O desmatamento é um fenômeno que a Amazônia tem experimentado a algumas décadas. Os últimos dez anos foram os mais intensos. Dados do Ibama e do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, organizados pelo Laboratório de Contas Regionais da Amazônia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Lacam/Unifesspa) apontam que, só na última década, a quantidade de floresta desmatada na Amazônia foi de 74.072,2 km², que representa algo próximo de 7 mil estádios de futebol. Em 2021 foram 12.188 km² e entre 2019 e 2021 foram 33.235,3 km², quase 50% do que foi desmatado nos últimos 10 anos. Junto com o desmatamento mais intenso que passou a ocorrer desde 2019, houve também uma redução da emissão de autos de infração para quem comete crime ambiental. Em 2019, a emissão de multas ambientais foi 26% menor do que os emitidos em 2018, e tudo que foi emitido em 2019 e 2021 representa pouco mais de 20% do que emitido nos últimos 10 anos, uma proporção bem menor do que foi desmatado.
Neste cenário, o Pará tem sido o campeão de desmatamento. Só em 2021, foi responsável por mais de 43% de todo território desflorestado da Amazônia. A quantidade de área desmatada em 2021 no Pará chegou a quase 3 vezes à quantidade desmatada em 2012. E observando o gráfico 1 abaixo, fica evidente que 2019 foi um ano emblemático. A maioria dos estados amazônicos bateu recorde de crescimento em relação ao período anterior, quando analisa os 10 últimos anos. Roraima, por exemplo, cresceu a área desmatada em 430% em comparação com 2018. Tocantins, por sua vez, cresceu no mesmo período mais de 200%. O estado do Pará, que já possuía naquela época o maior índice de desmatamento da Amazônia, alcançou a taxa de crescimento de 72%.
Analisando a partir da ótica dos municípios, é possível indicar 2 elementos importantes. Primeiramente, é a participação significativa dos 20 municípios que mais desmataram em relação ao total: 48% da área desmatada em 2021 está nestes municípios. Segundo, é a grande participação do Pará. Dentre os 20 municípios que mais desmataram na Amazônia em 2020, 10 deles são paraenses (Altamira, São Félix do Xingu, Novo Progresso, Itaituba, Pacajá, Portel, Novo Repartimento, Senador José Porfírio, Uruará e Anapu). No topo da lista está Altamira que, sozinho, desmatou 8% de tudo que foi desmatado na Amazônia.
Leia mais:Outra questão importante quando se fala sobre desmatamento, é entender qual atividade econômica passa a ocupar a área desmatada. Em 2021, quase metade de todo efetivo de rebanho bovino do Brasil se encontra na Amazônia. Dos 10 principais municípios em quantidade de boi, 6 estão na Amazônia, sendo 4 deles do Pará. No topo da lista está São Felix do Xingu, seguido por Marabá, Novo Repartimento e Altamira. Todos estes municípios lidam anualmente com queimadas e desflorestamento. Basta ver que deles, apenas Marabá não está entre os 20 maiores desmatadores da Amazônia, justamente porque há pouca área com floresta em pé em seu território.
As taxas de crescimento do rebanho bovino nos municípios amazônicos alcançaram o topo, quando se observa os últimos 10 anos. É possível destacar 2 municípios, Marabá e Novo Repartimento. O crescimento da quantidade de boi é perceptível nos dados, como se vê no gráfico 2 abaixo. Até 2018, o tamanho do rebanho estava praticamente estável. A partir de 2019 houve um crescimento significativo. Novo Repartimento cresceu seu rebanho em quase 20%, a partir de 2018 até 2021, enquanto que Marabá cresceu em quase 50%.
Se o leitor notar, 2019 foi um ano emblemático para a Amazônia. Por um lado, acelerou-se o desmatamento e as queimadas, aumentando o estoque de terra disponível para o mercado. Por outro, reduziu-se a quantidade de multas ambientais emitidas. Entre 2019 e 2021, houve um forte desmonte das organizações de controle ambiental, o que pode explicar em parte os motivos da redução da emissão de multas, a despeito do aumento do desmatamento. Ocorreu, também, um perceptível aumento do rebanho bovino na região, em especial no sudeste paraense.
Dito isto, os próximos anos serão centrais para saber se a Amazônia conseguirá sobreviver à cheia do desmatamento e do aumento de atividades econômicas que convivem mal com a floresta em pé, como é o caso vigente da pecuária bovina. Os dados revelam que 2019 foi um ano fundamental para a aceleração do desmatamento, da impunidade em relação a crimes ambientais e do crescimento da pecuária. É fundamental haver, nesse próximo período, um desincentivo ao desmatamento, incentivando o contrário, no caso, o reflorestamento, políticas claras de punição aos crimes ambientais e estímulos ao desenvolvimento sustentável, aderente ao bioma Amazônia, privilegiando atividades orientadas pelos valores agroecológicos e agroflorestais, como atividades ligadas à bioeconomia bioecológica.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.