Nesta terça-feira (15), em que é celebrado o Dia Nacional do Homem, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) apresenta os principais serviços e estratégias que o Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe para os homens brasileiros, além de um panorama sobre como anda a saúde da população masculina no Pará.
A data comemorativa foi instituída em 1992 pela Ordem Nacional dos Escritores como uma forma de chamar a atenção da população masculina para cuidar da saúde. Já o Dia Internacional do Homem, como o mesmo objetivo, é celebrado no dia 19 de novembro.
Segundo o técnico da Coordenação Estadual de Saúde do Homem, Andrei Porpino, no Brasil, os homens vivem, em média, sete anos a menos que as mulheres, principalmente porque são os principais responsáveis por casos de violência interpessoal e suicídios, estão mais envolvidos em acidentes de trânsito, consomem mais cigarro e drogas ilícitas e procuram menos os serviços de saúde do que as mulheres. “Geralmente, quando os homens recorrem a uma unidade de saúde ou hospital, a doença já se encontra instalada, exigindo recursos mais especializados”, disse.
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Andrei Porpino assegura que muitas doenças podem ser prevenidas se os homens procurarem postos de saúde e equipes de saúde da família, com mais frequência. Pois, nesses locais, eles têm acesso a consultas e exames de rotina, vacinação, testagem rápida para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) (HIV, sífilis e hepatites B e C), tratamento odontológico, curativos; medicamentos e orientações.
De acordo com alguns estudos científicos, há diversos fatores que contribuem para que os homens não procurem as unidades de saúde. Entre os fatores individuais e socioculturais estão o medo de descobrir alguma doença, vergonha de expor o corpo a um profissional de saúde, costume de deixar tudo para depois, machismo, repulsa a qualquer ideia de mostrar “fraqueza”.
Entre outras causas estão o horário de funcionamento das unidades de saúde, não serem liberados do emprego para cuidarem da saúde; acreditam que os programas de saúde e as ações preventivas são destinadas apenas às mulheres, crianças e idosos.
Para facilitar e ampliar o acesso dos homens aos serviços de saúde e, dessa forma, reduzir as elevadas taxas de óbito e internação, foi instituída, em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem como público prioritário, os homens na faixa etária de 20 a 59 anos, sem desconsiderar os demais ciclos da vida (criança, adolescente e idoso). O PNAISH está dividido em cinco eixos:
• Acesso e acolhimento: para sensibilizar os profissionais de saúde a buscar e manter os usuários do sexo masculino nas unidades de saúde da Atenção Primária (postos de saúde), evitando a instalação de doenças que só podem ser curadas na Atenção Especializada (hospitais).
• Prevenção de acidentes e violência: para orientar ações que busquem a redução de óbitos e internação por causas externas (violência interpessoal, acidentes de transporte, acidente de trabalho e suicídios).
• Doenças prevalentes da população masculina: para atuar na prevenção e promoção da saúde por meio de ações educativas, organização de serviços e capacitação de profissionais da saúde. Entre os principais agravos, merecem destaque as doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão, diabetes, insuficiência renal e câncer).
• Saúde sexual e reprodutiva: para promover a prevenção de ISTs, garantir a observação dos direitos sexuais e reprodutivos, além de divulgar o planejamento familiar.
• Paternidade e cuidado: para preparar o homem para o exercício da paternidade participativa e responsável. Neste eixo temos a Estratégia do Pré-Natal do Parceiro.
Pré-Natal do Parceiro – Inspirada em experiência exitosas espalhadas pelo Brasil, a Estratégia do Pré-natal do Parceiro (EPNP) foi instituída em 2016, pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de efetivar o eixo “Paternidade e cuidado” da PNAISH, visando à estimular a participação ativa dos homens em todas as ações do planejamento familiar, gestação, parto, puerpério e desenvolvimento da criança.
Essa Estratégia prepara o homem para o exercício da paternidade responsável e ativa, além de ampliar o acesso masculino aos serviços dos postos de saúde. O futuro-pai faz consultas multiprofissionais, exames de rotina, testes rápidos para ISTs, toma vacina e participa de atividades educativas.
“Vale lembrar que a EPNP não é voltada apenas pai biológico e heterossexual. Também participar o pai socioafetivo, homossexual, trans e o pai solo (aquele que adotou sozinho uma criança)”, enfatizou Andrei Porpino.
Ele ressaltou que é importante que os profissionais de saúde da Atenção Primária estejam preparados para acolher o casal, saber explicar a importância da pré-natal do parceiro, tirar as dúvidas e divulgar o serviço para os usuários, com a participação dos agentes comunitários de saúde. “Nossa orientação é que os homens procurem o posto de saúde mais próximo de sua casa”, disse.
Morbimortalidade masculina – Conforme Andrei Porpino, um dado interessante é que até 2023, no estado do Pará, a população masculina era maior que a feminina, entretanto, em 2024, essa situação mudou e hoje, 50,01% da população paraense são de mulheres e 49,99% de homens. Somente quatro estados ainda apresentam mais mulheres que homens em sua população: Acre, Tocantins, Roraima e Mato Grosso. “Isso se deve, em parte, à maior mortalidade masculina em todas as faixas etárias, mas especialmente nas idades adultas, em que as causas externas, como acidentes e violência, são mais frequentes entre os homens”, informou.
“O envelhecimento populacional também contribui para a maior proporção de mulheres, já que elas tendem a viver mais tempo que os homens. A tendência de inversão na proporção de gênero, com as mulheres se tornando maioria, tem se intensificado nas últimas décadas no Brasil e no Pará, acompanhando um padrão global de aumento da expectativa de vida feminina”, acrescentou o profissional de saúde.
Sobre as principais causas de óbitos masculinos, Andrei Porpino citou as doenças crônicas não transmissíveis (hipertensão, diabetes, insuficiência renal e câncer) como as que mais matam, mas que também podem ser prevenidas com a adoção de bons hábitos. “Tem sido muito comum homens jovens apresentarem quadros de infarto e AVC. Os principais motivos dessa triste realidade são o consumo de alimentos processados e ultraprocessados, sedentarismo, a falta de exames de rotina para a detecção de doenças crônicas não transmissíveis e o estresse diário”, explicou.
As causas externas também são responsáveis por elevadas taxas de óbitos e internações masculinas, sobretudo nessa faixa etária. São classificadas como causas externas os seguintes agravos: fratura, traumatismo, perfuração, esganadura, asfixia, queimadura, afogamento e envenenamento, que resultam de violência interpessoal (agressão física), acidente de trânsito e suicídio.
De 2023 até o momento as causas de óbitos masculinos estão distribuídas da seguinte forma: doenças do aparelho circulatório (25,49%), causas externas (18,95%), tumores malignos (12,62%), doenças do aparelho respiratório (10,87%), doenças infecciosas e parasitárias (5,75%), doenças do aparelho digestivo (5,30%); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (5,23%) e doenças do aparelho geniturinário (3,18%).
Comportamento – Para se ter uma ideia do comportamento dos homens em relação ao cuidado com a saúde, Andrei Porpino apresentou um comparativo de atendimentos entre a população feminina e a masculina. No Pará, 56% da população paraense masculina está na faixa etária de 20 a 59 anos, que corresponde à idade adulta, período caracterizado por diversas fases e desafios. É a etapa da vida em que muitos homens estão estabelecendo suas carreiras, formando famílias e enfrentando responsabilidades financeiras.
Essa faixa também é um foco importante para a saúde masculina, com atenção especial para a prevenção de doenças e promoção de hábitos saudáveis. No entanto, os dados mostram que os homens ainda não estão procurando atendimento médico como deveriam. Tanto em 2023 como em 2024, do total de consultas na Atenção Primária, 63% foram feitas por mulheres e 37% apenas por homens. “Essa disparidade de números já foi maior, o que indica que a implementação da PNAISH nos municípios do Pará tem gerado bons resultados”, afirmou Andrei Porpino, acrescentando que a Sespa tem buscado um maior equilíbrio entre os dois gêneros dentro da APS.
Saúde mental e emocional – Para concluir, Andrei Porpino, disse que a saúde mental do homem é um tópico que merece cada vez mais destaque porque estigmas sociais podem levar homens a reprimir emoções e a não buscar apoio para problemas como depressão, ansiedade e estresse. Essa supressão pode ter consequências graves, como o aumento do risco de abuso de substâncias e, em casos extremos, suicídio. Por isso, promover um ambiente onde os homens se sintam à vontade para expressar seus sentimentos e buscar ajuda profissional, seja com psicólogos ou psiquiatras, é vital para o bem-estar masculino integral. “Cuidar da saúde é um investimento para o futuro, garantindo mais qualidade de vida e longevidade. Quebrar o silêncio, desconstruir preconceitos e priorizar o autocuidado são passos fundamentais para que a saúde do homem seja vista e tratada com a importância que ela realmente tem”, finalizou.
(Agência Pará)