Correio de Carajás

Nobel da Paz vai para ativista presa no Irã por lutar contra opressão a mulheres

Uma das mais cotadas para levar o prêmio, a ativista, atualmente presa, lidera a luta histórica pelos direitos das mulheres no Irã, que começou após a morte da jovem Mahsa Amini, presa por 'uso incorreto' do véu islâmico.

Ganhadora do prêmio Nobel — Foto: Reprodução/Twitter

A ativista iraniana Narges Mohammadi, voz do movimento de protestos em seu país pelos direitos das mulheres, venceu o Prêmio Nobel da Paz 2023, anunciado nesta sexta-feira (6).

Atualmente presa e condenada no total a mais de 30 anos de prisão e 154 chibatadas, Mohammadi, de 51 anos, vem liderando a luta histórica das mulheres no Irã contra a opressão do atual regime, que começou após a morte da jovem Mahsa Aminipresa em 2022 por “uso incorreto” do véu islâmico obrigatório no país (leia mais abaixo).

Há duas décadas, Mohammadi é uma das principais defensoras dos direitos das mulheres e da abolição da pena de morte no Irã, um dos países que mais utiliza esse método de punição. Ela já foi presa seis vezes, a primeira delas há 22 anos.

Mesmo atrás das grades, Mohammadi é atualmente vice-diretora do Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã, organização não governamental liderada por Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2003.

“Narges é uma defensora dos direitos humanos e uma pessoa que luta pela liberdade. Nós queremos apoiar sua luta corajosa e reconhecer milhares de pessoas que se manifestaram contra o regime teocrático de repressão e discriminação que tem como alvo as mulheres no Irã”, declarou a presidente do Comitê do Nobel, Berit Reiss-Andersen, que fez o anúncio do prêmio.

 

Em farsi, Reiss-Andersen repetiu o lema dos protestos no Irã durante a premiação: “Mulheres. Vida. Liberdade”.

Mohammadi é a 19ª mulher vencedora do Nobel da Paz, que tem 122 anos de existência. A última mulher premiada havia sido a jornalista filipina Maria Ressa, em 2021.

Após a premiação, o marido da ativista disse que “este prêmio vai encorajar a luta dela pelos direitos humanos”. “Este é um prêmio para o movimento pelas mulheres, pela vida e pela liberdade”.

Narges Mohammadi — Foto: Reuters
Narges Mohammadi — Foto: Reuters

Mais atualmente, ela se tornou um dos principais nomes da revolução que começou com a morte de Mahsa Amini.

Amini era uma jovem de 22 anos que em setembro de 2022 viajava de férias com a família pelo Irã quando foi abordada pela chamada polícia da moralidade – que fiscaliza o cumprimento das normas de vestimentas impostas a mulheres iranianas.

Amini foi presa por “uso incorreto” do véu, segundo a polícia iraniana, segundo quem ela usava o acessório mostrando um pouco do cabelo. Dois dias depois, ainda sob custódia policial, foi internada em estado grave, com lesões na cabeça. O caso começou a chamar a atenção no país, e a jovem morreu no hospital.

 

Instantaneamente, a morte de Mahsa Amini desencadeou um dos maiores movimentos contra o regime do Irã, comandando pelo líder supremo do país, Ali Khamenei, acusado de oprimir mulheres – o país tem presidente, mas, pelas leis iranianas, é o líder supremo quem dá a palavra final.

Desde então, mais de 500 pessoas morreram em protestos contra a repressão, segundo estimativas de organizações locais.

Mesmo estando atualmente presa e sem poder receber visita, Mohammadi conseguiu publicar um artigo recentemente no jornal “The New York Times” no qual diz que “quando mais nos prendermos, mais forte estaremos“.

O governo do Irã ainda não havia se manifestado sobre a premiação até a última atualização desta reportagem. Mas a agência de notícias iraniana Fars, estatal, disse que “o Ocidente escolheu premiar a prisioneira Narges Mohammadi por suas ações contra o serviço de segurança nacional do Irã”.

Ganhadora do prêmio Nobel — Foto: Reprodução/Twitter
Ganhadora do prêmio Nobel — Foto: Reprodução/Twitter

O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que fundou os prémios no seu testamento de 1895.

Antes do anúncio, o nome de Narges Mohammadi era um dos mais cotados nas principais casas de apostas do prêmio, assim como o do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e do opositor russo Alexei Navalny, também atualmente preso.

Mas especialistas apontavam as duas opções como pouco provável, por conta dos vencedores do ano passado. Em 2022, o Nobel da Paz foi para a ativista de Belarus Ales Bialiatski, a organização internacional russa pelos Direitos Humanos Memorial e a organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis.

(Fonte:G1)