A Barão do Rio Branco, na Marabá Pioneira, já foi chamada de “Rua Nova”. Abriga boa parte de famílias tradicionais da cidade, como os Athiê. Além das residências, há comércios de alimentos, botijão de gás, igreja, clínica, hospital e… um jardim suspenso. Isso mesmo, um jardim misturado com horta que chama a atenção de vizinhos e de transeuntes.
E o responsável pelo empreendimento é o serralheiro Fabiano Alves Matos, de 58 anos de idade, que recebeu a sugestão de um cunhado há pouco mais de um ano e acabou adotando a ideia.
Ele mora no número 997 da Barão do Rio Branco, em um terreno bem largo, herdado do pai, o saudoso João Francisco Alves, mais conhecido como “João Capataz”, e também da mãe, Conceição Moreira Matos. Na imensa área, cinco irmãos construíram suas casas e acabaram erguendo nove quitinetes para aluguel – uma espécie de cortiço moderno.
Leia mais:Na casa de frente mora a irmã Ângela Maria Matos, que construiu uma laje e até hoje não ergueu quartos. Foi ali em cima que Fabiano, conhecido carinhosamente como Petruco, começou a plantar para parar de comprar hortaliças caras na feira. A ideia deu tão certo, que há semana em que couves, alfaces, cebolinha, coentro dão em quantidade tão grande, que além de abastecer as cinco famílias, sobra para repartir com a vizinhança. “Eu não tenho coragem de cobrar por isso. É uma coisa tão boa e os vizinhos são tão bacanas que a gente entrega de graça”, conta.
Atualmente, a horta é repleta de variedades, contendo mais de 100 espécies de hortaliças, plantas medicinais,flores e sementes plantadas de frutas, tais como manga, coco, uva, maçã, maracujá, entre outras frutas.
Os cuidados do jardim com jeitão de horta são distribuídos entre Fabiano e duas irmãs: Ângela e Maria Raimunda Matos, que regam as plantas duas vezes ao dia – manhã e no final da tarde – utilizando mangueira e regador.
O tempo para molhar as plantas não é visto como perdido, mas como uma espécie de elemento desestressante das atividades do dia a dia, já que trabalhar com ferro e solda elétrica é uma atividade cansativa. “A gente gasta cerca de 20 minutos para molhar tudo, mas nem vemos o tempo passar, porque sempre tem uma coisa nova brotando”, justifica.
Assim que a pandemia do novo coronavírus se tornou viral em Marabá, Petruco foi de grande ajuda a todos na vizinhança, doando folhas de boldo para produção de chá, que é fonte de vitamina C, ajudando no aumento da imunidade. “Mas temos muito mais plantas medicinais e quando alguém precisa, a gente disponibiliza aqui em casa”, orgulha-se.
Após 42 anos como serralheiro, Matos pretende aposentar-se, comprar uma pequena propriedade rural e cultivar tudo quanto possível, já que na laje o espaço é bastante limitado. Por enquanto, ele dribla a falta de terreno com construção de “latadas” para maracujá e até mesmo colocando vários cocos da praia em um mesmo recipiente. “Temos tanta muda crescendo aqui, que já estamos vendendo e ganhando dinheiro. No início, era só pra abastecer nossas famílias mesmo”, diz Petruco.
E foi em um desses locais que passarinhos construíram ninhos, colocaram ovos e encantaram os donos do pedaço. A laje, hoje, é mais que uma horta ou jardim, é um lugar de refúgio, para onde Fabiano vai sozinho aos finais de semana e fica admirando o que plantou e tomando uma gelada, porque ninguém é de ferro.
E por falar em ferro, diferente do ditado popular, na casa do ferreiro Fabiano, o espeto é de mastruz, boldo, cidreira, hortelã, malva do reino, arruda, manjericão…
(Ulisses Pompeu)