ao lado dos noivos, e não como padrinho: ele era o padre.

Paulo Müller, de 85 anos, é um dos padres auxiliares na Catedral São Luiz Gonzaga, de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana. O religioso foi ordenado em 1992, cerca de quatro anos depois do falecimento da esposa, Lizzete, com quem foi casado por 29 anos.

Da relação anterior ao sacerdócio, Paulo teve quatro filhos. Entre os quatro netos, está o engenheiro químico Ânderson Martins Müller, de 31 anos, que vive em Estância Velha, também na Região Metropolitana.

“Foi uma coisa maravilhosa. Quase ninguém tem essa oportunidade que eu tive”, comenta o padre.

 

Ânderson e Rafaela com o avô na festa de casamento — Foto: Fernando Lacerda/Divulgação
Ânderson e Rafaela com o avô na festa de casamento — Foto: Fernando Lacerda/Divulgação

Ânderson namorava a médica Rafaela Pilla Muccillo Müller, de 30 anos, há nove anos. O casal planejava formalizar a união desde 2019, marcando a cerimônia para outubro de 2020. Entretanto, a pandemia atrasou os planos.

“Naturalmente, a gente teve que ir postergando. A data de sábado (14 de maio) foi a nossa quarta e última”, comenta Ânderson.

A ideia dos noivos era realizar uma celebração ecumênica, fora da igreja. No entanto, os pais de Ânderson e Rafaela sugeriram a realização de um casamento religioso, o que levou ao convite para o padre e avô.

“No começo da cerimônia, o vô comentou que algumas músicas que a gente tinha selecionado para entrar foram músicas que tocaram no casamento dele. Para ele, teve lembranças”, conta o neto.

A celebração foi realizada na Igreja Santa Teresinha, em Porto Alegre, bairro onde vive a família da noiva. Segundo Ânderson, o avô seguiu os ritos católicos, como a preparação dos noivos.

“Ele é uma das poucas pessoas que podem falar que já estiveram dos dois lados da mesa”, brinca Ânderson.

 

Paulo diz considerar três pontos fundamentais para o bom relacionamento entre casais.

“Muito amor, bastante amor, um caminhão de amor pelas pessoas. Segundo: fidelidade. O máximo de fidelidade para não trair aquela pessoa, para ela não se sentir frustrada pelo compromisso que assumiu. A terceira é a caridade entre o casal, parceria”, defende.

O padre Paulo deu lugar ao avô, horas depois, na festa dos noivos. “O vô era o astro”, conta o neto. A presença, todavia, foi rápida. No dia seguinte, o religioso deu início a um período de retiro com colegas da Diocese de Novo Hamburgo.

Casamento celebrado pelo avô do noivo ocorreu em 14 de maio de 2022 — Foto: Fernando Lacerda/Divulgação
Casamento celebrado pelo avô do noivo ocorreu em 14 de maio de 2022 — Foto: Fernando Lacerda/Divulgação

Sacerdócio após o casamento

 

Padre Paulo relata que, já na infância, gostava da função religiosa. No entanto, depois do serviço militar, deixou de cogitar a possibilidade de seguir a vocação. Foi naquela época, na década de 1950, que conheceu a esposa em uma cafeteria.

“Na primeira vez que eu vi ela, [disse]: ‘pois é, dona Lizzete, eu vou lhe dizer uma coisa com toda a coragem, a senhora vai ser a mãe dos meus filhos’. Ela ficou escandalizada com aquilo”, recorda.

 

Paulo diz que, mesmo casado, lia a Bíblia e cumpria os sacramentos católicos. Depois de 29 anos de relação, Lizzete faleceu. Buscando amparo, o futuro padre decidiu participar das atividades da igreja, sendo catequista, ministro da eucaristia e, depois, diácono.

“Três dias depois do sepultamento dela, eu procurei a igreja para me envolver em alguma coisa”, conta o religioso.

Depois de atender um sepultamento em que os familiares do falecido cobraram a presença de um padre, o então diácono decidiu ir para o seminário. O bispo de Novo Hamburgo na época, dom Boaventura Kloppenburg, levou o pedido de Paulo para o Vaticano, que autorizou a formação do religioso.

Padre Paulo Müller sendo ordenado em 1992 — Foto: Diocese de Novo Hamburgo/Divulgação
Padre Paulo Müller sendo ordenado em 1992 — Foto: Diocese de Novo Hamburgo/Divulgação

História curiosa

 

Ânderson não chegou a conhecer a avó, que morreu anos antes de seu nascimento. Ainda assim, ele lembra das histórias de cumplicidade entre ela e o avô que sempre ouviu do pai. Na cerimônia, o padre Paulo ressaltou a importância de respeito, igualdade e parceria necessários para a vida de um casal.

“Ele tentou passar muito dessa parte de cumplicidade, até porque o vô e a vó eram pessoas muito apaixonadas um pelo outro”, destaca Ânderson.

 

Nascido um ano antes do ordenamento de Paulo, Ânderson afirma que sempre tratou com naturalidade a vocação do avô, mesmo quando havia o estranhamento por parte de outras pessoas.

“Eu dizia: ‘meu vô é padre’, e as pessoas achavam estranho. Mas, para mim, sempre foi uma coisa natural, muito embora pouco comum”, relata.

(Fonte:G1)