Depois de tanto puxa-e-encolhe com vai-e-vem judicial, a eleição para escolha da diretoria do Sindecomar (Sindicato dos Empregados no Comércio do Município de Marabá) ocorre nesta quinta-feira, dia 11 de fevereiro. No meio desse dilema, grupos opostos têm se digladiado, com troca de acusações mútuas.
É o que está acontecendo, por exemplo, nesta semana, quando, não por acaso, a Junta Governativa Provisória, que assumiu a direção da entidade por determinação judicial, resolveu chamar a Imprensa para uma coletiva a dois dias da eleição para apresentar um balanço do que encontrou no sindicato, pontuando 21 problemas que encontrou na sub-sede, sede administrativa e na gestão.
Por outro lado, a chapa “Recomeçar”, que tem à frente Sheila Neves, acusa os membros da Junta Governativa de serem mais do mesmo da Chapa “É Hora de Mudar”, liderada por Márcio de Jesus, alegando que fizeram esse “balanço” em momento estratégico para tentar minar a reputação da Chapa 1.
Leia mais:A Junta Governativa convocou coletiva de Imprensa na tarde desta terça-feira (9) para apresentar o que denominou de “realidade da entidade”, repleta de irregularidades, dívidas e precariedade tanto na sede, quanto no clube. Os problemas vão desde dívidas pequenas relacionadas a materiais de escritório e informática até as previdenciárias, que resultaram na apreensão do veículo oficial da entidade, pela Justiça Federal.
Composta por José Marcos de Lima Araújo (de Belém), Dineia de Oliveira Capucho (de Marabá) e Thiago de Castro Barbosa (de Belém), a Junta foi eleita pela categoria em assembleia geral. Entretanto, a desembargadora Suzy Elizabeth Cavalcante Koury, no plantão do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT-8), acrescentou ao trio a missão de assumir provisoriamente a entidade ao suspender pela terceira vez o processo eleitoral, no início de janeiro de 2021.
Segundo Thiago de Castro, o que se pode perceber é uma grande desorganização na entidade, argumentando ser “muito raro acontecer de uma diretoria ficar afastada pela Justiça e uma Junta ser nomeada. Quando chega a esse ponto é porque algo está errado”. Ele acrescenta que a função da Junta será “fazer com que o sindicato se reerga e que ele seja entregue e retomado, para ser bem administrado, tornando-se uma casa de acolhimento ao trabalhador”.
Atualmente, há duas chapas inscritas para disputar a presidência do Sindecomar. Uma é a “Recomeçar”, composta por Sheila Neves como presidente e João Barnabé como vice-presidente; e a outra é a chapa “É Hora de Mudar”, com Márcio de Jesus como presidente e Tâmara Rodrigues como vice-presidente.
Ambas as chapas receberam da Junta a lista com os pouco mais de 600 sindicalizados que estão aptos a votar e terão até esta quarta-feira (10) para solicitar quaisquer correções de nomes.
A Junta contou, durante a coletiva, que foi necessário fazer um “limpa” nos cadastros de sindicalizados, pois havia inscrições de trabalhadores de cidades localizadas fora da abrangência da entidade, como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Teresina e Fortaleza, além da capital paraense e de outros municípios que contam com sindicatos próprios, como Parauapebas, Rondon do Pará e São Geraldo do Araguaia.
DESCASO NA SEDE
José Marcos relatou na coletiva que em seus anos de experiência sindical nunca havia visto um sindicato tão desorganizado, começando pela sede, que estava infestada de baratas e marimbondos, além de sujeira e mofo. “Hoje está limpa, mas foi porque solicitamos dedetização e ainda falta consertar o ar-condicionado, que também estava com problemas”, conta.
Segundo José Marcos, o Sindecomar possui uma receita mensal de cerca de R$ 60 mil e, por isso, não deveria estar nessa situação, argumentando que isso pode demonstrar uso incorreto dos recursos da entidade.
A energia da sede estava cortada pela concessionária, com uma dívida de cerca de R$ 4 mil, que foi negociada pela Junta para ser paga no próximo dia 21. Além disso, também há dívidas relacionadas ao sistema de informática da entidade, que giram em torno de R$ 12 mil. Esse sistema é responsável pelos cadastros e pela contabilidade.
Fora isso, há outros serviços básicos que estavam interrompidos, como internet, telefone e sistema de segurança patrimonial. Foram identificadas, ainda, dívidas diversas, como refeições em restaurantes, gráficas e fornecedores de materiais de escritório e informática.
As mais graves são as dívidas de inadimplências trabalhistas, consideradas uma vergonha por José Marcos, uma vez que “o papel do sindicato é amparar o trabalhador”, coisa que não ocorria no Sindecomar, tendo em vista o não pagamento de funcionários. “Inclusive, a dívida trabalhista de um funcionário está em cerca de R$ 60 mil porque este entrou com processo na justiça”, acrescentou.
O dilema das dívidas previdenciárias é referente ao não repasse dos valores recolhidos para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Isso levou a Justiça Federal a apreender o veículo oficial da entidade, um Volkswagen Gol, de cor branca.
Para a Junta, a solução seria a contratação de uma empresa especializada para que seja feita uma auditoria no sindicato e que esta identifique todas as irregularidades. Um relatório será entregue à nova presidência, que assumirá a entidade e nele haverá essa sugestão de solução. “É a única forma de termos um número confiável do valor real das dívidas”, completa José.
ABANDONO DO CLUBE
A sede campestre do Sindecomar, localizada no Bairro São Félix II, é bonita e grande o suficiente para realização de eventos de considerável porte, mas se encontra em total abandono. A Junta visita o local a cada 10 dias e tudo que pôde fazer até o momento foi contratar um vigilante para zelar pela estrutura, devido às contas do sindicato estarem bloqueadas.
Segundo José Marcos, muitos furtos ocorrem no clube, já tendo desaparecido televisores, geladeira, cadeiras, mesas, entre outras coisas. A Reportagem do Portal Correio foi até o local e constatou a decadência da estrutura: suja, destruída e com aspecto de abandono.
A piscina está com lodo e insetos e anfíbios mortos boiavam na água esverdeada. Segundo o vigilante, que permitiu a entrada da Reportagem, antes da piscina ficar nessas condições muitos vândalos pulavam o muro do clube e nadavam tranquilamente.
O campo de futebol está tomado pelo mato, não sendo possível ser realizado qualquer tipo de partida esportiva. Os muros estão frágeis e prestes a cair, segundo José Marcos, ameaçando até os moradores próximos.
A energia também foi cortada pela concessionária, devido aos atrasos no pagamento. “A gestão anterior criou, em nome de um dos diretores, uma nova unidade consumidora e com isso a concessionária religou a energia, porém, com novos atrasos, ela voltou a retirar os cabos e interromper o fornecimento”, disse José Marcos.
SÓ AS ELEIÇÕES NA CAUSA
A expectativa de mudança é para quando a nova presidência assumir o Sindecomar e colocar a casa em ordem, seguindo a sugestão da Junta, de contratar uma auditória.
Vale lembrar que as eleições seguirão todos os protocolos de higienização para a prevenção ao contágio do novo coronavírus. “Os mesários estarão de máscara, álcool em gel, luvas, além de haver termômetro para medir a temperatura dos presentes”, concluiu José Marcos.
A Reportagem do CORREIO ligou na tarde desta quarta-feira, 10, para Sheila Neves, candidata a presidente da entidade, para saber se ela considera que as declarações da Junta Governativa, exatamente às vésperas da eleição, não teriam a intenção de prejudicar a Chapa Recomeçar, mas ela não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens enviadas para seu Whatsapp. (Zeus Bandeira e Ulisses Pompeu)
Chapa 1 rebate acusações da Junta Governativa
Procurada pela Reportagem do Correio, a chapa “Recomeçar”, que tem à frente Sheila Neves, enviou nota à Redação em que rebate as acusações da Junta Governativa, a quem acusa de fazer parte da Chapa 2.
“A atual Diretoria repudia as declarações inverídicas propagadas pelos membros da Junta Governativa. O SINDECOMAR mantinha sua regular administração firmando convenção coletiva, convênios com diversos serviços em favor da categoria, bem como inúmeros êxitos em ações coletivas judiciais que beneficiaram mais de 600 trabalhadores no comércio.
De fato, há dívidas deixadas pela antiga administração, presidida por outro ex-diretor, que foi afastado por desvios e irregularidades no uso das contribuições.
Aliás, os membros da Comissão Eleitoral não só propagam inverdades como buscam favorecer a Chapa 02, organizada pelo ex-presidente. Porém, a Chapa 01 formalizou denúncia junto à Justiça do Trabalho de Marabá e acaba de sair decisão judicial determinando que a Comissão Eleitoral refaça a lista de aptos a votar e deixe de impedir milhares de trabalhadores de votarem”.