Correio de Carajás

O barato sai caro quando se entrega a pele a qualquer tatuador

O barbeiro Bruno Felipe Soares Nogueira, de 23 anos, não pagou um centavo por três tatuagens que fez com um homem que chegou em seu local de trabalho, na Folha 28, Nova Marabá, anunciando ser tatuador e se oferecendo para tatuá-lo. Agora, entretanto, terá que desembolsar uma boa quantia para tentar consertar três tatuagens, isso porque o resultado está longe de ser considerado bom.

No peito, o tatuador em questão tentou escrever a palavra ‘superação’, mas cometeu erro de grafia, esquecendo de um ‘ç’. Na tentativa de consertar, o desenho ficou ainda pior. O jeito, agora, será cobrir com outra proposta. Em outra frase, tatuada no braço de Bruno, é possível ler “Floresça onde Deus te platar“. Além de mais erros de grafia, a oração, dividida em duas linhas, está torta.

Bruno terá que desembolsar boa quantia para cobrir as tatuagens que deram errado

Por fim, o barbeiro também não gostou da terceira tatuagem, que também não considera reta. “Ficou feio pra caramba. Uma ficou tora, a outra o cara errou a grafia, em vez de colar cedilha colocou um a, e tem mais uma torta também, tudo no mesmo tatuador”, disse.

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Quando recebeu a proposta, Bruno sequer pensou que o resultado poderia ser tão desastroso. “Esse cara chegou na barbearia que eu trabalho, dizendo que sabia tatuar e eu caí nessa. Nem cheguei a pagar. Agora o barato saiu caro porque eu vou ter que cobrir”, lamenta.

A experiência, afirma, causa frequente constrangimento. “Nem gosto de ficar sem camisa porque tá muito feio mesmo, vou consertar agora. As que fiz depois e fiz com tatuador profissional ficou com outro resultado”, reconhece.

CONSERTOS

Em Marabá, a procura por profissionais que consertem tatuagens amadoras aumentou tanto nos últimos anos que o tatuador Junior Santos mudou o nome do estúdio que mantém na Folha 28 para “Oficina Tattoo”.

“Eu mudei o nome do estúdio por ironia porque o que chega de trabalhos para consertar aqui não é brincadeira. É algo que deixa qualquer profissional chateado. No fim não foram em um profissional porque acharam que seria caro, aí não pagaram R$ 150, mas pagaram R$ 30 ou R$ 50. Depois vão ter que pagar até cinco vezes mais para arrumar”, afirma.

Ele explica que este é um ramo em amplo crescimento por ser cada mais fácil a aquisição de quites para tatuar pela internet. “O cara compra o material facilmente e acaba sujando o trabalho dos outros porque qualquer pessoa arrisca uma tatuagem por R$ 20 ou R$ 30. Já houve caso em Marabá de gente aqui se dizendo tatuador e abusando de adolescente, chegou a ser preso”, alerta.

Essa, inclusive, é uma questão grave na cidade. “Hoje em dia o cara dorme pedreiro e acorda tatuador. Tem sempre pais trazendo menores para mudar tatuagens porque ficam com medo até de haver represálias da própria polícia, já que há desenhos com significados. Teve caso de uma adolescente de 14 anos que trouxeram aqui porque um certo cidadão fez um palhaço nela”, conta.

No submundo do crime, a tatuagem de palhaço, dependendo da forma como este esteja representado, significa que o portador teria assassinado um policial e essa é uma informação amplamente conhecida por ambos os lados, do crime e da lei. “Elas (adolescentes) nem respondem como pagaram por aquilo e é complicado porque os pais se preocupam”, observa.

Conforme Junior, ele só tatua menores de 18 anos acompanhados dos pais e se for para cobrir uma tatuagem anterior problemática. Conforme a legislação, tatuar criança ou adolescente sem consentimento é considerado crime de lesão corporal de natureza grave.

DICAS

Aeverton de Andrade Silva, o Ton, de 30 anos, ficou satisfeito logo com a primeira tatuagem que fez, mas no caso dele não houve simplesmente sorte e sim bom senso.  O técnico em refrigeração afirma que escolheu como tatuador alguém cujo trabalho já acompanhava e de quem possuía referências.

“Não tive problema de ter que refazer nada, foi minha primeira experiência e eu escolhi alguém que já conhecia há bastante tempo. Toda vez que alguém vai fazer a primeira a gente tem receio de doer, de não ficar bom, mas como minha primeira tatuagem a experiência foi boa e nada tenho a reclamar, saiu do jeito que eu queria e eu confiava no trabalho do tatuador”, declarou.

Ton escolheu um profissional que já acompanhava e não se arrepende da primeira tatuagem

 

O profissional Junior Santos explica que pesquisar antes de decidir pelo estúdio onde será feito o trabalho é passo essencial para que o resultado saia como o planejado. Dentre os quesitos a serem analisados, estão licenças, higiene e experiência do profissional.

“Eu vivo disso, portanto tenho as licenças, faço cursos, uso bom material, tudo isso é importante. É legal chegar com o tatuador e conversar com ele também porque tem tatuador que capta imagem de outros na internet e posta no Instagram como sendo dele. Pegam de um profissional ótimo, compartilham e as pessoas procuram por aquilo.  É importante conversar com quem vai oferecer o serviço, saber há quanto tempo atua, se tem foto de trabalho recente e cicatrizado”, detalha.

Junior dá dicas para não se arrepender após passar pelo procedimento definitivo

Segundo ele, o cliente tem que estar disposto, inclusive, a ouvir um ‘não’ e acatar conselhos quanto a desenhos e cores. “Eu converso sobre o que vai funcionar. O tatuador tem que entender de pele, de imagem, de desenho, da legislação, de cores, para poder fazer indicações ao cliente”.

Higiene, destaca, é outra questão primordial. “A tatuagem, se não for feita, num canto com higiene, material descartável e esterilização, pode trazer sérios problemas. Ela (pessoa) pode pegar uma hepatite, uma Aids, se tiver coliformes focais pode pegar uma infecção e essa é o menor dos problemas porque pode ser tratado, o problema é uma doença mais grave”, afirma.

O tatuador diz já ter circulado notícias entre os profissionais que pessoas chegaram a ser hospitalizadas em Marabá. “Soubemos de gente que ficou internada aqui com problema grave por causa de tatuagem. Tem que ver a assepsia do local, não dá pra tatuar o cara que acabou de chegar da praia, não é assim. Tem lugar que tem criança correndo num canto, cachorro passando no outro, gente se xingando, cheiro de comida, não pode ser assim”, orienta.

Por fim, Junior lembra que a pessoa tatuada também precisa estar disposta a proceder com os cuidados pós-tatuagem, como higienização e cuidados com a cicatrização. “O pessoal ama fazer tatuagem e ir pra praia em seguida, depois a cicatrização fica ruim. Querem tatuar e correr em seguida, 11 da manhã no sol, com tatuagens recentes, depois reclamam quando não cicatriza bem”, encerra. (Luciana Marschall)