Um bebê de 1 ano e 8 meses e um jovem de 18 anos morreram com suspeita de envenenamento em Parnaíba, no litoral do Piauí. Além deles, outros sete familiares passaram mal e foram hospitalizados após comerem peixes doados na noite de Réveillon e um arroz preparado pela própria família e requentado no primeiro dia de 2025.
Dos familiares hospitalizados, três receberam alta (uma adolescente e uma mulher e um homem adultos) e os outros quatro continuam internados (três crianças e uma mulher adulta). Uma das internadas é a mãe de dois meninos que morreram envenenados com caju, na mesma cidade, em agosto de 2024. A suspeita desse crime está presa.
O casal que entregou os peixes foi ouvido na tarde de quinta-feira (2) pela Polícia Civil do Piauí (PCPI). Segundo o delegado Abimael Silva, eles fazem, todos os anos, um trabalho filantrópico no bairro da família. Eles doaram várias cestas básicas e cerca de 30 kg de peixe manjuba, mas somente os familiares passaram mal com os peixes.
Leia mais:Até a última atualização desta reportagem, dez pessoas já prestaram depoimento. A polícia aguarda os resultados dos exames toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML), que vão definir a causa da morte do jovem e do bebê e as substâncias que estão no organismo das vítimas internadas. Além disso, vão determinar se havia substâncias tóxicas nos alimentos doados.
Quem são as vítimas?
Ao todo, nove pessoas da mesma família passaram mal. Elas são:
- Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco de Assis, morto);
- Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria, morto);
- Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Igno Davi e irmã de Manoel);
- Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos (padrasto de Manoel);
- Três crianças (duas meninas e um menino);
- Uma adolescente (irmã de Manoel) e uma mulher adulta.
Eles comeram peixe manjuba e arroz. O arroz foi preparado por eles para a ceia de Réveillon, enquanto o peixe foi doado à família.
Quando eles comeram?
O arroz da ceia de Réveillon foi requentado e comido por eles na quarta-feira (1º). Outras pessoas da família, como uma irmã de Manoel Leandro, comeram o arroz na noite de terça-feira (31) e não passaram mal. Já o peixe foi guardado e fritado também na quarta.
Quem entregou a comida?
Um casal ainda não identificado, conhecido por fazer doações de cestas básicas todos os anos, entregou o peixe manjuba para a família. Segundo a Polícia Civil, eles doaram cerca de 30 kg de peixe, mas somente os familiares passaram mal.
Quais foram os sintomas?
O médico Carlos Teixeira, diretor clínico do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), onde a família está internada, afirmou que eles apresentaram frequência cardíaca baixa, sudorese (produção de suor) e temperatura elevada.
O perito-geral do Departamento de Polícia Científica do Piauí, Antônio Nunes, também apontou que os pacientes tiveram sintomas típicos de intoxicação por veneno, como cólicas, diarreia, falta de ar e tremores.
Qual o estado de saúde deles?
Manoel Leandro, o jovem de 18 anos, chegou a ser socorrido na quarta (1º), mas morreu ainda na ambulância. Igno Davi, o bebê de um ano e oito meses, faleceu no anexo pediátrico do Heda na quinta-feira (2).
Duas crianças, de três e quatro anos, vão ser transferidas nesta sexta-feira (3) para o Hospital de Urgência de Teresina (HUT). A outra criança, de 11 anos, e Francisca Maria, mãe de Igno e irmã de Manoel, continuam internadas no Heda, em Parnaíba. Conforme o hospital, o quadro de saúde das quatro é estável.
Francisco de Assis, o padrasto de Manoel; uma adolescente, irmã de Manoel; e uma mulher adulta também estavam internados no Heda, mas receberam alta na quinta.
Alguma substância tóxica foi encontrada na comida?
O arroz e o peixe manjuba consumidos pela família foram apreendidos pela Polícia Civil e vão passar por um exame toxicológico do IML, que deve determinar se há substâncias tóxicas nos alimentos.
Quais as substâncias encontradas nas vítimas?
A perícia da Polícia Civil coletou material genético do estômago, sangue e urina do jovem morto, além de sangue e urina dos familiares internados no Heda.
O material vai ser analisado pelo IML em um exame toxicológico, cujo resultado deve sair em até dez dias. O laudo vai determinar a causa da morte do jovem e do bebê e quais as substâncias encontradas no organismo deles e dos demais.
Quem a polícia ouviu até agora?
O casal que fez a doação do peixe manjuba para a família foi ouvido pela Polícia Civil na tarde da quinta (2). Além deles, a polícia também está colhendo depoimentos de outros parentes e testemunhas. Até a última atualização desta reportagem, dez pessoas já foram ouvidas.
Há relação com o outro caso?
Em agosto de 2024, os irmãos Ulisses Gabriel, de oito anos, e João Miguel, de sete, passaram mal e foram hospitalizados após comerem cajus envenenados com terbufós – uma substância tóxica semelhante ao “chumbinho” e usada como inseticida.
Eles são filhos de Francisca Maria, que está internada no Heda, e irmãos mais velhos de Igno Davi, o bebê que morreu na quinta. João Miguel ficou cinco dias internado antes de morrer, enquanto Ulisses faleceu depois de dois meses de internação.
A suspeita de entregar os cajus envenenados às crianças se chama Lucélia Maria da Conceição Silva e tem 52 anos. Ela está presa preventivamente e foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público do Piauí (MPPI) pelos dois homicídios qualificados.
Até a última atualização desta reportagem, não houve confirmação de que os dois casos têm relação. A polícia continua investigando a suspeita de envenenamento da família.
(Fonte:G1)