Correio de Carajás

Padre Airton é denunciado por crimes sexuais

Defesa do padre nega as acusações. Vítimas dizem ter sido levadas para uma 'casinha' na Fundação Terra, onde aconteciam os abusos.

Foto: Reprodução/Instagram

O Ministério Público de Pernambuco informou que ofereceu denúncias à Justiça nos dois inquéritos concluídos sobre crimes sexuais praticados pelo Padre Airton Freire e funcionários, na Fundação Terra. Há cinco investigações abertas sobre estupros e outros crimes, de acordo com a Polícia Civil. Uma delas, que foi concluída, é o da personal stylist Silvia Tavares, que levou o caso a público em maio.

Padre Airton Freire foi denunciado por cinco pessoas por abusos que teriam sido praticados com a ajuda de funcionários. Nesta quinta-feira (27), um desses funcionários, Landelino Rodrigues da Costa Filho, foi preso em Garanhuns, no Agreste. Ainda está foragido o motorista Jailson Leonardo da Silva.

A investigação do caso foi intitulada Operação Amnom. O religioso está preso preventivamente e internado em estado grave, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital no Recife, com “princípio de acidente vascular cerebral (AVC)”. A defesa dele nega as acusações.

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Na quarta-feira (26), a Polícia Civil informou que concluiu dois dos cinco inquéritos e que indiciou quatro pessoas nesses dois procedimentos. Esses indiciamentos foram remetidos ao Ministério Público. Os indiciados são:

  • Padre Airton Freire: teria abusado e ordenado abusos contra vítimas (preso);
  • Landelino Rodrigues da Costa Filho, de 34 anos: trabalhava com comunicação e era responsável pela filmagem e gravação das missas e dos eventos (preso nesta quinta-feira).
  • Jailson Leonardo da Silva: motorista suspeito de estuprar a personal stylist Silvia Tavares, que levou o caso a público (foragido);
  • Motorista indiciado por falso testemunho: segundo a polícia, o nome não foi divulgado porque não há mandado de prisão contra ele.

 

O MPPE não informou quais desses quatro homens foram denunciados, nem quais os crimes pelos quais eles respondem. O processo, que corre em segredo de Justiça, agora segue para o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), que decide se aceita a denúncia e leva adiante.

O Ministério Público também disse que as medidas cautelares em vigor “visam assegurar o ambiente adequado para elucidação dos graves fatos apurados e para resguardar a instrução criminal, assegurando a livre produção de provas, especialmente em processos que, pela natureza dos ilícitos, produzem inequívoca vulnerabilidade em vítimas e testemunhas”.

Defesas

 

Sobre a denúncia do MPPE, os advogados do Padre Airton disseram que ele é inocente e afirmaram que não tiveram à denúncia do Ministério Público divulgada via imprensa. Também disse o seguinte:

  • Que existem provas técnicas e testemunhais que atestam que o Padre Airton é inocente;
  • Que as provas “não podem ser ainda reveladas pelo fato de as investigações estarem sob segredo de Justiça”.
  • Que nem a Polícia Civil nem o MPPE se pronunciaram sobre “tentativa de extorsão praticada por uma das supostas vítimas contra o padre Airton”;
  • Que a prisão preventiva “fere a legislação brasileira e o direito internacional” porque o religioso “nunca tentou impedir as investigações, não coagiu testemunhas, nunca representou ameaça de cometimento de crimes e se apresentou espontaneamente à Justiça”.

 

A defesa de Landelino Rodrigues, preso nesta quinta-feira, disse que “todos os fatos alegados serão, em momento oportuno, devidamente esclarecidos durante a instrução processual”. Afirmou, sobre a prisão, que “se trata de uma privação de liberdade descabida, que viola as garantias fundamentais elencadas na Constituição Federal”.

A defesa também afirma que o homem preso é inocente “e não representa ameaça alguma para as supostas vítimas, tampouco para o transcurso do processo penal. No decorrer da instrução processual, a verdade será revelada e sua inocência, comprovada”.

Já os advogados de defesa de Jailson Leonardo da Silva afirmam que o motorista “não possui histórico de qualquer conduta criminosa” e que, por isso, “a defesa está trabalhando na revogação da decretação de sua prisão preventiva pois entende ser essa totalmente infundada e desproporcional”

Também disseram que é “absurdo esperar que alguém acusado injustamente de um crime gravíssimo e altamente estigmatizante se entregue espontaneamente ao presídio, onde se sabe o risco inclusive de vida que ele pode sofrer, principalmente quando há provas de sua inocência nos autos que estão sendo completamente desconsideradas”.

Ainda segundo a defesa, Jailson “está fazendo uso de suas garantias fundamentais em não se render”.

Por fim, a defesa também diz que o indiciamento não significa culpa ou condenação criminal transitada em julgado. “É direito natural do ser humano lutar por sua liberdade, inocência e justiça, e neste caso, tudo está sendo feito conforme a lei”, afirma.

Relembre o caso

 

  • Em maio, a personal stylist Silvia Tavares veio a público denunciar ter sido estuprada pelo motorista Jailson Leonardo da Silva, de 46 anos, a mando do Padre Airton, que, segundo ela, se masturbava vendo o abuso. O crime, segundo ela, aconteceu no dia 18 de agosto de 2022.
  • A igreja, então, suspendeu Padre Airton das atividades religiosas. Padre Airton também pediu afastamento da presidência da Fundação Terra e disse que as acusações são falsas.
  • O motorista Jailson Leonardo da Silva também se disse inocente, alvo de “denúncias fantasiosas”.
  • Dois meses depois disso, Padre Airton foi preso preventivamente em Arcoverde.
  • O Ministério Público, então, informou que havia cinco inquéritos abertos, e que outras vítimas além de Silvia Tavares tinham sido identificadas.
  • Uma delas é um ex-funcionário do padre, que afirmou ter sido dopado e ter acordado só de cueca numa cadeira. Ele também disse que os abusos eram frequentes.
  • Uma terceira pessoa foi uma mulher que diz ter sido vítima um ano e meio antes do suposto estupro de Silvia Tavares. Ela afirma que conseguiu escapar. ‘Toda vez que eu olho para um padre, vejo Padre Airton se masturbando’, disse.
  • Silvia Tavares disse que, depois da denúncia, começou a receber ameaças de morte de seguidores de Padre Airton.
  • A Polícia Civil indiciou o padre e mais três pessoas e concluiu dois inquéritos sobre o caso.
  • Uma das pessoas indiciadas, Landelino Rodrigues da Costa Filho, foi preso em Garanhuns, no Agreste. Landelino, que estava foragido, trabalhava com comunicação e era responsável pela filmagem e gravação das missas e dos eventos.

(Fonte:G1)