Correio de Carajás

Número de pessoas deslocadas à força no mundo bate recorde de 110 milhões

Somente no ano passado, mais 19 milhões de pessoas foram deslocadas à força, incluindo mais de 11 milhões que fugiram da invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia

(crédito: Danilo GOMEZ/AFP)

Cerca de 110 milhões de pessoas tiveram que fugir de suas casas devido a conflitos, perseguições ou violações dos direitos humanos, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. A guerra no Sudão, que deslocou quase 2 milhões de pessoas desde abril, é apenas a mais recente de uma longa lista de crises que levaram a esse número recorde.

“É uma acusação e tanto sobre o estado do nosso mundo”, disse Filippo Grandi, que lidera a agência de refugiados da ONU, a repórteres em Genebra, antes da publicação na quarta-feira do Relatório de Tendências Globais do Acnur para 2022.

Somente no ano passado, mais 19 milhões de pessoas foram deslocadas à força, incluindo mais de 11 milhões que fugiram da invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia, no que se tornou o maior e mais rápido deslocamento de pessoas desde a Segunda Guerra Mundial.

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“Somos constantemente confrontados com emergências”, disse Grandi. No ano passado, a agência registrou 35 emergências, três a quatro vezes mais do que nos anos anteriores. “Pouquíssimas chegam às manchetes”, acrescentou Grandi, argumentando que a guerra no Sudão saiu da maioria das primeiras páginas depois que os cidadãos ocidentais foram evacuados.

Os conflitos na República Democrática do Congo, na Etiópia e em Mianmar também foram responsáveis pelo deslocamento de mais de 1 milhão de pessoas em cada País em 2022.

A maioria dos deslocados em todo o mundo buscou refúgio dentro das fronteiras de seus países. Um terço deles – 35 milhões – fugiu para outros países, o que os torna refugiados, conforme o relatório do Acnur. A maioria dos refugiados é acolhida por países de baixa e média renda na Ásia e na África, e não por países ricos da Europa ou da América do Norte, disse Grandi.

Atualmente, a Turquia abriga o maior número de refugiados, com 3,8 milhões de pessoas, a maioria sírios que fugiram da guerra civil, seguida pelo Irã, com 3,4 milhões de refugiados, a maioria afegãos. Mas há também 5,7 milhões de refugiados ucranianos espalhados por países da Europa e de outros continentes. O número de apátridas também aumentou em 2022 para 4,4 milhões, segundo os dados do Acnur, mas acredita-se que essa seja uma subestimação.

Com relação aos pedidos de asilo, os EUA foram o país que recebeu o maior número de novos pedidos em 2022, com 730.400 pedidos. É também o país com o maior acúmulo em seu sistema de asilo, disse Grandi. “Uma das coisas que precisam ser feitas é reformar o sistema de asilo para que ele se torne mais rápido e mais eficiente”, disse ele.

Os Estados Unidos, a Espanha e o Canadá anunciaram recentemente planos para criar centros de processamento de asilo na América Latina, visando reduzir o número de pessoas que se dirigem para o norte, para a fronteira entre o México e os EUA.

À medida que o número de solicitantes de asilo cresce, também aumentam os desafios que eles enfrentam. “Estamos vendo reveses. Vemos regras de imigração ou de admissão de refugiados cada vez mais rígidas. Vemos em muitos países a criminalização de imigrantes e refugiados, culpando-os por tudo o que aconteceu”, disse Grandi.

Na semana passada, os líderes europeus renovaram as promessas financeiras às nações do norte da África, na esperança de conter a migração pelo Mediterrâneo, enquanto o governo britânico insiste em um plano até agora fracassado de enviar os solicitantes de asilo para Ruanda, algo a que o Acnur se opõe. Mas também houve algumas vitórias, disse Grandi, apontando para o que ele descreveu como um sinal positivo nas negociações da União Europeia para um novo pacto de migração e asilo, apesar das críticas de grupos de direitos humanos.

Grandi também comemorou que o número de refugiados reassentados em 2022 dobrou para 114 mil em relação ao ano anterior. Mas ele admitiu que isso “ainda é uma gota no oceano”. Fonte: Associated Press.

(Fonte: Correio Braziliense)