A busca incansável pelos padrões de beleza se tornou uma jornada incessante para muitos indivíduos. Influenciados por uma cultura que exalta a magreza e a perfeição física, muitos se veem mergulhados em um ciclo interminável de dietas, exercícios extenuantes e até mesmo o uso de substâncias que prometem resultados rápidos e eficazes, como o Ozempic. Em decorrência da nova “moda” entre a população, a medicação, inclusive, teve um aumento considerável nas farmácias de Marabá.
O culto à magreza tem conduzido muitas pessoas a medidas extremas, incluindo o abuso do uso de tais medicamentos. Entre as substâncias, os análogos de GLP-1, como o Ozempic, Saxenda e Implic, ganharam popularidade, muitas vezes de forma indiscriminada e sem a devida orientação médica.
Para entender exatamente do que se trata o famosinho da vez, a reportagem deste CORREIO conversou com a endocrinologista marabaense Alana Ferreira. Segundo a médica, embora estudos desde 2017 tenham mostrado resultados significativos para pacientes com obesidade e diabetes tipo 2, o uso sem critério tem gerado uma série de efeitos colaterais preocupantes.
Leia mais:“Náuseas, vômitos, constipação intestinal e diarreia são apenas alguns dos sintomas que podem surgir com o uso inadequado desses medicamentos”, conta.
LEI DA OFERTA E DA PROCURA
Outra consequência deste cenário é o aumento dos preços dessas medicações nas farmácias, devido à alta demanda. É a simples Lei da Oferta e da Procura: fenômeno que determina os preços dos produtos no mercado. Basicamente, quando há muita oferta, os preços diminuem, e quando há muita procura por um produto e escassez do mesmo, os preços sobem.
Fazendo uma breve pesquisa por cinco farmácias dos núcleos Nova Maraba e Cidade Nova, a reportagem descobriu que o mg do Ozempic varia de R$900 a R$1300. Em algumas farmácias se quer foi possível encontrar o medicamento. A demanda é alta.
Vale ressaltar que não é necessária receita para comprar o remédio.
CONTRAINDICAÇÕES
Alana frisou a importância de alertar os pacientes sobre o uso responsável dessas medicações e a necessidade de uma abordagem individualizada no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2. Sem essa abordagem, os pacientes correm o risco de não obter os resultados desejados e enfrentar efeitos colaterais indesejados.
Para ilustrar os desafios enfrentados por aqueles que buscam uma solução rápida para a perda de peso, duas usuárias do medicamento foram entrevistadas.
Juliana França, de 36 anos, decidiu experimentar o Ozempic na esperança de estabilizar seu peso, embora não tivesse diabetes ou obesidade diagnosticada: “Assim que eu comecei a tomar passei a ter náuseas intensas, perda de apetite, dores de cabeça e tonturas, o que me deixou incapaz de realizar suas atividades diárias normalmente”, conta.
Apesar dos resultados iniciais, os efeitos colaterais persistentes a levaram a suspender o tratamento.
Cleudiane Silva, aos 47 anos, também recorreu ao Ozempic em busca da perda de peso, mesmo sem o diagnóstico de diabetes tipo 2 ou obesidade. Inicialmente, ela estava otimista, mas logo começou também a enfrentar episódios frequentes de náuseas, vômitos e uma erupção cutânea persistente e desconfortável.
SAIBA MAIS
A Reportagem do CORREIO apurou que, em grande parte das redes farmacêuticas de Marabá, o Ozempic está em falta ou disponível em poucas unidades. Uma atendente de uma das redes na Folha 28, que preferiu não se identificar, informou que, frequentemente, há grande busca pelo medicamento — o que faz com que ele se esgote rapidamente nas lojas.
OMS alerta sobre aumento de falsificações do remédio
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta, nesta segunda-feira, sobre a escassez dos remédios chamados de agonistas de GLP-1 – como a semaglutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy – e o consequente crescimento de versões falsificadas dos medicamentos. No Brasil, um novo lote falso foi identificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) neste mês, segundo a plataforma de consulta a produtos irregulares do órgão, o MP5A064 com o idioma da embalagem em espanhol.
“A escassez tem um impacto negativo no acesso a produtos médicos e cria um vácuo que é muitas vezes preenchido por versões falsificadas. No ano passado, a escassez global de produtos indicados para controlar o diabetes tipo 2 e, às vezes, também aprovados para perda de peso, conhecidos como produtos agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1-RA), foram associados a um aumento nos relatos de GLP-1-RA falsificado”, diz o comunicado.
Ambos os medicamentos, produzidos pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, têm uma alta demanda global devido ao efeito inédito da molécula na perda de peso. O Wegovy, por exemplo, que é a versão da semaglutida aprovada pelas agências reguladoras para tratar a obesidade, tinha a previsão de chegar ao Brasil no ano passado, o que não aconteceu.
Paralelamente, são muitos os relatos que ganham destaque na mídia de pessoas que adquiriram produtos que pensavam se tratar da semaglutida, mas na verdade eram outra substância. Em outubro do ano passado, a autoridade sanitária da Áustria emitiu um alerta após diversas pessoas terem sido hospitalizadas no país com quadros graves de hipoglicemia e convulsões.
“Estas versões falsificadas são frequentemente vendidas e distribuídas através de meios de comunicação não regulamentados, incluindo plataformas de redes sociais. (…) Sabe-se que os produtos médicos falsificados não têm eficácia e/ou causam reações tóxicas. Não são aprovados nem controlados pelas autoridades competentes e podem ter sido produzidos em condições pouco higiênicas por pessoal não qualificado, conter impurezas desconhecidas e podem estar contaminados com bactérias”, continua a OMS.
Lotes falsos no Brasil
A organização orienta que os pacientes comprem os medicamentos por meio de fornecedores autorizados e regulamentados, como farmácias legítimas, e que não considerem “fontes secundárias”. É o que recomendam também a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) que, como mostrou reportagem do GLOBO, já identificaram a circulação de unidades falsas do Ozempic no Brasil e têm acompanhado a situação de perto.
Oficialmente, no ano passado, a Anvisa alertou sobre dois lotes de Ozempic falsificados, o MP5C960 e o LP6F832, identificados pela Novo Nordisk e repassados para a agência em junho e outubro. Mas já neste ano, segundo a plataforma de consultas da autarquia, um novo lote foi detectado, no último dia 11. Trata-se do MP5A064, com prazo de validade para outubro de 2025 e idioma da embalagem em espanhol. (Fonte: oglobo.com)
Palavra de especialista: Falta fiscalização
“Essas medicações são indicadas para o manejo de diabetes e obesidade, e essa abordagem é realizada em um contexto em que o paciente não respondeu à mudança de estilo de vida e requer o tratamento farmacológico. Acredito que o que está faltando no Brasil é uma fiscalização mais adequada em relação à venda dessas medicações nas farmácias. Me parece que esse monitoramento é superficial e o uso está sendo feito em alta quantidade. Muitas vezes, a utilização é realizada pelo paciente sem orientação médica. A partir disso, podemos ter um risco maior de efeitos adversos. O uso sem indicação médica pode aumentar o risco de problemas de saúde, temos que levar isso em conta como qualquer outra medicação para qualquer outra doença não é só para obesidade.” – Fernando Gerchman, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e metabologia
(Thays Araujo e Mila Andrade)