Exatamente um ano após o trágico colapso que ceifou 14 vidas e deixou três pessoas desaparecidas, a nova Ponte Juscelino Kubitschek (JK) foi inaugurada nesta segunda-feira (22), restabelecendo a vital ligação rodoviária entre os estados do Maranhão e do Tocantins sobre o Rio Tocantins. A cerimônia, que contou com a presença de autoridades federais e estaduais, marcou não apenas a reabertura de um corredor econômico crucial na BR-226, mas também um momento de profunda reflexão e um clamor por responsabilização pela catástrofe que chocou o país.
Com um investimento de mais de R$ 171 milhões, a nova estrutura foi entregue após meses de trabalho intensivo e rigorosos testes de segurança, prometendo restaurar a normalidade e impulsionar o desenvolvimento na região.
A inauguração oficial ocorreu por volta do meio-dia, com uma cerimônia simbólica de corte de fita realizada no centro da nova estrutura. O ministro dos Transportes, Renan Filho, ao lado dos governadores do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e do Maranhão, Carlos Brandão, liderou o evento. Após o ato, o tráfego foi oficialmente liberado no início da tarde, pondo fim a um ano de desafios logísticos que dependeram de balsas e longos desvios. “Hoje é um dia de recomeço”, declarou o Ministro Renan Filho, destacando o compromisso do governo federal em entregar a obra no prazo.
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Moderna e segura
A nova ponte, executada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), é um marco da engenharia moderna. Com 630 metros de extensão e 19 metros de largura, a estrutura conta com duas faixas de rolamento de 3,6 metros cada, dois acostamentos de 3 metros de largura e passarelas para pedestres em ambas as extremidades, protegidas por barreiras de concreto do tipo New Jersey.
A construção, que totalizou um investimento de R$ 171,97 milhões, utilizou o método de “balanço sucessivo”, que permite a montagem rápida de segmentos a partir de um pilar central, técnica ideal para grandes vãos como o de 154 metros sobre o rio. Mais de 500 profissionais trabalharam em dois turnos, dia e noite, para garantir a conclusão do projeto dentro do prazo de um ano.
Para assegurar a total segurança da nova travessia, o DNIT realizou mais de 20 horas de testes de carga no fim de semana que antecedeu a inauguração. Oito caminhões betoneira, cada um pesando em média 30 toneladas, foram utilizados para simular condições extremas de tráfego. “Eles passaram em sequência, com velocidades diferentes, freando em cima da ponte. Estávamos com outro caminhão equipado com instrumentos de monitoramento e pudemos comprovar que a ponte é completamente segura”, garantiu Fábio Nunes, diretor de Infraestrutura Rodoviária do DNIT.
Um ano de luto
A inauguração, embora celebrada, foi indissociável da memória da tragédia de 22 de dezembro de 2024. Naquele dia, pouco antes das 15h, o vão central da antiga ponte, inaugurada em 1961, colapsou, lançando veículos e pessoas nas águas do Rio Tocantins. Das 18 pessoas que estavam na estrutura, apenas uma, Jairo Silva Rodrigues, sobreviveu. Catorze corpos foram recuperados após 42 dias de buscas intensivas, mas três vítimas — Salmon Alves Santos, de 65 anos, Felipe Giuvannuci Ribeiro, de 10 anos, e Gessimar Ferreira da Costa, de 38 anos — continuam desaparecidas.
Um ano depois, as famílias das vítimas seguem sem respostas definitivas e sem indenizações. Um laudo da Polícia Federal, concluído após sete meses de perícia, apontou que o colapso foi causado pela deformação da estrutura devido ao excesso de peso e ao acúmulo de veículos, além de falhas de manutenção. O delegado Allan Reis de Almeida afirmou que o desastre foi “anunciado” e que houve “omissão por parte de agentes públicos”. A investigação, no entanto, ainda está em andamento, sem indiciados ou previsão de conclusão.
A retomada da normalidade
O colapso da ponte gerou uma crise logística sem precedentes na região. A BR-226 é uma das principais vias de ligação entre as regiões Norte e Nordeste, essencial para o escoamento da produção agrícola e industrial. Durante um ano, a travessia foi realizada por balsas, de forma gratuita e ininterrupta, mas a solução emergencial não evitou os prejuízos. O tráfego intenso foi desviado para rodovias estaduais, causando danos à infraestrutura urbana de diversas cidades. O DNIT atuou na recuperação de mais de 390 quilômetros de estradas no Tocantins e 21 quilômetros no Maranhão para mitigar os impactos.
Para os moradores da região, a nova ponte representa mais do que concreto e aço. “Pra gente, não é só estrutura, pois ela conecta famílias e histórias”, resumiu Talita da Silva Costa, moradora de Estreito. A expectativa é de que a reabertura da ponte impulsione a economia local, reduza o tempo de viagem e, acima de tudo, devolva a sensação de segurança e normalidade a uma região marcada por uma tragédia que não será esquecida.
