Embora ainda sejam minoria no efetivo total, as mulheres podem atuar em diversas áreas das Forças Armadas – Exército, Aeronáutica e Marinha – da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. Atualmente elas podem ingressar como militares apenas por meio de concurso público para oficial, sargento ou profissional de diferentes áreas, como: médicas, engenheiras, advogadas, dentistas e assessoras de impressa, por exemplo.
Assim como no restante do Brasil, em Marabá o número de mulheres militares no Exército Brasileiro ainda é desproporcional ao efetivo de homens. São 2.338 militares do sexo masculino e 37 mulheres. Isso significa que elas fazem parte de 1,58% do total da tropa.
O efetivo da 23ª Brigada de Infantaria de Selva, que incluem as guarnições de Marabá, Tucuruí, Altamira, Itaituba e Imperatriz somam 4.611 pessoas, sendo que apenas 64 militares são mulheres, totalizando 1,38% do total. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo CORREIO DE CARAJÁS junto à Comunicação da 23ª Brigada.
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Luana: 3º Sargento
Natural de Belém, Luana Patrícia da Silva Lima, 38 anos, é filha de um militar aposentado da aeronáutica. Desde muito nova, a caçula de três irmãos sonhava em seguir a carreira nas Forças Armadas.
O destino até tentou levá-la para outros lugares, mas a vontade de largar a vida civil e ingressar no meio militar falava mais alto. “Quando éramos adolescentes, entregavam aqueles panfletos nas escolas, falando sobre o exercício militar e minha mãe já dizia que não. Então, estudei, comecei a trabalhar como técnica de enfermagem, mas sempre ficava de olho nos sites da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica”.
Até que um dia uma colega comentou sobre o processo seletivo da 8ª Região Militar (Comando Militar do Norte) e tudo mudou. “Montei meu currículo e fui participando das seleções sem falar nada para ninguém em casa. Eu trabalhava em dois hospitais em Belém e larguei tudo pra vir para Marabá”, revela.
Nessa mesma época, Luana havia prestado vestibular para o curso de Nutrição em uma universidade pública e não conseguiu a aprovação. “O resultado do vestibular saiu no mesmo dia da aprovação para o Exército”, conta.
Luana relembra que quando saiu o resultado ela avisou a mãe que estava indo embora. Sem saber e assustada, a mãe questionou pra onde a filha iria. “Para Marabá. Me inscrevi no concurso do Exército e minha vaga saiu pra lá”, respondeu sorrindo para a matriarca, que a chamou de maluca.
Separada e com duas filhas, para assumir o cargo militar Luana precisou deixar as meninas em Belém aos cuidados dos seus pais para que ela pudesse conhecer e se adaptar inicialmente à cidade.
Com o coração partido por deixar as filhas na capital do Estado, Luana seguiu em frente para realizar seu sonho. “Meus pais sempre foram o meu espelho e eu espero ser o espelho para as minhas filhas”.
Passados os 45 dias de estágio do serviço temporário, que é o período que o militar passa pelo aquartelamento – alojar em quartel – Luana finalmente teve sua entrada oficial no Batalhão.
“Durante esses 45 dias nós temos que nos habituar à rotina militar. A gente passa por tudo, vai pra selva fazer curso de sobrevivência por exemplo”, conta ela, falando que não achou ruim a experiência, já que tudo era novidade.
Tendo de extrair seu próprio alimento, água e dormir no relento, Luana diz que se virou para dormir bem, armar a rede de selva e aprender a fazer o nó. “Não é fácil, mas é uma experiência boa pra quem quer realmente. Vale a pena todo o sofrimento. O fotógrafo que nos acompanhou dizia assim ‘todas as tuas fotos tu estás sorrindo’ e eu disse pra ele que estava vivendo cada dia como se fosse o último. Eu curti o momento”.
Com a aprovação em todas as etapas, Luana foi alocada para o 23º Batalhão de Logística da Selva, no setor de saúde. Graduada como 3º Sargento do BLog, ela ficou um ano atuando no setor da saúde e há quatro está trabalhando no serviço de aprovisionamento, cuidando da segurança alimentar do Batalhão.
“Cuido da saúde dos manipuladores, da comida, do dia a dia, da manutenção de equipamentos predial”, explica.
Preconceito
Luana afirma que preconceito existe em todo lugar, mas que no Batalhão ela não consegue perceber de forma nítida. “Já ouvi comentários ‘se você entrou então aguenta’. Mas já melhorou muito. A gente faz tudo o que eles fazem. Vamos para o mato, pegamos no fuzil e vamos para a linha de frente. O preconceito por sermos mulheres existe, mas aqui não vejo tanto”.
Para o futuro
“Quero continuar fazendo meu trabalho, apoiando as missões e a saúde do Batalhão. Se tiver que viajar, viajo. Não tenho medo de encarar desafios. Tenho coragem e determinação”.
Volta pra Belém?
“Não. Minhas filhas estão bem adaptadas em Marabá e não querem mais voltar. E eu também não. Quando acabar meu prazo de 8 anos do serviço temporário pretendo montar um negócio próprio ou voltar a trabalhar em hospital na área da saúde”, antecipa. (Ana Mangas)