Uma das lutas da atual vencedora do prêmio Nobel da Paz deste ano é para que o confinamento solitário nas prisões iranianas seja reconhecido como uma forma de tortura. De dentro da prisão, Narges Mohammadi é uma das principais lideranças das manifestações que inspira jovens no Irã contra a misoginia.
Além de dar o próprio depoimento, ela ouviu ativistas que passaram pelo isolamento forçado para escrever o livro “Tortura Branca”, que inspirou um documentário. O filme foi feito durante uma saída temporária da prisão para um tratamento cardíaco.
“Eu senti o pavor e a angústia por estar tão longe dos meus filhos. Andava tão rápido naquela solitária que eu estava quase correndo, dando a volta na cela. Sentia que se eu parasse um minuto, eu podia explodir”, conta Narges Mohammadi.
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Detido por 37 anos, um ex-preso político passou seis meses no vazio absoluto. As recordações são de causar frio na espinha. “Quando fecham e trancam a porta, você sente que as quatro paredes vão te esmagar”, diz Mohammadali Amouei.
Um jornalista tenta explicar o inexplicável: “Você está vivo, seus órgãos estão funcionando, mas o nada e o silêncio são uma forma de morte que você vai sentindo aos poucos na pele, na mente, no corpo”, diz Sasan Aghaei.
A técnica é muito usada por interrogadores da república islâmica para conseguir confissões que, depois, levam a penas de prisão perpétua ou morte.
O líder estudantil Abdollah Momeni se emociona ao lembrar o nojo que sentiu ao ser forçado a ler um documento cheio de mentiras: “Eu assinei para colocar um fim àquelas interrogações brutais. O que se seguiu foi uma farsa de julgamento”.
Narges Mohammadi conheceu essa forma de tortura psicológica em 2021, quando foi presa e jogada justamente no lugar que tentava combater: a solitária. Por seu ativismo, ela já foi detida 13 vezes.
O marido acompanhou o anúncio pela TV em Paris, onde vive com os filhos gêmeos do casal. Taghi não vê Narges há 11 anos. Kiana e Ali estão crescendo longe da mãe, mas se orgulham da coragem inabalável dela.
(Fonte:G1)