Correio de Carajás

Padre italiano Robertinho completa 30 anos de missão solidária no Brasil

"Tenho sobrenome italiano, cultura italiana, mas o meu coração é brasileiro. Aqui eu não me sinto estrangeiro", diz o padre Robertinho/ Fotos: Ronaldo Modesto
Por: Texto: Theíza Cristhine | Colaboração: Ronaldo Modesto
✏️ Atualizado em 17/07/2025 14h35

Há 30 anos, um sonho atravessou o oceano e se firmou no sudeste do Pará. O protagonista dessa história é o padre italiano Roberto Sibani, carinhosamente chamado de padre Robertinho, que se apaixonou pelo povo brasileiro e decidiu fazer da solidariedade o caminho mais concreto de evangelização. Desde então, já são 72 projetos sociais realizados em cidades como Parauapebas, Curionópolis, Marabá e Belém, com apoio de voluntários e da generosidade de comunidades da Itália.

Tudo começou de forma modesta, com a construção da casa da Pastoral da Saúde, viabilizada com a ajuda de bispos italianos. Faltava tudo: do mobiliário aos recursos para iniciar os trabalhos. Foi então que o padre organizou, ainda na Itália, um pequeno mercadinho, o primeiro bazar solidário, para arrecadar fundos. De lá para cá, a iniciativa virou tradição e passou a acontecer todos os anos.

“São coisas incríveis dessa caminhada que se chama Caminho de Fraternidade. Os sonhos se transformaram em realidade”, diz emocionado o padre, que hoje tem 70 anos e passa dois meses por ano no Brasil. O restante do tempo dedica à organização dos bazares em sua terra natal, onde também cuida da mãe de 91 anos. “A primeira caridade é por ela. Eu não posso abandoná-la”.

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Fraternidade que constrói

Em três anos, o Caminho da Fraternidade ajudou a construir 44 casas populares em Curionópolis, com o envolvimento direto das famílias beneficiadas. “Na nossa mentalidade, a família deve participar trabalhando”, explica. Com o apoio de uma associação italiana, voluntários também vieram ao Brasil para colocar a mão na massa.

Uma das histórias marcantes aconteceu em Parauapebas, onde 150 famílias viviam esquecidas em casas de madeira e chão batido. Com união e solidariedade, foi construída uma passarela de 300 metros e foram pintadas as moradias. Tudo foi feito em um mês. “Depois, houve um incêndio que destruiu tudo, mas o espírito de reconstrução permaneceu”, relembra.

Mesmo com tantos avanços, o padre reconhece que ainda há muito a fazer. “Muita coisa melhorou, mas a fome ainda é muito grande. E os voluntários têm sido menos numerosos nos últimos anos”, lamenta.

Evangelização com amor e ação

Para o religioso, evangelizar vai muito além de rezar missa. É olhar nos olhos dos esquecidos. “Eu sempre me pergunto: se Jesus chegasse em Parauapebas, onde ele iria? Não iria apenas à igreja, mas às praças, aos hospitais, aos barracos. Se ele ia fazer isso, eu também devia fazer”, declara.

Essa é a inspiração que move seus passos: uma fé que age, serve e escuta. “Ajudar com as necessidades básicas também é evangelizar. As pessoas se sentem amadas. Eu não fico olhando se a pessoa é católica. Eu olho para quem precisa de ajuda”.

Um coração brasileiro

Nascido na cidade de Ferrara, na Itália, Padre Robertinho teve uma infância simples. Desde cedo, se encantou com a vida religiosa e dizia que queria “ser luz na vida das pessoas”. Seus pais não apoiaram de imediato sua decisão de entrar para o seminário, mas ele seguiu firme, movido pela vocação.

Hoje, após mais de quatro décadas como padre, ele afirma com convicção: “Tenho sobrenome italiano, cultura italiana, mas o meu coração é brasileiro. Aqui eu não me sinto estrangeiro”.

O trabalho missionário também leva jovens brasileiros para a Itália, onde passam uma temporada de três meses no continente europeu, não como turistas, mas como voluntários que ajudam a preparar o bazar. Essa experiência já é realizada há 17 anos. Todo dinheiro arrecadado na venda do bazar é revertido em paróquias e obras sociais dos municípios de Parauapebas, Curionópolis, Marabá e Belém. “Hoje está mais difícil vender, mas seguimos”, confidencia o padre.

Uma vida dedicada a servir

Além da Pastoral da Saúde, a missão do Padre Robertinho já beneficiou dezenas de instituições e comunidades, como APAEs, centros comunitários, movimentos sociais e pastorais da criança e da juventude. Projetos como esses salvaram vidas e abriram novos caminhos para crianças, jovens e famílias inteiras.

“Se encontrei aquela pessoa, é porque tem um motivo. É porque posso fazer algo por ela, ao menos tento”, resume o padre, com a humildade de quem acredita que amar é agir.

No último dia 26, uma missa celebrada na Igreja São Francisco homenageou os 30 anos dessa missão transformadora. E, enquanto houver alguém precisando de ajuda, Padre Robertinho continuará servindo com fé, com amor e com o coração completamente brasileiro.