Correio de Carajás

Não há comprovação que morte de menino em Arujá (SP) tem relação com vacina.

Enganoso
É enganoso o vídeo que atribui a morte de um adolescente de 12 anos à vacinação contra a covid-19. O caso está sob investigação do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do Estado de São Paulo. Além disso, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não há até o momento confirmação de mortes de crianças associadas a eventos adversos pós-vacinação da covid-19.
  • Conteúdo verificado: Um vídeo publicado no Instagram e em grupos de WhatsApp atribui a morte de um adolescente de 12 anos à vacinação contra a covid-19.

É enganoso um vídeo que circula no Instagram e no WhatsApp e que relaciona a morte de um adolescente de 12 anos em Arujá (SP), no dia 3 de fevereiro de 2022, à vacinação contra covid-19. O médico legista responsável pela necropsia informou ao Comprova que o óbito ocorreu devido a uma malformação vascular. Já a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo comunicou que a investigação ainda está em andamento, não sendo possível associar o óbito à imunização.

O vídeo traz imagens da criança e uma narração feita pelo pai. Ele afirma que o menino sofreu um infarto fulminante enquanto andava de bicicleta. O homem também diz que foi questionado pelos médicos e pelo perito do Instituto Médico Legal (IML) se o filho havia sido vacinado contra a covid-19. Nas imagens são mostrados um atestado de óbito e uma carteira de vacinação.

A Secretaria Municipal de Saúde de Arujá disse que só será possível atestar a causa do óbito após a conclusão do exame necropsia emitido após cerca de 40 dias da morte.

Leia mais:

O Comprova falou com Luciley Cavalcante, mãe do adolescente, por mensagens em uma rede social. Ela informou que o menino nunca foi ao cardiologista, mas que fazia consulta de rotina com o médico da família a cada seis meses.

Segundo Luciley, a desconfiança deles quanto à vacina se deu pelas perguntas que os profissionais do IML fizeram sobre a vacinação do menino quando o corpo foi liberado.Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, responsável pelo IML, não existe um protocolo de questionamento quanto à vacinação nessas situações.

Os familiares foram procurados pela Secretaria Estadual de Saúde. A mãe confirmou que os médicos que atenderam o menino mencionaram doenças cardíacas pré-existentes como causa da morte.

O perfil que publicou o vídeo também foi procurado pela equipe, e respondeu que deveríamos procurar a mãe da vítima e nos encaminhou um link com a postagem dela para um vídeo muito semelhante, mas com a narração dela.

O conteúdo foi classificado como enganoso porque usa informações ainda em apuração para divulgar material antivacina.

Como verificamos?

No vídeo, localizamos a imagem do cartão de vacinação. No documento há o nome, local e dados das vacinas aplicadas. Em outro trecho da gravação, há uma imagem da certidão de óbito.

A resolução do vídeo é baixa e dificultou o entendimento de algumas das informações, porém conseguimos confirmar o nome da vítima, da mãe e do pai e o endereço residencial.

Pesquisamos no Instagram e através do nome, localizamos o perfil do adolescente.

Ao pesquisar as pessoas que ele seguia, localizamos o perfil da mãe. Como estava bloqueado, buscamos o mesmo nome no Facebook e encontramos a conta dela, Luciley Cavalcante, e do pai, Renildo Alves. A mãe também está divulgando o vídeo em suas redes sociais afirmando que a morte teria sido causada pela vacinação contra covid.

Entramos em contato com a família através das redes sociais.

No cartão de vacinação consta que o garoto foi imunizado na Unidade Básica de Saúde Municipal Parque Rodrigo Barreto, em Arujá/SP. A primeira dose foi administrada em 9 de setembro de 2021 e a segunda em 6 de dezembro de 2021, ambas da Pfizer.

Enviamos e-mail solicitando informações sobre o caso para a Secretaria Municipal de Saúde de Arujá, Secretaria de Estado da Saúde, Ministério da Saúde, Anvisa, Pfizer e Polícia Civil de SP.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis até o dia 3 de março de 2022.

Verificação

Causa da morte

O pai do menino, Renildo Alves da Silva, conta no áudio que o garoto passou mal em frente ao portão de casa. Ele foi encontrado caído e com o rosto roxo. Segundo a mãe, Luciley Cavalcante, o menino foi levado para a UPA Barreiro, mesma unidade onde foi vacinado. Ele faleceu no local em 3 de fevereiro.

A família relata que o corpo foi levado ao IML e que o laudo ainda não foi disponibilizado a eles. Ainda no vídeo, o pai conta que o menino era saudável e realizava exames regulares. Ao Comprova, no entanto, a mãe relatou que a criança nunca foi atendida por um cardiologista.

O médico chegou a afirmar que “não foi constatada nenhuma relação com a vacinação”, mas não deu detalhes, e também não comentou sobre a condição prévia de saúde do adolescente.

A certidão de óbito também afirma que a morte foi provocada por causas cardíacas. O documento descreve: choque cardiopático, infarto agudo do miocárdio, arritmia cardíaca e miocardiopatia hipertrófica.

Mesmo assim, a Secretaria Municipal de Saúde de Arujá e a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo ainda apuram se há relação da morte com a vacinação. Em nota ao Comprova, a pasta estadual classificou como “precipitado e irresponsável afirmar, neste momento, que o caso está relacionado à vacinação”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Saúde não foram notificados sobre a morte em Arujá.

Brasil não tem mortes de crianças pelas vacinas

Não há registro de mortes de crianças relacionadas à vacinação contra o coronavírus. A informação foi divulgada pelo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, em entrevista à Agência Senado no dia 16 de fevereiro deste ano. De acordo com Barra Torres, apenas dez crianças nos Estados Unidos tiveram efeitos adversos graves após a vacina, mas todas tiveram alta médica.

A vacinação de adolescentes contra a covid-19 no Brasil é feita com a Pfizer e a Coronavac. O grupo de 12 a 17 anos, do qual o menino fazia parte, passou a ser vacinado em setembro de 2021, após recomendação do Ministério da Saúde.

Por que investigamos?

O Comprova verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais ou aplicativos de mensagem sobre a pandemia do coronavírus, eleições e políticas públicas. O conteúdo verificado teve mais de 61 mil interações apenas no Instagram. Também é possível localizar o vídeo enganoso no Facebook e ele circula também no WhatsApp.

Não há até momento a confirmação de que a morte do menino tenha sido causada pela vacina da Pfizer. Assim, o conteúdo compartilhado contribui para a disseminação de notícias falsas sobre a vacinação contra o coronavírus.

Em outras verificações, o Comprova já mostrou ser enganoso, um post que relacionava a morte de uma criança com CoronaVac e que não há registro de mortes de crianças causadas por vacinas contra a covid-19 no Brasil.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Desde 2020 o Correio de Carajás integra o Projeto Comprova, que reúne jornalistas de 33 diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.