Correio de Carajás

O padre ‘biscoiteiro’ de Parauapebas que está bombando no Instagram

O nome dele é Patrick Fernandes, mas pode chamá-lo de padre Patrick, ou simplesmente, biscoiteiro. Isso mesmo. Esta é a nova expressão da Internet (neologismo) para definir o ato de postar selfies demais para chamar a atenção. E você não vai encontrar o termo com essa acepção no dicionário.

O novo significado para uma palavra já existente é uma referência de quando damos biscoito ou petisco para os cães quando eles fazem algo corretamente. Assim você “dá um biscoito” para quem faz algo certo no intuito de elogiar alguém nas redes sociais. Não é preciso atualizar os números dos usuários de redes sociais saber que estamos vivendo uma epidemia de selfies e auto retratos.

No caso do padre Patrick, além de fotos pessoais em sua conta no Instagram, ele esbanja vídeos selfies nos stories, principalmente, abre discussões sobre diversos assuntos atuais e, assim, entre uma e outra postagem na sequência, leva os seguidores a refletirem na Palavra de Deus. Ou seja, neste caso, o fim justifica os meios, já que o padre é uma espécie de “biscoiteiro” do bem.

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O diferencial na forma de se comunicar e a maneira bem humorada ao abordar assuntos polêmicos fazem do padre Patrick um fenômeno no Instagram entre os jovens de Parauapebas, com 39,2 mil seguidores, que aos poucos saem do ambiente virtual para se tornarem assíduos às missas.

Para entrevistá-lo, a Reportagem do CORREIO decidiu segui-lo no Instagram desde o ano passado e passou a observar seus stories e publicações no feed. A entrevista, em si, foi agendada para depois da missa do último domingo, 2 de agosto, quando ele recebeu também a equipe da TV Correio.

Aos 33 de idade, o padre comemora sete anos de sacerdócio e revela que recebeu o chamado ministerial ainda muito jovem, aos 18 anos, idade que foi para o seminário.  Tudo começou ao participar de um retiro na igreja, recebendo o convite de um padre para fazer uma experiência vocacional, e ordenou-se aos 25 anos.

Natural de Colatina, no Espírito Santo, foi criado na cidade de Santa Tereza. É filho de pais separados, desde quando ele tinha em torno de um ano de idade. Tem dois irmãos, que seguiram carreiras distintas. O rapaz, Michael Fernandes, permanece no estado de origem e é policial militar, enquanto a moça, Carolina Formentine, formou-se em Engenharia de Minas e mora em Canaã dos Carajás. A mãe, Mirtes Formentine, reside em Marabá.

No colo da mãe, o “amor de sua vida”, como ele já postou em suas redes sociais

“Para eles eu não sou o padre Patrick, sou apenas o Patrick”, conta o reverendo, ao lembrar que, ao comunicar que seguiria o caminho da religião, houve uma desconfiança por parte da família, por ser tão jovem, mas, que se orgulham do ser humano que se tornou.

O pároco, que é formado em filosofia e teologia, revela que muito antes de pensar em seguir o sacerdócio, sempre quis ser útil na vida das pessoas de alguma maneira e que a “sensação de inutilidade sempre foi um tormento”.

O ministério sacerdotal colocou fim a essa busca do então jovem Patrick Fernandes. “Houve um tempo na minha vida que eu precisava encontrar respostas, necessitava escutar a voz de Deus. Senti atração ao ministério sacerdotal e percebi que poderia ser útil e ajudar as pessoas. Isso me motivou ainda mais”.

PROCESSO DE AMADURECIMENTO

Segundo o reverendo, o caminho para se tornar padre é longo, mas que não pode ser classificado como difícil, já que de acordo com ele, a trajetória de estudo se torna um processo de amadurecimento, mas que houve períodos de cansaço pela rotina. “Muito melhor o ambiente de paróquia, de estar no meio do povo, mas, é um tempo necessário, um período fecundo onde Deus vai nos moldando”.

Ao ser questionado se já pensou em desistir do sacerdócio, foi direto ao responder que não poderia ser hipócrita, e que houve momentos de dúvida, limitação e fragilidade. “Costumo dizer que só vou ter certeza da minha vocação quando eu der meu último suspiro e estiver padre”.

REDES SOCIAIS

O sacerdote é categórico ao dizer que não usa as mídias sociais para fazer propaganda da Igreja Católica, mas sim, como meio de falar de amor a quem precisa. Diz, ainda, ter demorado a migrar para a web, mas que em determinado momento sentiu a necessidade de estar presente no Instagram, para estar próximo dos jovens, que é o seu maior público na rede.

As mulheres são as que mais seguem o padre Patrick. Ele acredita ser devido ao seu posicionamento em assuntos polêmicos, pertencentes ao universo feminino, por ser contra o machismo, a cultura de alguns homens que insistem em perdurar atitudes de superioridade sobre a mulher. “Elas precisam se descobrir, perceber o valor que possuem, serem grandes, capazes de ter uma vida feliz”, prega. 

O padre, em tom de brincadeira, conta que também há quem o siga para se divertir. “Alguns me seguem para rir da minha cara quando eu faço besteiras, mas, descartam as besteiras e ficam com aquilo que é sério. Penso que a gente tem que brincar um pouco, se levarmos as coisas muito a sério acabaremos perdendo a graça da vida, o gosto de viver”, defende.

Ele cita que algumas pessoas que começaram a segui-lo nas redes se identificaram e começaram a frequentar as missas. “Tenho consciência que naquele momento de fragilidade das pessoas tenho o poder de influenciar alguém, de ser um canal de esperança para aquela pessoa, falar do amor de Deus. Não estou ali para trazê-la para minha igreja, porque a decisão de aceitar uma fé é que tem que ser livre, não pode ser influenciada”.   

Padre Patrick em momento de lazer. A foto gerou polêmica, mas ele resignou-se.

CRÍTICAS

O sacerdote também confidencia receber críticas no Instagram. Numa certa ocasião, ao publicar uma foto que aparecia parte do tórax, tirada em uma cachoeira, um seguidor questionou se um padre poderia postar fotos sem camisa. Bem humorado, decidiu que iria provocar, e postou outra foto sem blusa. “Acho que a maldade está nos olhos de quem está vendo. Não posso enxergar maldade nas pessoas. Cristo nunca enxergou isso”.

Hoje, ele diz não dar importância às críticas, mas no passado, teve momentos que se preocupou muito com o que pensavam dele. “Sou um homem descontruído para muitas coisas, tenho a consciência tranquila de ninguém na igreja nunca ter se sentido ofendido. Sempre tento enxergar o ser humano”.

Por isso, é nas viagens que em família que se sente mais à vontade, geralmente com a mãe e o irmão. O padre revela que gosta de viajar para conhecer novos lugares, novas pessoas e aprender. Em seu currículo de viajante há roteiros para diversos lugares do País e também do exterior, como Chile e Panamá.

Na missa, o padre mantém os princípios católicos e segue à risca a liturgia

MISSA

Diferentemente da linguagem descontraída usada no Instagram, nas missas ministradas pelo padre na Paróquia São Sebastião, o tom é formal. Como ele mesmo diz, a missa tem ritos que precisam ser seguidos.

Na missa do domingo (2), às 19h30, cerca de 200 fiéis compareceram, número reduzido para evitar aglomeração durante a pandemia. A orientação é retirar uma senha antes da data para não ultrapassar o número.

Mas não somente os jovens o prestigiam. Muitas famílias comparecem às ministrações. Durante a pregação do último domingo, alertou sobre a importância de estar atento aos filhos e alertou que jovens estão se mutilando cada vez mais, se distanciando das famílias.

Lamentou que as crianças desde pequenas convivem com tabletes e smartphone para assistirem desenhos, dados pelos pais quando começam ao chorar, os quais não têm paciência em lidar com a situação. Mas questiona até quando acham que essa angústia da juventude poderá ser preenchida por desenhos.

Casal Fernando e Maísa diz que padre Patrick lhe ouve sem julgamentos

Ainda na missa, o jovem casal Fernando Oliveira e Maísa Evelyn afirmaram acompanhar o padre por se sentirem aceitos por ele, compreendidos, não sendo julgados independente do assunto, ou dúvidas que tem. (Ulisses Pompeu)