📅 Publicado em 03/10/2025 10h18✏️ Atualizado em 03/10/2025 10h34
Há quase dez anos em Marabá, Dom Vital Corbellini, bispo diocesano, carrega na missão eclesial e no coração, a essência do Círio de Marabá. Aos seus olhos a festa reflete a beleza da devoção da Virgem de Nazaré ao seu filho Jesus. E é pela fé que ela inspira antes, durante e depois da grande festa, que os romeiros se aproximem cada vez mais de Cristo.
Para nortear e encher de luz o coração dos devotos, anualmente o Círio é regido por um tema. Essa escolha convida a comunidade à reflexão religiosa, fazendo com que a vivência espiritual seja uma verdadeira romaria pessoal e interna, onde os fiéis podem se conectar profundamente com os ensinamentos sagrados de Cristo.
Em 2025, o Círio desbrava “Maria, sinal de esperança”. Pois, assim como um farol que orienta navegadores na escuridão, a mãe de Jesus ilumina os caminhos daqueles que buscam o contato com Jesus.
Leia mais:“Como cristão católicos devemos ser pessoas de esperança. Maria esperava o Salvador e foi contemplada sendo sua mãe”, explica Dom Vital. Para além da conexão bíblica, o tema também foi inspirado na decisão do Papa Francisco em instituir 2025 como o ano dos “Peregrinos da Esperança”. Nessa mística, Maria é o sinal que indica o verdadeiro caminho: Jesus.
“Em um mundo de muitas polarizações, de guerras e violência, devemos ser pessoas de fé, diálogo e amor. E Maria é este farol de esperança”, resume. A confirmação desta análise pode ser encontrada nos diversos eventos que embalam o Círio, entre eles as visitas missionárias. Casas são frequentadas e o povo católico – ou não – é acolhido, inclusive aqueles que pouco participam da religião durante o ano, mas que são chamadas à devoção pela romaria.
“A multidão aumenta a cada ano e pessoas de outras igrejas acabam participando também. O marabaense fica, de fato, envolvido. Nós (Igreja) devemos ir ao encontro do povo e acolhe-lo”, afirma o bispo. Para isso, um longo trabalho é feito pela organização da festa, envolvendo diretores, coordenadores, marketing, guardas da Santa e equipe de segurança. Tudo para que o Círio seja vivenciado com tranquilidade e, principalmente, dedicação ao divino.
“O que me marca é ver o povo com o pé descalço”
Em cada passo do trajeto os romeiros deixam um rastro de fé. Pedidos são feitos, promessas são pagas, orações se derramam como cachoeira, inundando o percurso entre a Marabá Pioneira e a Folha 16. É esse mar de espiritualidade que marca o coração de Dom Vital.
“Ver aquele povo descalço, agarrado na corda da berlinda, com um tijolo na cabeça. Ver pessoas que estavam praticamente desenganadas dizendo que foram abençoadas por Nossa Senhora de Nazaré, são coisas fantásticas que nos marcam”, diz em tom de testemunho.
Ele também afirma que o Círio de Marabá é orante, feito de orações de quem paga promessas, pela cidade e seus moradores, por si mesmo e pela paz no mundo. Pois, como disse Santo Agostinho: a oração é uma chave, que nos abre as portas do céu.
“Uma vez que a pessoa não pode tocar na berlinda, tem a corda. Quem está agarrado a ela, está ligado à Maria e com ela, a Jesus”, medita Dom Vital. De tão grudados na corda, ao ponto de ser impossível identificar qual mão é de quem, os promesseiros se unem a Nossa Senhora de Nazaré de forma física, que só é desfeita ao final da procissão. Uma comunhão que só é entendida em sua essencia por quem a experimenta.
Este ano, o Círio recebe uma nova corda, que mede 400 metros. Medida esta que será preenchida pela fé de quem pede que Maria seja sua intercessora junto a Jesus.

Nossa Senhora de Nazaré, rainha da Amazônia
Enquanto os olhos dos fiéis marabaenses se voltam para o Círio, os do mundo se abrem para a COP 30 e às discussões que cercam a crise climática. A Igreja Católica em Marabá, historicamente alinhada aos movimentos sociais e da terra, se une ao debate ambiental global.
“Queremos que as pessoas, as autoridades que vierem a Belém, possam de fator assumir posições em favor do povo amazônico”, diz Dom Vital com convicção.
Discutir a COP 30 dentro da Igreja traz à memória do bispo o momento em que o Papa Paulo VI, na década de 1970, disse que “Cristo aponta para a Amazônia”. Foi então que bispos brasileiros coroaram Nossa Senhora de Nazaré como Rainha da Amazônia. A própria história da imagem está conectada a esta região, pois ela foi encontrada em 1700, em Belém, às margens do igarapé Murutucú.
Nessa simbiose entre a santa, a cidade e a natureza, a proximidade da data da COP 30 (10 a 21 de novembro), em Belém, com a realização do Círio (dia 12 de outubro) no mesmo local, potencializa o papel da Igreja nessa relação.
Em Marabá, a diocese realizou um encontro chamado de pré-COP e elaborou um livro digital para ser distribuído nas escolas em preparação ao evento. “Colocamos nele também o valor da natureza, dos povos da Amazônia, povos indígena, ribeirinhos, do campo e da cidade”, complementa o bispo.
Assim, o Círio vai além de um farol que aponta para Jesus, se torna o elo entre o povo amazônida e a fé de que existe salvação para a humanidade. Promessas, orações e devoção são movimentos que levam os romeiros à presença de Nossa Senhora de Nazaré, colocando-os de joelhos diante daquela que é a grande intercessora, a mãe que entregou seu único filho para a redenção do mundo.