Pesquisadores podem ter encontrado a solução para a embriaguez ao desenvolverem um gel de proteína que quebra o álcool no trato gastrointestinal, antes que ele entre na corrente sanguínea. O produto combate os sintomas alcoólicos, mas não previne em caso de intoxicação alcoólica.
O estudo desenvolvido pelo Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich) foi publicado em 13 de maio na revista Nature Nanotechnology. Os cientistas mostram que, em camundongos, o gel reduz depressa parte significativa dos níveis de álcool no sangue, causando menos danos nos órgãos.
A maior parte do álcool entra na corrente sanguínea através da camada de mucosa do estômago e intestinos, resultando em efeitos prejudiciais. Apesar de ingerido em pequenas quantidades, pode afetar a concentração e a capacidade de reação, aumentando o risco de acidentes.
Leia mais:O consumo regular e excessivo de bebida alcoólica está associado a várias doenças, como enfermidades hepáticas, inflamação gastrointestinal e câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3 milhões de pessoas morrem anualmente devido ao consumo abusivo de álcool.
Os cientistas ferveram proteínas comuns do soro de leite por várias horas, transformando-as em fibrilas longas e finas. Ao adicionar sal e água como solvente, as fibrilas se ligam cruzadas, formando um gel.
A principal vantagem desse gel é sua digestão lenta. No entanto, para quebrar o álcool, o produto requer ferro. “Imergimos as fibrilas [de proteína] em um banho de ferro, por assim dizer, para que possam reagir efetivamente com o álcool e convertê-lo em ácido acético”, afirma Jiaqi Su, primeiro autor do estudo.
O gel contém também pequenas quantidades de peróxido de hidrogênio, necessárias para iniciar a reação no intestino. Essas são produzidas pela mistura de glicose e nanopartículas de ouro — este último foi escolhido como catalisador para o peróxido, porque não é digerido e permanece eficaz por mais tempo no trato digestivo.
Os pesquisadores encapsularam todas essas substâncias – ferro, glicose e ouro – no gel, resultando em uma série de reações enzimáticas, que convertem o álcool em ácido acético. “O gel desloca a quebra do álcool do fígado para o trato digestivo”, explica o Professor Raffaele Mezzenga do Laboratório de Alimentos e Materiais Macios no ETH Zurich, em comunicado. “Ao contrário da metabolização do álcool no fígado, nenhum acetaldeído prejudicial é produzido como produto intermediário.”
Apesar do gel ser eficaz enquanto o álcool estiver no trato gastrointestinal, ele não ajuda em casos de intoxicação alcoólica, nem auxilia na diminuição do consumo de bebida alcoólica, uma vez que o líquido tenha passado para a corrente sanguínea. Acontece que o acetaldeído, produzido durante a metabolização alcoólica no fígado, é tóxico e causa diversos problemas de saúde relacionados ao consumo excessivo.
Ainda assim, no futuro o gel poderá ser tomado antes ou durante o consumo de bebida alcoólica para prevenir os danos causados pelo acetaldeído. “É mais saudável não beber álcool. No entanto, o gel pode ser de particular interesse para pessoas que não querem abrir mão completamente do álcool, mas não querem sobrecarregar seus corpos e nem estão procurando ativamente seus efeitos”, explica Mezzenga.
(Fonte: Revista Galileu)