Correio de Carajás

O esporte muda a vida de meninas da periferia de Marabá

Luíza Gomes é um dos nomes mais respeitos no esporte de Marabá. Ex-atleta, hoje ela usa o voleibol para empoderar meninas dos quatro cantos da cidade

As meninas do CVT praticam vôlei, orientadas pela experiente Luíza Gomes/ Evangelista Rocha

Em 1996, pela primeira vez na história, a seleção brasileira de voleibol feminino trouxe uma medalha olímpica para casa. As mulheres que ganharam o bronze em Atlanta, Estados Unidos, foram as precursoras para as conquistas de gerações futuras nesse esporte. Doze anos depois, o primeiro ouro em Olimpíadas foi alcançado pelo time que disputou em Pequim (China).

Não é incomum que jogadoras desta modalidade abram os caminhos para aquelas que irão sucedê-las. E foi justamente a missão de devolver para a sociedade tudo o que conquistou através do vôlei, que impeliu a marabaense Luíza Gomes a fundar o “Clube de Voleibol Tocantins” (CVT) em dezembro de 2007.

Ela é ex-jogadora profissional e integrou o time do Clube do Remo, a seleção paraense de voleibol feminino e foi treinadora da seleção marabaense. “Quando voltei para Marabá, senti que tinha o dever de poder repassar aquela experiência que tive, para os jovens aqui da cidade”, rememora.

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Atualmente, o projeto beneficia dezenas de crianças e jovens de Marabá, através do trabalho de base que é feito por Luíza e seus monitores. A existência do CVT só foi possível porque há mais de 30 anos a marabaense mudou de vida graças ao vôlei.

Orgulhosa, Luíza exibe os troféus conquistados pelos times do CVT ao longo dos anos

REPRESENTATIVIDADE FEMININA

O esporte engrandece as mulheres, salienta Luíza Gomes. Ele trabalha o lado físico e, também, o mental. As torna mais confiantes. Ainda que essa reflexão seja feita pela Luíza madura, é a jovem de 13 quem a dita. Foi nesse período que a ex-jogadora foi recrutada por Liana Teixeira, na época treinadora do time de base do Clube do Remo, em Belém.

“Eu saí aqui de Marabá uma menina tímida, que quase não falava”, relembra. Parte do acanhamento foi provocado por sua altura, já que Luíza era mais alta que as meninas da sua idade.

Ao revisitar os momentos que viveu no passado, a ex-jogadora assegura que o esporte teve papel importante na sua autoestima. “Quando cheguei ao Remo, as meninas mais altas eram as mais valorizadas, então eu me senti muito bem. Isso foi muito bom para o meu ego”.

Toda a confiança que a jovem Luíza conquistou com o esporte é levada por onde quer que ela vá e passada para frente, chegando até as alunas do CVT. “Praticar essa atividade é muito importante, principalmente para as meninas, para que elas saiam dessa zona de perigo”, observa ela.

O projeto de Luíza nasceu na Marabá Pioneira e expandiu-se para outros polos dentro da cidade e colabora diariamente para que crianças e jovens fiquem longe da latente marginalidade que aflige o município, em especial as meninas.

Seja para trazer uma nova perspectiva para essas jovens mulheres, tirá-las de um lugar que as levaria para a prostituição ou práticas criminosas, ou para dar a elas mais um motivo para acreditarem em si mesmas, o trabalho de Luíza – que é a personificação da força feminina – é um instrumento essencial nessa construção social.

“O nosso maior objetivo é ter mais jovens e crianças e realizar esse trabalho de tirá-las da criminalidade, da prostituição e nós temos feito isso. Algumas, a gente não consegue, mas é a minoria. A maioria nós conseguimos segurar e de certa forma viramos até mães ou psicólogas”.

E ainda que espírito competitivo que permeia esse ambiente seja comumente tido como tóxico, ela enxerga sob uma ótica diferente. “É através da competição que a gente vai crescendo, aprendendo, entendendo como se defender e levando isso para a nossa vida”.

E um dos reflexos de seguir pelos bons trilhos que o esporte proporciona, está na ação social que o CVT realiza em sua sede, no Bairro Amapá. Toda segunda-feira eles recebem verduras do projeto “Mesa Brasil”. Às terças são servidos os sopões para a comunidade e quando não é possível, os vegetais são distribuídos para os moradores.

“Fica uma fila de pessoas aqui na porta e a gente distribuindo. Nós ficamos muito gratos porque sabemos que estamos ajudando a comunidade. E tudo isso que fazemos hoje começou com a minha caminhada no vôlei”.

CLUBE DE VÔLEI TOCANTINS

“Quando eu comecei em 2007, não tinha trabalho de base aqui em Marabá. Depois a gente fundou essa associação justamente para fazer esse trabalho de base e tudo o mais”, explica Luíza Gomes, fundadora do Clube de Vôlei Tocantins, o CVT.

Há cerca de um ano, o projeto trabalha apenas com times de base, com crianças a partir dos oito anos. Atualmente, ele é desenvolvido em três polos: um no Bairro Liberdade, outro na Marabá Pioneira e o do Amapá.

“Nós tivemos ajuda do deputado Chamonzinho, com emendas (parlamentares) e em quatro anos nós conseguimos ter uma estrutura melhor. Agora contamos com essa sede, que é alugada e ano passado lançamos o projeto “Zumba do CVT”, que está sendo um sucesso. É só com senhoras, elas vêm até de outros bairros, como o São Félix”.

Para Luíza, o esporte representa o todo. Mudou sua vida e agora ela ajuda a mudar a de outras dezenas de crianças, jovens, meninos e, principalmente, meninas. (Luciana Araújo)