Correio de Carajás

O que causou os incêndios florestais devastadores no Havaí?

Foto: Reuters

Costuma-se dizer que uma desgraça nunca vem só. Na ilha de Maui, quatro fatores se combinaram, causando fogos devastadores. Uma advertência aos países com vastas áreas florestais, numa era de mudança climática. O estado americano do Havaí atravessa a pior catástrofe natural de sua história. Confirmando o dito que “uma desgraça nunca vem sozinha”, na ilha de Maui os incêndios devastadores foram o resultado do encadeamento de quatro fatores que, isoladamente, seriam inofensivos, mas que provocaram grandes danos materiais e perto de 100 mortes.

1. Um pequeno incêndio que saiu de controle

A origem da catástrofe foi um pequeno incêndio florestal perto as regiões habitadas. Até agora não se sabe se foi intencional, mas na noite da quarta-feira para a quinta-feira da semana passada ele se alastrou com grande velocidade. Semelhante ao ocorrido recentemente na ilha grega de Rodes, o fogo foi atiçado por ventos fortes e dentro de poucas horas estava fora de controle. Muitos que se encontravam em Maui procuraram segurança entrando no mar.

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2. Ventos alísios atipicamente fortes

Segundo certos meteorologistas, responsável pelos ventos extremamente fortes em Maui, de até 100 quilômetros por hora, foi o furacão Dora, da categoria 4, que passava a sudoeste da ilha. Ao causar grandes diferenças de pressão atmosférica, ele teria provocado ventos alísios de força inabitual.

Embora outros peritos duvidem de uma correlação direta, não resta dúvida que o vento funcionou como um acelerador do fogo. “As montanhas de Maui ocidental aceleraram ainda mais esses ventos, sobretudo à noite”, explica Steven Businger, professor de ciências atmosféricas da Universidade do Havaí. O incêndio em massa surpreendeu os habitantes no sono ou despreparados, “foi, portanto, uma tempestade perfeita”.

Os alísios são ventos permanentes que sopram nas regiões equatoriais da Terra. Em forma branda, são absolutamente normais no Havaí, formando-se quando o ar do sistema de alta pressão ao norte do arquipélago se move em direção ao sul, para a zona de baixa pressão do Equador. Desta vez, a extrema força dos ventos agora surpreendeu até mesmo os meteorologistas do Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) de Honolulu.

3. Temporada seca no Havaí

Atiçadas pela forte ventania, as chamas se alastraram rapidamente, pois no momento é temporada seca no Havaí, e a umidade atmosférica, muito baixa. O clima do arquipélago é basicamente tropical, portanto quente e úmido, com pouca oscilação de temperaturas ao longo do ano. Os alísios, normalmente brandos, evitam calor e umidade excessivos.

A época seca começa o mais tardar em maio. Com a redução das chuvas, as temperaturas sobem, inaugurando a alta temporada turística. Em agosto e setembro, o calor tende a ser bastante forte, com máximas acima dos 30ºC. Chuvas tropicais podem ocorrer, mas furacões são raros.

4. Vegetação invasiva suscetível ao fogo

O NWS dos Estados Unidos já registrara as condições climáticas tensas no Havaí, com a perigosa combinação de ventos fortes, ar seco e vegetação extremamente ressecada, e alertara sobre o risco agudo de incêndios.

Em princípio, incêndios florestais podem ser provocados por um relâmpago, períodos de calor prolongados ou ação humana. A causa da grande maioria é ou intenção criminosa ou negligência, bastando uma fogueira não extinta ou um cigarro jogado no chão para iniciar fogo de vastas proporções.

Em Maui, além disso, domina o capim-da-Guiné, capaz de crescer até 15 centímetros por dia na época úmida e chegar a até três metros de altura. Se não é cortada, essa vegetação invasiva está muito sujeita a pegar fogo no período da seca.

“Essas áreas acumulam material combustível rapidamente”, explica Clay Trauernicht, especialista em incêndios da Universidade do Havaí. “Sob condições mais quentes e secas, com precipitações pluviais irregulares, o problema vai se agravar ainda mais.”

Como conviver com os incêndios florestais?

Incêndios florestais, sempre houve, e é impossível evitá-los inteiramente, mas devido às mudanças climáticas sua frequência tende a aumentar, em escala global. Por isso é preciso aprender a viver com eles e a reduzir os danos, através de uma gestão do fogo integrada.

“Incêndios não conhecem fronteiras. Eles ardem através de florestas, reservas naturais, matagais, áreas agrícolas, fazendas, assentamentos rurais e zonas suburbanas”, lembra Johann Georg Goldammer, diretor do Global Fire Monitoring Center (GFMC), que atua sob a égide das Nações Unidas.

“É preciso aplicar medidas para tornar esses elementos da paisagem menos suscetíveis ao fogo. A questão é configurar as áreas, de forma que o fogo encontre menos alimento, ficando, assim, mais fácil de controlar.”

Sobretudo países com grandes territórios florestais precisam reduzir urgentemente os riscos de fogo, urge Robert Watson, ex-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas. Por isso é tão importante eliminar focos de incêndio potenciais, em especial a vegetação rasteira seca.

“Trata-se de uma combinação de gestão das matas através de desbaste, sobretudo da vegetação rasteira, e incêndios controlados. Quando ocorrer um incêndio florestal de fato, ele será mais fácil de controlar. É necessário reduzir a carga combustível, ou seja, a quantidade de vegetação seca.”

Watson frisa a necessidade de os governos admitirem o potencial crescente de incêndios florestais e desenvolverem estratégias para enfrentar essa nova realidade: “Com a mudança climática causada pelos humanos, vamos vivenciar mais temperaturas extremas e mais secas – as condições perfeitas para incêndios como o atual.”

(Fonte: Terra)