Correio de Carajás

“Os próximos dias serão muito turbulentos na economia”, alerta economista da Unifesspa

Para Giliad Silva, especialista da Unifesspa, um conjunto de fatores desenha a atual realidade econômica do Brasil

Com o aumento generalizado dos preços – de alimentos e combustíveis, principalmente – o brasileiro começou a sentir no bolso o peso dessa situação de vulnerabilidade que o Brasil, e o mundo, enfrentam atualmente.

Segundo o professor de Economia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Giliad de Souza Silva, o atual momento da econômica é uma combinação de três fatores: pandemia, guerra na Ucrânia e política econômica interna do Brasil.

Em entrevista ao CORREIO nesta terça-feira, 22, Giliad ressaltou que ainda hoje a população mundial sente os efeitos da pandemia na economia, e o principal deles é a desestrutura na cadeia global de valor. “O Brasil, por exemplo, é um importante produtor de soja. Mas, para produzir soja precisa ter fertilizantes agrícolas, e o Brasil não produz fertilizantes, é preciso importar. Essa cadeia global unifica os países, e cada país tem uma especialização. A pandemia produziu uma forte desestruturação das cadeias globais, tanto nos alimentos, como nos produtos da construção civil e energia”.

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Giliad explica que a guerra entre Rússia e Ucrânia também afeta diretamente a economia, principalmente em produtos específicos, como os fertilizantes. Os dois países são os principais produtores do mundo.

“E o terceiro ponto, que de algum modo é fruto desse arranjo, é a política econômica interna do Brasil, que de alguma forma tem colaborado com o aumento dos preços. O fato de estabelecer uma política de preços para os combustíveis, tem facilitado o aumento suscetível do produto. Além de não ter uma política de abastecimento para lidar com a escassez”, alerta.

Para o professor e atual coordenador do Laboratório de Contas Regionais da Amazônia (Lacam), da Unifesspa, os próximos dias serão muito turbulentos por conta do conflito na Ucrânia, que afeta diretamente dois grandes comodities: o petróleo (combustível) e os fertilizantes (alimentos).

“Vamos sentir isso diretamente no nosso bolso, porque vai aumentar o preço do combustível, alimentos, pão. É uma reação em cadeia. O cenário que está colocado é bastante nebuloso, instável”, avalia, explicando que até o momento não está certo que haverá arrefecimento nos preços dos combustíveis, nas comodities que o Brasil consome e precisa importar, e isso significa que a população irá sentir no bolso.

Além do Lacam, a Unifesspa possui o Laboratório de Inflação e Custo de Vida (Lainc) em segundo Giliad, pesquisas apontam que somente nos três primeiros meses de 2022, o combustível em Marabá, mais especificamente a gasolina, chegou a 13% de aumento.

ESTÍMULO DE RENDA

“Em um contexto de grande instabilidade, a gente deveria ter boas políticas econômicas, no sentido de suavizar os impactos dela, como atuar na direção contrária. Se você está em um processo de perda de renda porque está tendo um aumento de preços, seria importante atuar de forma inversa. Tentar fazer uma política de estímulo de renda, e não é esse desenho que está posto”, lamenta.

Contudo, o professor afirma que é possível perceber setores que seguraram a econômica brasileira. E o estado do Pará tem contribuído muito pra isso. A mineração não teve uma desaceleração na sua produção, mesmo nesse desajuste da cadeia global de valores.

“O setor da construção civil não só se manteve, como conseguiu conviver tranquilamente com o aumento dos preços dos insumos. É um segmento que consome muito. Percebemos também que o setor de venda de automóveis não teve uma queda substancial, como veículos usados. O recorte da população é parecido, desde os que realizam uma reforma ou construção, e aos que vão comprar um automóvel usado. Isso de fato é perceptível a olho nu”.

 

“A pandemia acelerou o desemprego”, diz professor

 

Ao Correio, o professor e economista Giliad Silva explica que a pandemia acelerou um processo que já vinha desde 2017, que é a redução da população com emprego de carteira assinada. O número de autônomos cresceu consideravelmente. Contudo são os que mais sofrem com os impactos da economia.

“Em 2020, em Marabá, um terço da população recebeu o auxílio emergencial. No Estado, foram quase 50%. Isso revela o quão danoso tem sido todos esses processos econômicos para quem não tem instrumentos para se defender dessas oscilações”.

DICAS DE ECONOMIA

– Identificar individualmente onde está ocorrendo a maior parte dos impactos de aumento de preço. Em Marabá, assim como no restante do país, o combustível tem sido um grande vilão, que afeta direta e indiretamente, pois é insumo para transporte dos produtos;

– Analisar o que é gasto fixo (aluguel, luz, alimentação) e o que é gasto variável (lazer);

– Fazer parcerias com amigos para ir ao trabalho ou à universidade;

– Preparar uma planilha e se organizar financeiramente;

 – Ter cuidado com financiamentos, limites e cartões de crédito. Se fizer uma compra a prazo, de doze vezes, por exemplo, esperar passar as doze parcelas, para que você possa se endividar novamente;

– Quem puder, deve guardar dinheiro. Existem bancos que remuneram o dinheiro aplicado;

– Sentimento de solidariedade. Prefira comprar do pequeno, incentivando o comércio local. 

  

Unifesspa será pioneira ao pesquisar sobre a região

Pela primeira vez no Brasil, uma universidade do interior vai realizar um estudo e produzir uma Matriz de Insumo e Produto que irá evidenciar a estrutura econômica da região, mostrando quais são os setores-chave.

Professores e acadêmicos da Unifesspa preparam estudo inédito sobre a economia do Pará

A Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará vai tornar público para a sociedade, a partir do segundo semestre deste ano, os resultados do referido estudo.

“Estamos produzindo essa matriz que vai conseguir apresentar um retrato da economia regional. Mas, para fazer isso a gente precisa de uma base de dados – Tabela de Recursos e Usos – que é um recurso em planilha estatística que vai nos dizer quanto foi produzido, quanto foi demandado e quanto foi consumido e qual produto foi absorvido por cada setor. Normalmente, quem faz essa tabela no Brasil é o IBGE. No Pará, quem faz é a Fapespa, mas em função de diversas condições, quem vai fazer isso agora para o Estado é a Unifesspa”, antecipa o professor Giliad Silva.

Ele finaliza afirmando que esse poderoso instrumento de contas regionais elaborado pela Unifesspa será de grande importância para a região e para o Estado do Pará.

“Vamos colocar luz na estrutura econômica da região, especificamente no sudeste paraense, onde Marabá é o município chefe, que puxa grande parte das dinâmicas. E não porque tem uma concentração específica de um setor, mas porque Marabá tem diversos setores”, reconhece. (Ana Mangas e Ulisses Pompeu)