Correio de Carajás

Na pele: a mulher que transforma o desenho em arte no mundo da tatuagem

Gabriela Santana: “A arte, pra mim, é onde tudo começa e onde tudo faz sentido”/ Fotos: Evangelista Rocha

No universo da tatuagem, cada traço carrega mais do que tinta — leva histórias, lutas, afetos e coragem. E é com essa intensidade que Gabriela Santana, mais conhecida como Gabs, vive sua arte. No Dia do Desenhista, ela nos lembra que o desenho também pulsa na pele — como forma de expressão, liberdade e identidade.

No dia dedicado a esses verdadeiros artistas, o Correio de Carajás esteve no estúdio Levicks Tattoo, localizado no Bairro Araguaia, para acompanhar de perto como funciona o trabalho que exige atenção, dedicação e, claro, um toque artístico.

Tatuadora há quase cinco anos, Gabs conta que sempre foi apaixonada por desenhos. “Eu era aquela criança que vivia desenhando, inclusive em mim mesma… Minha mãe brigava muito por isso”, relembra.

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E o que começou como brincadeira acabou revelando uma vocação ainda na adolescência. Gabs compartilha que, entre os 15 e 16 anos, o desejo pela arte se intensificou: “Nessa idade, eu tive a certeza: vou ser tatuadora”, e assim fez.

Mas o caminho não foi simples. Ela conta que, no início, a mãe não aprovava a ideia. Ainda assim, Gabs levou o sonho adiante, colecionando rabiscos e desenhos autorais que, mais tarde, se tornariam sentimento, afeto e memória gravados no corpo de alguém. E foi durante a pandemia que ela deu o pontapé inicial.

Para a jovem, tudo era novo — e fora do convencional. “Minha primeira tatuagem foi em 2020. Eu nunca vou esquecer o que senti naquele dia. Tatuei a bandeira da Bahia”, conta com um sorriso. Apesar do nervosismo e da sensação de estar começando algo grande, ela afirma ter sentido que estava no caminho certo.

Além da adrenalina de dar os primeiros passos, Gabs enfrentou — e ainda enfrenta — algo mais profundo: o preconceito de ser mulher em um espaço ainda majoritariamente masculino. “Já ouvi de uma mulher: não vou tatuar contigo porque você é mulher. A gente fica sem chão”, recorda.

Gabs se dedica à arte de emocionar através do traço

Embora a profissão escolhida por ela seja difícil, Gabs também observa mudanças positivas: “o mundo da tatuagem está evoluindo, e as mulheres têm, a cada dia, mostrado seu talento e conquistado espaço com resultados incríveis”.

Sobre seu estilo, ela revela com um sorriso no rosto: “Acho que o floral é minha assinatura. Também faço muitas frases. E o engraçado é que, mesmo que outro tatuador faça o mesmo desenho, o traço entrega. Tem um toque pessoal ali que é só meu”, reflete.

Apaixonada pelo processo criativo que mescla o analógico e o digital, a tatuadora diz que tudo depende da vibe: “Tem dia que faço tudo à mão, mas a digital salva”.

Ela aprendeu com o desenho a explorar a própria imaginação e transformar rabiscos em formas e sentimentos. A tatuagem é uma extensão da arte que faz o coração da jovem bater mais forte.

E para quem sonha em entrar no ramo, ela dá um conselho que adquiriu através das próprias experiências: “Não se compare. Cada um tem seu tempo, seu estilo. Às vezes a gente vê alguém que começou depois e já tá voando, mas o caminho de cada pessoa é único”.

Aos 23 anos, Gabriele ou Gabs tatua com mãos firmes e a responsabilidade de marcar sentimentos, vivendo a arte como parte da sua vida, afinal como ela mesmo diz: “A arte é um refúgio. Quando a mente está cheia, é o desenho que salva. Como a escrita e como a música. É abrigo. É cura. É grito. É silêncio. A arte, é onde tudo começa e onde tudo faz sentido”.

No traço firme de Gabs, não tem só tinta. Tem coragem, tem amor, tem história sendo escrita — na pele e no coração.

(Milla Andrade)