A ciência tem buscado alternativas para acabar com o uso de animais em pesquisas médicas. A organ-on-a-chip é uma das opções mais promissoras porque, além de poupar os seres vivos, ela pode ser usada para a criação de tratamentos médicos mais eficientes e personalizados.
Literalmente traduzido como “órgão em um chip”, a técnica consiste em criar reproduções de estruturas do corpo humano misturando chips e células. Os órgãos artificiais, muitas vezes, são capazes de imitar as funções tradicionais, e servem para que os tratamentos médicos e remédios sejam testados na fase inicial.
A professora da UnB Suélia Fleury, membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), explica que, atualmente, não é possível excluir os animais totalmente dos processos necessários ao desenvolvimento de medicações. No entanto, o oegan-on-a-chip já é capaz de reduzir drasticamente a quantidade de seres usados em testes.
Leia mais:“Em algumas etapas de pesquisa, o uso de animais ainda é indispensável, mas a tecnologia organ-on-a-chip já consegue reduzir muito a quantidade. Pesquisas que eram feitas com mil camundongos hoje são realizadas com pouco mais de 10. De 100 cachorros, passamos a cinco. É um ganho impressionante em vidas”, afirma a professora Suélia, que é especialista no assunto.
Remédios para diabéticos
Em suas pesquisas, Suélia Fleury tem criado modelos em organ-on-a-chip para reproduzir as funções do sistema circulatório. O objetivo é avaliar possíveis tratamentos para resolver problemas de cicatrização em pessoas diabéticas.
Usando modelos microscópicos para simular as veias de pessoas com diabetes, a biomédica testa formas de acelerar a recuperação.
“O lado bom de usar o organ-on-a-chip é que testamos tratamentos para humanos em células de humanos, isso permite acelerar o entendimento de como essas soluções podem funcionar antes mesmo dos ensaios clínicos”, explica a professora.
Em um futuro próximo, Suélia acredita que a tecnologia de organ-on-a-chip poderá ser usada para preparar tratamentos personalizados, retirando células do paciente doente para testar a medicação de maneira individual.
“Somos individuos únicos, temos organismos particulares. No futuro, poderemos retirar células doentes de um câncer, por exemplo, e testar remédios para atacá-lo. O paciente seria beneficiado apenas com as respostas que funcionaram melhor”, aponta Suélia.
Entraves do organ-on-a-chip no Brasil
Nem todos os cenários, porém são positivos. Por realizar suas pesquisas no Brasil, Suélia enfrenta várias dificuldades. “Os computadores levam horas simulando. Aqui, preciso de 18h, de 24h para testar cenários e tratamentos que, nos Estados Unidos, seriam avaliados em meia hora”, lamenta a especialista.
(Metrópoles)