Cerca de 20 vacinas contra H5N1, o vírus da gripe aviária, foram licenciadas pelo mundo. Os imunizantes têm caráter emergencial e estão estocados em pelo menos dez países.
Há dois tipos de vacinas H5 liberados:
- as que utilizam plataformas de vírus inativado –produzidas a partir de ovos de galinha–
- e os imunizantes à base de vírus vivo atenuado, produzidos a partir de culturas de células.
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A maior parte das vacinas já licenciadas tem adjuvantes na composição, ou seja, utilizam substâncias que potencializam o efeito principal. Esse tipo de vacina demonstra mais eficácia e economia na quantidade de antígenos utilizados.
Segundo o estudo, a maior parte delas é eficaz contra a nova cepa descoberta em 2024.
Vacinas de perfil seguro
Todas as vacinas licenciadas seguem esquema de duas doses. Dessas, dez são adicionalmente indicadas para crianças a partir de seis meses e adultos com 65 anos ou mais, além de adultos saudáveis.
O perfil de segurança das vacinas, segundo a publicação, é considerado favorável. Os imunizantes foram avaliados clinicamente em pelo menos 32 mil pessoas.
As reações adversas mais comuns são leves a moderadas, semelhantes às de vacinas sazonais, como dor no local da injeção, fadiga e dor de cabeça. Reações sistêmicas são mais frequentes em crianças.
Vacinas adjuvantes podem causar maior reatividade local, mas são seguras nas populações indicadas. No entanto, dados de segurança são insuficientes para analisar efeitos em gestantes, lactantes e pessoas com condições de saúde subjacentes.
Dados apresentados pelo artigo indicam que as vacinas demonstraram respostas imunes adequadas em todas as faixas etárias.
Muitas também reagiram positivamente a outras variantes do vírus, como o H5N1 clado 2.3.4.4b, que está em circulação.
Vacinas em caráter emergencial é precaução
Segundo a biomédica, pesquisadora e professora da Escola de Saúde da Unisinos, Mellanie Fontes-Dutra, a produção e o acesso às vacinas com alvo em influenzas do tipo H5 podem ser um desafio durante uma emergência de saúde publica.
“O arsenal de vacinas H5 já licenciado fornece uma base importante para a preparação global. O combate à gripe aviária exige uma abordagem abrangente, que inclui vigilância, detecção precoce, proteção de trabalhadores expostos e, crucialmente, vacinação. Investimento contínuo em desenvolvimento de vacinas, ensaios clínicos, vigilância global e planejamento pandêmico nacional são considerados essenciais para uma defesa robusta contra essa ameaça contínua”, afirma Mellanie.
Onde as vacinas H5 estão licenciadas?
Segundo o documento, as 20 vacinas foram licenciadas por autoridades reguladoras dos seguintes países:
- Estados Unidos.
- Canadá.
- União Europeia.
- Reino Unido.
- Austrália.
- Japão.
- China.
- França.
- Bélgica.
- Finlândia.
Até setembro de 2024, no entanto, apenas a Finlândia havia implementado um programa de vacinação contra gripe aviária direcionado a grupos de risco.
O Instituto Butantan, do Brasil, também já produziu uma vacina. Agora, aguarda autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para testá-la em humanos.
A Anvisa, em nota, afirma que segue monitorando os casos de gripe aviária que surgiram no Brasil. Até o momento, nenhuma medida sanitária foi imposta.
Nos Estados Unidos, a vigilância é coordenada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em colaboração com laboratórios de saúde pública estaduais e locais.
Professor assistente de medicina da Harvard Medical School e especialista em doenças infecciosas, Jacob Lemieux alerta para uma “situação de risco e incerteza crescentes”.
“O aumento da atividade do vírus por mais de um ano, sua disseminação entre animais domésticos e selvagens e o crescente número de casos humanos desde o surto em vacas são muito preocupantes. A natureza leve e comum dos sintomas em pessoas dificulta a identificação, tornando a vigilância nacional, estadual e municipal urgente, intensificada e coordenada entre todos os setores.”
Desafio persistente à saúde global
Desde sua primeira detecção em aves, na China em 1996, a gripe aviária tem representado um desafio persistente para a saúde pública global.
Com os primeiros casos humanos surgindo na sequência, o infectologista do Hospital das Clínicas Igor Marinho explica que o vírus demonstrou uma notável capacidade de diversificação e disseminação por meio de aves migratórias.
Em 2024, após quase mil casos humanos documentados e uma taxa de mortalidade de cerca de 50%, a ciência tem intensificado seus esforços para combater a ameaça em constante evolução.
A chegada do H5N1 à América do Norte em 2014 resultou em um surto avícola significativo, mas o vírus recuou. Em 2022, no entanto, um novo subtipo do H5N1 –o clado 2.3.4.4b– emergiu, espalhando-se rapidamente entre aves domésticas e diversas espécies de mamíferos selvagens.
(Fonte:G1)