Correio de Carajás

Munição ‘bean bag’ da PM matou são-paulino, diz Polícia Civil

Ivalda Aleixo, do DHPP, disse que falta saber quem atirou o artefato contra Rafael Garcia. Informação havia sido dada inicialmente nesta quinta pela CBN e depois foi confirmada pelo g1 e TV Globo. Torcedor foi ferido no domingo perto do Morumbi.

Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Uma “bean bag”, munição adotada pela Polícia Militar (PM), atingiu a cabeça do são-paulino Rafael dos Santos Tercilio Garcia e o matou, durante confronto entre torcedores do São Paulo Futebol Clube (SPFC) e a Polícia Militar (PM), no domingo (24), na Zona Sul da capital.

Falta só saber quem atirou no torcedor do lado de fora do Estádio do Morumbi após o time conquistar o título da Copa do Brasil sobre o Flamengo. Laudos da Polícia Técnico-Científica poderão ajudar a investigação a esclarecer se algum policial militar disparou o artefato na nuca de Rafael.

As informações acima foram confirmadas na tarde desta quinta-feira (28) pelo g1 e pela TV Globo com a delegada Ivalda Oliveira Aleixo, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. Essa mesma confirmação havia sido dada e divulgada mais cedo pela Rádio CBN.

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“Beans bags” (“sacos de feijão”, numa tradução literal do inglês para o português) são na prática pequenas esferas de chumbo envoltas por plástico que ficam dentro de sacos de tecido sintético. Desde 2021, quando a PM passou a usar as ‘bean bags’, essa seria a primeira morte com uso da nova munição no estado de São Paulo e possivelmente no Brasil.

Delegada confirma morte por ‘bean bag’

 

Delegada Ivalda Aleixo, do DHPP, confirma que 'bean bag' atingiu e matou são-paulino — Foto: Anderson Colombo/TV Globo
Delegada Ivalda Aleixo, do DHPP, confirma que ‘bean bag’ atingiu e matou são-paulino — Foto: Anderson Colombo/TV Globo

“Foi muito próximo dele. Porque o impacto foi muito forte. Acertou diretamente nele e à distância curta. Normalmente esse tipo de munição é disparado a uma distância maior justamente para não causar nenhuma lesão”, disse Ivalda à CBN. “Já sabe o que o atingiu: Foi uma ‘bean bag’. Mas nós não sabemos de onde partiu” e isso como foi que atingiu o torcedor são-paulino”.

“De uma forma preliminar, né, porque foi feito um exame no corpo da vítima,foi uma munição chamada ‘bean bag’ [que atingiu Rafael]. Então foi isso que provavelmente causou a morte por traumatismo cranioencêfálico e é o que nós temos ainda preliminarmente no laudo. Aguardando o laudo, agora definitivo, para saber o que exatamente causou a morte, mas preliminarmente nós já sabemos”, disse Ivalda ao g1 e a TV Globo.

 

Os exames estão sendo feitos pelo Instituto Médico Legal (IML) e Instituto de Criminalística (IC). Os resultados ainda não ficaram prontos, mas peritos já sabem que o que atingiu e matou Rafael foi uma “bean bag”. O objeto foi encontrado preso na nuca do torcedor.

Além disso, mais três sacos, semelhantes a “bean bags”, foram apreendidos pelos peritos e também passarão por análise na Polícia Científica.

O boné que Rafael usava ficou com um furo na parte de trás, provavelmente por causa do disparo. A polícia investiga ainda se o tiro foi dado a curta distância. Pelo protocolo da PM, as “bean bags” têm de ser disparadas a pelo menos seis metros do alvo para não causar maiores danos a quem for atingido.

PM confirma ter usado ‘bean bags’

A PM também confirmou nesta quinta ter usado “bean bags” para conter são-paulinos, que segundo a corporação, estavam promovendo atos violentos na região. Rafael tinha 32 anos, possuía deficiência auditiva, e foi encontrado morto após a confusão.

“Na ocasião, os policiais militares realizaram ações de controle de multidão com uso de munições de menor potencial ofensivo como bean bags, elastômero e jatos de água”, informa trecho da nota divulgada nesta quinta pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).

 

A polícia também ouve os depoimentos de testemunhas e analisa as imagens de vídeos e câmeras de segurança para tentar identificar quem atirou na cabeça do são-paulino.

Segundo a declaração de óbito de Rafael, ele foi morto por um “disparo de arma de fogo”. Ainda de acordo com o documento, entregue à família para seu sepultamento, a causa da morte foi “traumatismo cranioencefálico” devido a “ação vulnerante de agente perfuro contundente”.

caso é investigado como homicídio durante tumulto pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Até a última atualização desta reportagem nenhum suspeito pelo crime foi identificado ou detido.

Boné que teria sido usado por Rafael Garcia tem furo na parte de trás — Foto: Reprodução
Boné que teria sido usado por Rafael Garcia tem furo na parte de trás — Foto: Reprodução

As “beans bags” estão sendo usados pela PM para substituir gradativamente as balas de borracha, que, segundo a corporação, apresentaram falhas em testes. Entre os problemas foram detectados desvios de trajetória durante os tiros, colocando pessoas em risco.

Tanto a “bean bag” quanto o elastômero (nome técnico da bala de borracha) são disparados por uma espingarda calibre 12. Segundo protocolos da PM, as “bean bags” têm de ser disparadas a uma distância mínima de 6 metros, enquanto as balas de borracha precisam de 20 metros para ter segurança de que não causará um dano maior a quem for atingido.

“Bean bags” e balas de borracha também são consideradas munições menos letais. Apesar disso há casos de mortes registradas pelo mundo no uso dela. Em 2019 um manifestante morreu na Colômbia depois de ter sido atingido pela munição. E em setembro deste ano uma mulher foi morta após ser ferida pelo artefato. Ainda não há registros oficiais de mortes no Brasil pelo uso das “bean bags”.

Desde domingo, quando Rafael foi morto, o g1 e a TV Globo perguntam para a Secretaria da Segurança Pública (SSP) e para a PM qual foi a munição de “menor potencial ofensivo” usada pela corporação para conter os torcedores que cometeram atos de violência na comemoração do título nacional. Mas tanto a pasta quanto a Polícia Militar não responderam se usaram “bean bags” e ou “balas de borracha” na ação.

O DHPP também apurado a possibilidade de que alguma outra pessoa, talvez outro torcedor, tenha atirado, e o disparo atingiu Rafael. Esse tiro poderia ser uma bala de arma de fogo ou até mesmo um rojão. Contudo, são só hipóteses.

Por esse motivo, a investigação também analisa imagens de vídeos gravados por torcedores, e que circulam nas redes sociais na internet, bem como procura filmagens de câmeras de segurança do entorno do Morumbi que possam ter registrado o confronto entre a PM e os são-paulinos.

Numa das imagens que circulam na web, um policial militar aparece armado, atirando para o chão na direção de torcedores. Não é possível saber que tipo de munição ele estava usando. A SSP e PM também não responderam que artefato foi usado pelo agente.

O DHPP vai ainda ouvir os depoimentos de testemunhas que estiveram presentes no confronto. Por isso, torcedores e até policiais militares deverão ser chamados para contar o que viram. Os relatos podem ajudar a investigação a saber, junto com os resultados dos laudos e análises dos vídeos e câmeras, de onde pode ter partido o disparo que atingiu Rafael. E o mais importante: saber quem atirou nele e o que o matou.

Un — Foto: g1 Design
Foto: g1 Design

(Fonte:G1)