Os donos da Amazônia
Caboclos, índios, ribeirinhos e povos da floresta. Estes, sim, são os verdadeiros donos da Amazônia, porque detém o conhecimento e as informações sobre a região. O mundo deveria aprender com eles os segredos sobre como curar doenças sem a contaminação química da indústria farmacêutica. Também deveria aprender como evitar a poluição de rios, igarapés e a derrubada indiscriminada da floresta. Os doutores aceitariam humildemente saber o que não sabem – ou pensam que sabem – sobre a Amazônia?
Ignorantes de beca
Leia mais:O que se vê hoje, em jornais, blogues e portais de notícias da Europa e Estados Unidos, é um monte de gente que se mete a dar opinião sobre a Amazônia sem jamais ter morado na região ou apenas permanecido alguns dias por aqui além do que está escrito na programação de suas viagens turísticas. Um desses ignorante de beca chegou a dizer que a região, dentro de mais uns 20 anos, irá se transformar num imenso deserto. É burrice misturada com desinformação.
390 bilhões de árvores
Em 2013, a revista norte-americana Science, usando mais de cem especialistas de 88 instituições do mundo, divulgou um estudo com a conclusão de que a floresta amazônica, a maior floresta tropical do mundo, tem 390 bilhões de árvores de 16 mil espécies diferentes. Foram realizados, no total, 1.170 inventários sobre a diversidade amazônica, num trabalho que durou 10 anos. Eles descobriram que metade das árvores pertence a apenas 227 espécies das 16 mil identificadas. Quer dizer, os pesquisadores estrangeiros têm a Amazônia na palma da mão.
Tamanho americano
A Bacia Amazônica, cuja superfície se aproxima do tamanho dos Estados Unidos, assim como as dificuldades de locomoção, haviam impedido até agora o recenseamento das árvores da floresta, que se espalha pelo Brasil, Peru, Colômbia, Guiana e Suriname. Dos seis milhões de quilômetros quadrados de floresta amazônica, 60% estão localizados em território brasileiro. Isso demonstra porque a mídia internacional e governos das grandes potências miram suas baterias em direção ao Brasil quando o tema são as queimadas e o desmatamento.
Espécies sob risco
Dois cientistas envolvidos no projeto desse inventário amazônico, Nigel Pitman, do Field Museum de Chicago, e Hans ter Steege, no Centro Naturalis Biodersity, da Holanda, analisam que não se tinha ideia de quais espécies estavam ameaçadas de extinção na região. Agora, porém, as espécies mais comuns da Amazônia estão identificadas e quantificadas. As mais comuns, chamadas de “hiper dominantes”, correspondem a apenas 1,4% de todas as árvores da floresta.
Árvores raras
O modelo matemático aplicado na pesquisa calcula que a Amazônia possui cerca de 6 mil espécies raras de árvores que podem ser classificadas como “em risco de extinção” pela União Internacional para Conservação da Natureza. O presidente Jair Bolsonaro, como se vê, errou feio ao dizer ontem que a cobiça estrangeira sobre a Amazônia são os minérios e não “a porra da árvore”. Os gringos já sabem tudo sobre nós: árvores, minérios, biodiversidade, etc. Não os que escrevem porcarias sobre a região, mas os que pesquisam a Amazônia com olhar científico.
_________________BASTIDORES_____________________
* Por falar em Amazônia, os números de setembro apontaram que o nível de queimadas na região foi menor que o dos últimos cinco anos no mesmo período.
* Isto, contudo, não deve reduzir a conversa fiada dos senhores do mundo, sobretudo das ONGs ligadas aos grandes grupos capitalistas. Essas ONGs, aliás, nada têm a ver com aquelas que se dedicam a um trabalho sério na região.
* Os invasores da terra indígena Trincheira-Bacajá, em São Félix do Xingu, prometeram anteontem à Polícia Federal e ao Exército que deixarão a área sem problemas.
* Os índios sabem que isso não é verdade. Eles saem, mas depois retornam, inclusive de forma mais violenta.
* Na região, todo mundo sabe, impera a lei do mais forte.