Correio de Carajás

Multi-medalhista marabaense se despede de competições paralímpicas

Ademar virou sinônimo de coragem e força de vontade com 105 medalhas. Mesmo possuindo cegueira congênita, o atleta não deixou de treinar e se tornou um campeão dentro das piscinas Brasil afora

Na Redação do Correio, Ademar diz: “A natação me proporcionou conhecer lugares e pessoas incríveis”/ Foto: Jeferson Lima

No reflexo da piscina, fabricam-se sonhos de superação e glória. Ademar Alves é atleta paralímpico desde 2011 e, assim como muitos esportistas, ele desafia as águas com força e determinação, transformando limitações e usando as dificuldades a seu favor. Cada braçada é um testemunho de coragem, cada volta uma demonstração de perseverança, e foi assim que o nadador ganhou 105 medalhas e se tornou sinônimo de superação para muitos.

Na Redação do Correio de Carajás, ele conta que ingressou no mundo da natação e dos campeonatos quando teve a oportunidade de voltar a estudar, no ano de 2008. O que parecia tardio, para ele veio no momento certo. Ademar ainda tentou se adaptar em outras modalidades, mas se apaixonou pelas braçadas. “É um esporte solitário, não precisa de muitas pessoas, eu me encontrei”, conta.

O INÍCIO DE TUDO

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O medalhista faz um mergulho no tempo para relembrar o seu primeiro campeonato, que aconteceu em 2011: o regional Norte e Nordeste na cidade de Fortaleza. Segundo ele, o evento possibilitou a experiência e a certeza de estar seguindo pelo caminho certo. Da competição, ele voltou campeão, trazendo na bagagem as medalhas de ouro e no coração a certeza de não parar e ir além. Começava ali a sua trajetória na natação paralímpica.

Entre tantas idas e vindas e disputas com nadadores até mesmo mais jovens, Ademar se tornou a prova viva de que a força da alma supera qualquer limitação física. Agora, aos 56 anos, ele anuncia que vai deixar os torneios e nadar agora será um hobby.

O medalhista esteve no último dia 15 na cidade de São Paulo, competindo na 1ª etapa do Circuito Caixa de Natação de 2024. Orgulhoso, ele exibiu as medalhas que conquistou na competição e, agradeceu por todo apoio que recebeu de várias pessoas e entidade.

Ademar em São Paulo durante sua participação na primeira etapa do Circuito Caixa de Natação, no último final de semana

EXEMPLO DE VIDA

Quem acompanha sua história aplaude sua coragem e talento, pois Ademar nunca se limitou às barreiras da visão. Sua jornada é um testemunho da beleza que nasce na resiliência e que hoje é reconhecida por muitos jovens e pessoas que não possuem deficiência.

A atividade na água ainda tirou o sedentarismo de Ademar, que afirma não parar de nadar, mas sim de competir oficialmente. “Eu comecei a minha trajetória um pouco mais tarde, enquanto uns paravam eu iniciava, e as pessoas foram vendo a minha vontade e dedicação”.

Orgulhoso pela trajetória que traçou durante esses 13 anos, o marabaense ainda relata que quebrou dois recordes nos 100m do nado peito. Estar nesta posição, atualmente, é motivo de grande satisfação, disputar com pessoas mais jovens que possuem mais condição física e vencê-las, certamente é algo para celebrar.

MARCO DO MEDALHISTA

A felicidade em completar essa fase é também a de deixar marcada uma história que jamais será apagada. Ademar pôde conhecer muitas cidades do território nacional, desfrutou de viagens e conheceu pessoas. “Eu fiz grandes amigos e deixei muitos à beira das piscinas. Agora chegou o tempo de parar”, reconhece.

A gratidão se faz presente. Ele reconheceu a importância do seu técnico e o apoio do Projeto Paralímpico de Marabá, Arionaldo Borges, que durante todos esses anos o orientou e se tornou um amigo, companheiro em viagens e quase um pai. “Também não esqueço do apoio que recebi do Colégio Alvorada, que nos recebeu em sua piscina todos esses anos em treinamentos”.

Aos jovens, Ademar deixa uma mensagem para que estes não se limitem ao que não podem ver, pois o impossível está além dos olhos.

O campeão marabaense se tornou um atleta de alto nível e, atualmente, é inspiração para tantos outros que pretendem seguir pelo mesmo caminho.

(Milla Andrade)