Correio de Carajás

NATAIS POR FRANCISCO: Onde houver tristeza, que eu leve alegria

É com sorrisos e lágrimas nos olhos que a jovem Daniela Tauana nos conta sobre a felicidade e desafios de desenvolver um projeto de inclusão social na periferia de Marabá

Daniela: “Esses meninos podem, sim, ser diferentes e fazer a diferença em suas próprias vidas e nas de suas famílias”

Neste dezembro, oferecemos ao leitor histórias que sintetizam o que há de mais humano em nós – amor, alegria, fé, luz e esperança – reportagens inspiradas em São Francisco de Assis, que revolucionou a Igreja no século XIII e, posteriormente, ganhou uma oração, que se transformou em uma das preces mais populares no Ocidente. As palavras acima, que estão em negrito, foram retiradas da Oração de São Francisco para mostrar que em Marabá há pessoas que vivem os ideais dessa prece ajudando o próximo.

Quando você lê o termo “Projeto JPEG” na camiseta de Daniela Tauana Nóbrega Soares Guimarães, não pense que ela trabalha com fotografia ou outro formato digital. É uma servidora pública. Mas a imagem na camisa trata-se de uma sigla para “Jovens Pregando o Evangelho da Graça”. E esse trabalho é feito com auxílio de outros jovens no Bairro Jardim União em uma área da periferia de Marabá onde a violência e o uso de drogas são temas recorrentes.

Desde 2013, é das ruas poeirentas daquele bairro e adjacências que surgem os meninos e meninas de várias idades, que chegam à sede do JPEG, em uma ampla área que a Igreja Batista mantém no Jardim União. Aos finais de semana, os garotos jogam futebol, vôlei, queimada, ganham lanche, acompanham palestras e recebem mensagens espirituais.

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Daniela Tauana é gestora atual do JPEG, que visa oferecer entretenimento às crianças e adolescentes através do esporte, de momentos de lazer e, acima de tudo do cuidado, da instrução com carinho e amor.

Antes da pandemia, em 2019, havia 96 inscritos no projeto, tendo retornado em 2022 de forma bem discreta, contando com 60 crianças e adolescentes. “Quando eles chegam, há o o momento do estudo, de reflexão breve, por cerca de 20 a 30 minutos. Após isso, nós temos o momento de esporte, os meninos jogam futebol e as meninas praticam vôlei, todos com ajuda de instrutores. Depois, vem o momento do lanche”, diz, sendo este um dos mais esperados, porque alguns têm pouco para comer em casa.

Daniela diz que, ao longo do tempo, dá para perceber a mudança de comportamento entre os participantes do projeto. “Hoje vemos que eles praticamente não brigam, não se envolvem em confusão e nem desentendimentos, coisas que aconteciam com frequência no início. O respeito vai sendo ensinado e, consequentemente, adquirido. Vamos os respeitando e isso passa a ser recíproco. E se não for assim, não funciona”.

Maria de Lourdes e filhos no JPEG: “eles melhoraram a educação”

A gestora revela que conversou com uma adolescente que confessou que chegou a usar drogas, mas abandonou graças ao JPEG e a segurança que ele oferece. “Isso também traz motivação pra gente continuar desenvolvendo esse trabalho. Algumas pessoas perguntam qual é o sentido do projeto e de continuarmos com esse trabalho, e eu sempre falo que se a gente conseguir resgatar um deles das drogas e criminalidade, então teremos cumprido nosso papel. Nós buscamos mostrar a esses meninos e meninas uma alternativa de vida, que eles podem sim ser diferentes e fazer a diferença em suas próprias vidas e nas de suas famílias”.

Ela também destaca que, acima da carência financeira, existe também a carência emocional e sentimental, algo que o projeto procura oferecer. Essa visão de que tem alguém que olha por eles, cuida, traz suporte e quer ver o crescimento deles.

Em quase 10 anos de JPEG, atualmente alguns meninos que chegaram à maioridade continuaram como voluntários no projeto, ajudando outras crianças e adolescentes de sua própria comunidade.

PALAVRA DE MÃE

Maria de Lourdes Porto, 48 anos, tem cinco filhos e quatro deles participando do JPEG. Ao ser questionada o que notou de diferente neles depois que começaram a participar do projeto, ela afirma com segurança: “Eles melhoraram a educação, principalmente, na escola, no dia a dia em casa. Tudo isso em conjunto ajuda a formar um ser humano com princípios da palavra de Deus, que influencia em seus ideais e no que são”, diz, orgulhosa.

PALAVRA DE FILHO

Fabro do Santos da Silva, 17 anos, entrou no JPEG com 11 anos de idade e permanece até hoje como aluno, mas pretende se voluntariar assim que completar 18 anos.

Ao ser indagado sobre o que mudou em sua vida depois de participar do projeto, ele confessa. “Muda muita coisa, a gente chega triste e sem rumo, mas recebe a palavra de Deus, tem o esporte como meio de educação, ganha uma refeição e já volta pra casa renovado, feliz, com sorriso no rosto”.

Crianças e adolescentes alegres na programação de encerramento das atividades de 2022

Fabro diz tem muitos amigos que só abandonaram as drogas depois que ingressaram no projeto JPEG. “Eu estava me tornando usuário quando entrei no projeto e consegui largar essa vida, tomei outro rumo, hoje estou no 2º ano do ensino médio e com fé em Deus passarei para o terceiro”, diz, orgulhoso. (Ulisses Pompeu)