Correio de Carajás

OAB Marabá se solidariza com advogada Cristina Longo

Cristina era responsável pela defesa de Willian Sousa, réu pelo assassinato de Flávia Alves em abril de 2025/ Foto: Evangelista Rocha

Na manhã desta sexta-feira (8), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Subseção Marabá, emitiu uma nota em repúdio ao episódio vivido pela advogada Cristina Longo durante o julgamento de Willian Sousa na quinta-feira (7). A Ordem considera que foram graves as violações às prerrogativas da advocacia ocorridas no Tribunal do Júri.

Cristina era responsável pela defesa de Willian Sousa, réu pelo assassinato de Flávia Alves em abril de 2025. Durante a sessão, houve momentos em que a advogada se exaltou e, durante o depoimento de Walter Ruíz, delegado de Polícia Civil que presidiu o inquérito do caso, ela teve o microfone mutado pela juíza após direcionar perguntas incisivas ao delegado.

Ainda que não tenha citado nominalmente Alessandra Rocha, juíza que presidia o julgamento, a nota da OAB se refere a postura da magistrada durante a sessão. Por isso, o Correio de Carajás entrou em contato com Líbio Araújo Moura, juiz e presidente da Associação dos Magistrados do Pará (Amepa), para questionar se o órgão irá se manifestar a favor de Alessandra.

Leia mais:

Por telefone ele contextualizou que a associação só age quando é acionada pelo associado. “Ela não entrou em contato. Só nos manifestamos se formos provocados e, nesse caso, até agora, não tivemos provocação. Se tiver aí a gente avalia, a diretoria e emite uma nota”, conclui.

Na nota de repúdio, a OAB afirma que Cristina Longo enfrentou reiteradas interrupções, recebeu tratamento desrespeitoso, teve seu microfone cortado e a palavra cassada pela juíza — decisões que foram comemoradas pela plateia presente. A Ordem também destaca que as advertências sofridas pela advogada foram desproporcionais, sendo inadmissível em um espaço que deve garantir a ampla manifestação da defesa. Para a OAB, o episódio se agravou com a destituição arbitrária de Cristina no processo, medida que afronta o direito do réu de escolher livremente seu representante legal.

A entidade ressaltou ainda que a sessão começou com uma manifestação alusiva ao “Agosto Lilás” (mês de combate à violência contra a mulher), o que, embora socialmente relevante, pode suscitar questionamentos sobre a imparcialidade exigida na condução de um julgamento que apura crime praticado contra uma mulher.

A Ordem reafirmou seu compromisso incondicional contra crimes de violência e reforçou que o direito à ampla defesa e ao contraditório deve ser assegurado a todo cidadão, sem constrangimentos ou cerceamentos indevidos aos advogados e advogadas.

“A advocacia é função essencial à Justiça e não se subordina a interesses ou pressões. Sem advogados livres e respeitados, não há democracia, não há Estado de Direito e não há justiça verdadeira”, declara a OAB Subseção Marabá. A Ordem também informou que acompanhará o caso de perto, adotando todas as medidas necessárias, incluindo registro de ocorrência policial por crimes de ódio contra a advogada registrados na internet, além do envio de expedientes formais às corregedorias do Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) e do Ministério Público do Pará (MPPA), solicitando apuração imediata dos fatos e responsabilização das autoridades envolvidas.

RELEMBRE

A advogada Cristina Longo, responsável pela defesa de Willian Sousa, réu pelo assassinato de Flávia Alves, abandonou o Tribunal do Júri na tarde de quinta-feira (7), o que resultou no adiamento da sessão. A juíza Alessandra Rocha, presidente do júri, redesignou o julgamento, que ainda não tem nova data definida, e destituiu Cristina da defesa, encaminhando o caso para a Defensoria Pública.

Antes do início do julgamento, Cristina Longo havia tentado suspender ou adiar a sessão por meio de um mandado de segurança, alegando irregularidades na apresentação de provas, mas o pedido foi negado. Durante a sessão, a advogada se exaltou várias vezes, principalmente no depoimento do delegado que presidiu o inquérito, e teve o microfone cortado pela juíza após insistentes interrupções. O clima esquentou com troca de palavras duras entre Cristina e a promotora Cristine Magella, até que a advogada retirou a beca e deixou o plenário, abraçando o réu ao sair.