Correio de Carajás

Pacajá: Testemunha do caso de Padre Amaro é morta

Assassinato de Marcio Rodrigues precisa ser devidamente esclarecido, dizem CPT e SDDH. (Foto: Arquivo/CPT)

Marcio Rodrigues dos Reis, de 33 anos, pai de quatro filhas, foi assassinado na noite do último dia 4, em uma estrada vicinal entre os municípios de Anapu e Pacajá. Ele estava trabalhando como mototaxista e foi chamado para levar um passageiro na zona rural. Antes de chegarem ao suposto destino, o passageiro – que, na verdade, era um assassino – desferiu um golpe de faca em seu pescoço, Marcio não teve como reagir e teve morte instantânea. Seu corpo foi localizado por pessoas que trafegavam pela vicinal e avisaram a Polícia Civil de Pacajá. Para os movimentos sociais que utam pela reforma agrária na região, há muita coisa por trás deste assassinato.

Em nota enviada à Imprensa, a Coordenação Estadual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) relatam que Marcio fez parte, em 2016, de um acampamento de famílias sem-terra que reivindicavam serem assentados na fazenda Santa Maria, lote 44 da Gleba Bacajá. O INCRA de Altamira ingressou com uma ação judicial com o objetivo de arrecadar o imóvel alegando ser terra pública federal, ilegalmente ocupada por um fazendeiro. Começava ali uma guerra judicial.

Em 2017, por conta dessa luta pela posse da terra, Marcio foi preso sob a acusação dos crimes de esbulho e posse de arma. Em ato contínuo o Padre Amaro foi acusado de estar comandando a suposta ocupação da Fazenda Santa Maria. Dezenas de fazendeiros compareceram à delegacia de polícia e prestaram depoimento à polícia para também acusarem padre Amaro por todas as ocupações de terras ocorridas em Anapu. Com base nessas declarações, Amaro foi preso no dia 27 de março do ano passado.

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Por outro lado, Marcio sempre testemunhou a favor do padre e permaneceu preso na Penitenciária de Altamira por mais de nove meses, sendo colocado em liberdade em dezembro daquele ano. Marcio foi solto, mas em abril do ano passado acabou preso novamente porque a polícia apreendeu uma espingarda na casa dele. Todavia cinco meses depois a Justiça de Anapu reconheceu que não havia provas para manter a acusação do crime de esbulho contra Marcio e o absolveu.

Em liberdade, mas, ameaçado de morte, Marcio foi aconselhado a sair de Anapu. Passou então quase um ano residindo fora do município, mas, devido às relações familiares construídas em Anapu e para manter sua profissão de mototaxista, decidiu retornar alguns meses atrás. Achava que não corria mais risco. Mas, acabou assassinado.

Segundo os movimentos sociais, com a morte de Marcio, completam 15 assassinatos de trabalhadores ocorridos em Anapu, desde o ano de 2015. “Após intensa pressão, a Polícia Civil de Anapu instaurou inquéritos para apurar os 14 homicídios até então ocorridos. Até o início de 2019, apenas dois casos tinham resultado em uma ação penal, e outros três houve apenas indiciamento de algum acusado e nos outros nove os inquéritos sequer foram concluídos. Em todos eles, apenas um caso, teve mandante identificado e preso”, denunciam.

Para a CPT e SDDH, o que se percebe é que em Anapu existe uma milícia rural composta por pistoleiros, organizada por madeireiros e grileiros de terras públicas. Quem contraria seus interesses está sentenciado à morte. “Com medo, muitas lideranças já saíram de Anapu, outras têm medo de denunciar os crimes temendo ser a próxima vítima. Enquanto isso, a grilagem e o desmatamento avançam sobre as áreas de assentamento criados”, denuncia o documento.

“O assassinato de Marcio dos Reis precisa ser rapidamente esclarecido, os indícios apontam para mais uma execução a mando dos grileiros e madeireiros de Anapu, caberá à Secretaria de Segurança Pública do Estado, e não a Polícia Civil de Anapu, esclarecer qual foi realmente a causa e os responsáveis pelo assassinato de mais esse trabalhador. O crime não pode ficar impune”, conclama trecho final da nota. (Chagas Filho)