O biólogo e pesquisador aposentado Noé Carlos Barbosa von Atzingen, 72 anos de idade, compareceu espontaneamente à Polícia Civil na última segunda-feira, 19, depois que soube que havia um mandado de prisão contra ele expedido pela 2ª Vara Criminal de Marabá.
A Reportagem do CORREIO soube, por meio de amigos do biólogo, que ele não estava foragido, como muitas pessoas haviam imaginado. Ele apenas mudou de endereço e não houve comunicação formal à Justiça. Vendeu sua chácara, onde residiu por mais de 30 anos na região do Murumuru e, aposentado, foi viver no Estado do Tocantins, na fronteira com o Pará, mas que sempre estava por Marabá, onde tem uma legião de amigos.
O delegado Vinícius Cardoso, superintendente de Polícia Civil do Sudeste, confirmou à Reportagem policial do CORREIO DE CARAJÁS nesta quarta-feira, 21, que Noé von Atzingen havia comparecido para cumprir o mandado de prisão em companhia de um advogado de defesa.
Leia mais:A reportagem também esteve, na manhã desta quarta-feira, na Secretaria da 2ª Vara Criminal, a qual informou que Noé fora encaminhado para o CTMM (Centro de Triagem Masculino de Marabá), no complexo do CRAMA (Centro de Recuperação Agrícola Mariano Antunes). O juiz titular da 2ª Vara ainda deve assinar os termos da prisão e encaminhar o caso para a Vara de Execuções Penais, que avaliará a situação de Noé, decidindo quanto tempo ele deverá ficar no presídio no cumprimento da pena.
Todavia, uma fonte da Justiça informou no início da tarde desta quarta que Noé deve progredir ao regime semiaberto em 30 de novembro de 2025, quando estiver com 75 anos de idade.
Em maio de 2017, Noé foi sentenciado a oitos anos de prisão, em regime semiaberto, pelo crime de estupro de vulnerável. Contudo, desde meados de 2016 ele não era visto em terras marabaenses.
O mandado de prisão datava de 31 de julho de 2022 (cinco anos após a sentença condenatória).
Saiba mais sobre o caso
Os autos da sentença narram que em 26 de abril de 2015, Noé praticou ato libidinoso diverso da conjunção carnal contra um menor de apenas 12 anos de idade. O jovem realizava uma caminhada entre o Núcleo Morada Nova e um banho na Vila Murumuru, quando foi abordado por Atzingen, que estava em um carro e lhe ofereceu carona.
A pedido de Noé, o menino sentou no banco do carona. O documento descreve que os abusos sofridos pela vítima começaram nesse momento, quando o acusado o tocou intimamente. A criança é levada até a “Reserva Ambiental Murumuru”, residência de Atzingen, e conduzida ao seu quarto onde, segundo consta no inquérito policial, o ato libidinoso foi praticado.
Após o ocorrido, Noé levou o menino para o banho na Ponte Murumuru, onde a irmã e amigos da vítima o esperavam. Uma nota de R$ 20 foi dada ao garoto e uma ameaça foi feita, para que ele não contasse a ninguém sobre o acontecido; do contrário, “a coisa ficaria ruim”. Apesar disso o menino acabou revelando para a irmã sobre o abuso que viveu.
Embora o acusado tenha alegado inocência, os depoimentos da vítima e de duas testemunhas (a irmã e um policial militar que atendeu o menino e a família no dia do ocorrido) foram cruciais para a condenação. Na audiência, o jovem narrou com clareza e pormenores o que viveu, confirmando as afirmações dadas na fase policial, além de descrever com detalhes a casa do acusado.
Em 15 de maio de 2017, o juiz Marcelo Andrei Simão Santos proferiu a sentença que condenou Noé von Atzingen a oito anos de reclusão, que deveria ser cumprida em regime semiaberto. Todavia, o magistrado considerou que o réu compareceu a todas as audiências e permitiu que ele recorresse da sentença em liberdade.
Menos de um mês depois, em 1º de junho de 2017, um oficial de justiça esteve na residência de Noé para entregar a intimação de sentença, mas ele já não estava mais lá. Um caseiro informou que o sentenciado estava há um ano sem aparecer na propriedade e que ele (caseiro) foi contratado por terceiros. Poucos dias depois disso, uma apelação foi impetrada junto ao Tribunal de Justiça do Estado.
QUEM É NOÉ VON ATZINGEN
Nascido em Rio Claro, interior de São Paulo, em 11 de setembro de 1950, ele estudou Biologia na maior instituição superior do país, a Universidade de São Paulo (USP). Em 1975 veio para a região vinculado ao Projeto Rondon, uma iniciativa do governo federal e que se tornou um embrião do que hoje é a Unifesspa. Aqui, pesquisou vetores da Doença de Chagas na circunvizinhança.
Noé também é um dos mentores da Fundação Casa da Cultura, a qual dirigiu por mais de 30 anos. Ele também e criou a Associação Marabaense de Proteção à Natureza (AMBM), dentre tantos outros feitos que o tornaram figura pública de destaque pela defesa do meio ambiente, resgate e preservação da história de Marabá. (Luciana Araújo)