Correio de Carajás

No Dia do Café, conheça os ‘coffee lovers’ marabaenses

Para quem deseja se aventurar e experimentar cafés de qualidade, a dica é começar frequentando cafeterias especializadas para degustar diferentes tipos e classificações, além de, aos poucos, se acostumar a bebê-lo sem açúcar

Ana Carolina é barista, dona de cafeteria e casada com um amante de calor/Fotos: Evangelista Rocha

O cheirinho de café coado exala pela cozinha do brasileiro junto aos primeiros raios de sol. O pretinho sagrado é o combustível que impulsiona milhões de pessoas todos os dias e, para além de dar um ‘up’ na disposição, é motivo de adoração para um grupo seleto: os ‘coffee lovers’ (amantes de café).

Em alusão ao Dia Internacional do Café, 14 de abril, o Correio de Carajás conversou com um amante do pretinho e com uma barista para conhecer mais um pouco sobre os sabores e a qualidade do grão que é paixão nacional.

Foi durante seu processo de emagrecimento que Luís Carlos Nunes Oliveira, 40 anos, descobriu o charme do café gourmet. “Eu costumava correr no aeroporto. Lá havia um café expresso e, quando provei, percebi que mesmo sem açúcar ele não era amargo, era muito aromático e tinha algumas notas sensoriais”, relembra.

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Foi a partir dessa experiência que Luís investiu nos estudos sobre a bebida, começou a comprar cafés pela internet e passou a frequentar cafeterias, inclusive durante viagens, estabelecimentos dedicados a entregar café de qualidade. “Com essa imersão, ficou evidente para mim a diferença entre os cafés especiais e os vendidos em supermercados e atacados. Os cafés industriais têm qualidade muito baixa. Eles praticamente não têm cheiro, dulçor ou qualquer preservação dos carboidratos naturais do grão”, explica.

Neste contexto, o dulçor do café diz respeito à doçura que vem do próprio grão, sem adição de açúcar.

Foi durante seu processo de emagrecimento que Luís conheceu e se apaixonou pelo café de boa qualidade

Luís é um dos ‘coffee lovers’ que engrossam a crítica à torra excessiva do grão. Aquele pó industrializado, vendido no mercado, o café comum consumido pela maioria dos brasileiros, é reflexo de um processo que deixa o fruto praticamente carbonizado e que neutraliza qualquer aroma ou nota sensorial que poderia restar no produto final.

“O resultado é um café amargo, com sabor queimado, feito a partir de um processo muito mal executado. Já os cafés classificados como gourmet ou especiais mostram uma diferença gritante. É uma experiência completamente distinta”, detalha.

Como um bom brasileiro, Luís incorpora o cafezinho à sua rotina diária. Mas, para o ‘coffee lover’, o líquido não é bebido, é degustado. Seja em momentos de conversa com os amigos, reuniões para falar de música, encontros ou saídas com pessoas, o importante é apreciar um café de qualidade. “O importante pra mim é que o café seja claro, aromático e preserve o dulçor”, descreve o amante do pretinho.

Para quem deseja se aventurar e experimentar cafés de qualidade, a dica de Luís é começar frequentando cafeterias especializadas para degustar diferentes tipos e várias classificações, além de, aos poucos, se acostumar a tomar o café sem açúcar. “Cafés com torra média ou clara têm aquele aspecto de amendoim levemente torrado e uma coloração que preserva o dulçor natural. Isso facilita o paladar a se adaptar.”

De grão em grão, o futuro ‘coffee lover’ pode ir evoluindo conforme se desafia a conhecer as categorias, entendendo as intensidades e descobrindo qual versão do café lhe agrada mais.

Tipos de preparo

O café pode ser preparado de várias formas, sendo a prensa francesa uma das mais apreciadas. Basta adicionar o pó grosso de café à jarra, a água quente e deixar infundir por quatro minutos. Esse método preserva os óleos naturais do café, criando uma bebida encorpada e aromática.

A cafeteira italiana, ou moka, oferece um café forte e rápido. Neste método, coloca-se o pó na parte inferior e a água na parte superior. Quando aquecida, a água passa pelo café, resultando em uma bebida robusta com uma camada de crema na superfície.

O método de café coado é simples e tradicional. O pó de café é colocado sobre um filtro e a água quente é despejada lentamente, criando uma bebida suave e sem amargor. Já o café expresso é preparado em máquinas que forçam a água quente por alta pressão contra o café, resultando em um líquido denso e concentrado, ideal para quem busca intensidade e rapidez.

Diversidade cafeeira: torra clara, média e escura; prensa francesa, cafeteira italiana e café coado

Cafeteria que surgiu na pandemia é referência na cidade

Em 2020, durante a pandemia de covid-19, o casal Ana Carolina Gama e José Newton Guimarães decidiu trabalhar com café e abriu a primeira cafeteria de Marabá, a Uai Coffe. Ao longo desses cinco anos, o empreendimento cresceu e, em 2023, abriu o espaço físico para receber tanto quem já era cliente quanto aqueles que futuramente descobririam a sedução de um café com qualidade.

“Na pandemia, fizemos uma pesquisa de mercado e percebemos que, embora o café seja amplamente consumido, ele ainda é oferecido quase sempre da mesma forma: coado e com qualidade bastante baixa”, explica Ana Carolina, que também é barista.

Durante a entrevista ao Correio, ela contou que não é uma amante de café, mas José Newton, seu marido, é o maior ‘coffee lover’ que conhece.

Em 2020, durante a pandemia, Ana e o esposo abriram a primeira cafeteria de Marabá, a Uai Coffe

Ao enxergar a oportunidade de trazer uma experiência diferente para o consumidor marabaense, o casal assumiu o compromisso de entregar o melhor processo — que nasce na procedência do grão, desde a colheita manual até o preparo do pacote. O fruto é torrado e moído na própria cafeteria, autonomia que agrega ainda mais qualidade ao produto final. “Hoje temos equipamentos profissionais e um cardápio completo de bebidas quentes e geladas à base de café. O café coado é, sem dúvida, o queridinho do público, mas também oferecemos métodos como prensa francesa e italiana, sempre reforçando que o café pode ser apreciado de várias formas”, aprofunda Ana Carolina.

E por falar em qualidade

A barista, assim como Luís, analisa que o café consumido pela maioria dos brasileiros é de péssima qualidade. Para atender à demanda industrial, os grãos são misturados com impurezas como milho, soja e até pedrinhas — algo semelhante ao que a gente encontra quando cata feijão. Como o café vem moído e supertorrado, essas impurezas são disfarçadas, mas estão lá.

“Isso explica o amargor excessivo, a dor de cabeça e o mal-estar que muita gente sente. Aqui, nossos grãos são 100% arábica, cultivados em região montanhosa e colhidos com cuidado, resultando num sabor naturalmente adocicado. Uma torra média ou clara permite destacar essas notas sensoriais, como caramelo e chocolate, proporcionando uma verdadeira experiência gastronômica”, finaliza. (Luciana Araújo)