Correio de Carajás

Multidão na orla para curtir enchente preocupa autoridades

A via do bambuzal engarrafada, a Avenida Antônio Maia lotada de veículos de um lado e do outro. As transversais, idem. Esse não é um cenário de meio de semana, mas de sábado e domingo, na verdade, no último final de semana, para ser mais preciso.
Grande parte da multidão que correu para a orla foi, em verdade, curtir a enchente, inclusive tomando banho nas águas que invadiram as ruas.
E os adultos levam até mesmo crianças para tomar banho “no rio”, quando na verdade é em água que recebe muito dos resíduos das residências invadidas pela água.
A Reportagem encontrou pessoas tomando banho na enchente de uma ponta a outra da orla. Algumas pessoas chegaram a estimar que, no último final de semana, entre 20 mil a 30 mil pessoas estiveram na orla, sendo que a maioria teve contato com a água.
A enfermeira Ana Raquel Santos Miranda, especialista em epidemiologia, alerta que, apesar de os vídeos e fotos compartilhados pelas redes sociais nos últimos dias serem divertidos, com muitas pessoas tomando banho nas águas da enchente, há muitos riscos envolvidos.
“As enchentes podem transmitir doenças como micose, hepatite, leptospirose, tétano, diarreia ou vômito e, por isso, deve-se evitar entrar em contato com a água”, adverte.
As doenças transmitidas pela água da chuva ou de enchente são mais frequentes em locais que não possuem muito saneamento, o que favorece a presença de vírus, bactérias, parasitas e animais que podem ser transportadores desses microrganismos.
No caso da leptospirose, a enfermeira explica que se trata de uma doença infecciosa que pode ser encontrada em fezes e urina de animais contaminados, principalmente ratos. Assim, em situação de alagamento, a urina e fezes contaminadas pelas bactérias podem se espalhar facilmente e atingir mucosa ou feridas presentes na pele das pessoas, havendo o contágio.
A transmissão da leptospirose não acontece de pessoa para pessoa, apenas pelo contato com as fezes ou urina de animais infectados pela bactéria, como ratos, gatos, cães, porcos e bovinos, por exemplo.
O grande dilema de tomar banho na orla, neste período, é que a água traz consigo resíduos de lixo e de fossas sépticas de bairros a montante, como Nova Marabá e Santa Rosa, por exemplo.
Se muitas pessoas adoecerem, os hospitais da cidade, que já estão lotados por causa da covid-19, ficarão estrangulados.
OUTRO DILEMA
Na Velha Marabá, onde há muitas famílias que construíram sobradinhos para não sair quando a enchente chegasse, fizeram protesto na tarde desta segunda-feira, porque a Equatorial desligou a energia elétrica por causa do risco de acidentes.
Por conta disso, na Rua Nossa Senhora das Graças, por exemplo, os moradores impediram funcionários da empresa terceirizada que foram, de rabeta, cortar energia em um poste. Em outras rabetas, eles impediram os funcionários de saírem de local enquanto não religassem a rede.
Em Nota de Esclarecimento, a Equatorial Pará informou “que algumas áreas alagadas pelas cheias dos rios Tocantins e Itacaiunas, em Marabá, estão tendo o seu fornecimento de energia suspenso devido aos riscos iminentes que apresentam, como acidentes elétricos e danos às instalações internas das residências.
As localidades atingidas pela enchente estão sendo mapeadas pelas equipes técnicas da distribuidora e monitoradas constantemente. Aquelas que apresentarem riscos de acidentes elétricos, estão sendo desligadas. O mapeamento realizado utiliza como base as informações da Defesa Civil Municipal e do Corpo de Bombeiros.
Em tempo, a Equatorial orienta que os moradores das áreas alagadas desliguem o disjuntor interno da residência para evitar curto-circuito. Caso ocorram rompimentos de fios elétricos, deve-se evitar a aproximação com os cabos, principalmente se estiverem próximos a água, e entrar em contato imediatamente com as equipes da empresa por meio do telefone 0800 091 0196”. (Ulisses Pompeu)