Um crime ocorrido nesta terça-feira, dia 7, tem gerado grande comoção nas redes sociais após publicação no Portal Correio de Carajás. Trata-se da prisão em flagrante de Maria da Conceição Pereira da Silva, que confessou ter assassinado o ex-companheiro José Jadeilson Dias Araújo. ‘Dona Maria’, como tem sido chamada pelos internautas, disse à polícia que agiu para se defender.
Apesar de toda a situação, Maria garante que não queria ter sangue nas mãos. “Não tinha intenção de fazer isso não, jamais. Nunca passou na minha cabeça fazer uma coisa dessas, mas eu me vi obrigada, eu tive que me defender. Ele disse que era eu ou ele”, afirmou em entrevista para a reportagem do CORREIO. Conforme relatório da Polícia Civil, foi a própria Maria quem acionou a autoridade policial e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (Samu) após o tiro.
No Instagram, a publicação do Correio de Carajás já ultrapassou as três mil curtidas e recebeu mais de quatrocentos comentários. O título da matéria recebeu críticas por sua abordagem direta, ao dizer que “Mulher mata ex-companheiro em Marabá”. Para muitas pessoas, a manchete deveria sustentar o termo ‘legítima defesa’. Além disso, de maneira massiva, os comentários parabenizam ‘Dona Maria’ por sua ação, alguns afirmam que o “pano é rosa com glitter” para passar e outros pedem a organização de uma vaquinha para pagar um advogado para a mulher.
Leia mais:É importante informar que o artigo 25 do Código Penal define legítima defesa como uma excludente de ilicitude, ou seja, ainda que um homicídio ocorra, ele não é punido, porque foi praticado para repelir uma agressão injusta, atual ou iminente, de forma proporcional. Cabe ao juiz ou ao Tribunal do Júri a análise da legítima defesa e avaliação se as circunstâncias atendem aos requisitos legais.
Título gera desagrado, mas atitude é louvada
Para aqueles que enxergam a ação de Maria da Conceição como um ato de heroísmo, o título da matéria se tornou uma infeliz escolha de palavras. Para Alexssandra Mardegan, promotora de justiça de Marabá, a maneira que a informação foi apresentada afeta diretamente a percepção pública sobre o caso, e pode perpetuar a injustiça epistêmica.
A abordagem direta no título, dada pelo experiente jornalista e editor de polícia Chagas Filho, segue o mesmo tom usado por Maria durante a entrevista concedida à reportagem do Correio de Carajás na 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil. Ao dar seu relato sobre o episódio e enumerar os diversos sinais das agressões que sofreu do ex-companheiro, Maria falou de maneira direta e sem rodeios sobre a morte de José Jadeilson. O mesmo tipo de abordagem foi usado para retratar o relato através do título da reportagem.
“O cara chegou lá em casa querendo que eu desse dinheiro pra ele (R$ 2 mil), mas eu não tinha o dinheiro pra dar, aí ele começou a discutir e pegou a espingarda pra querer me atirar, aí nós entramos em luta, eu consegui tomar a espingarda e atirei nele”, disse ‘Dona Maria’. “Eu segurei (a arma) e arrochei”, alegou em outro momento da entrevista.
Apesar da controvérsia com a manchete, de forma vigorosa, os internautas parabenizaram Maria por seu ato. Muitos afirmaram que se Jadeilson não estivesse morto, ‘Dona Maria’ seria uma provável vítima de feminicídio.
Rikardo Garcia associou de maneira direta a ação de Maria a um ato de heroísmo: “Às vezes, as heroínas não usam capa, elas têm o olho roxo. Parabéns pela coragem Dona Maria”.
Na foto usada para ilustrar o caso, a mulher aparece com um grande hematoma em um dos lados do rosto, possivelmente adquirido durante a briga que precedeu o óbito de Jadeilson.
Já Raylane Rhanny relembra dois casos emblemáticos de assassinatos envolvendo mulheres ao dizer que: “Mais antes ser Elize Matsunaga do que Eliza Samudio”. Ela também foi uma das pessoas que pediram a abertura de uma vaquinha para custear advogados para ‘Dona Maria’.
“Outro dia prestei socorro a ela. Ele quebrou um litro de 51 na cabeça dela e hoje ela conseguiu se defender e proteger os filhos”, afirmou Soelia Oliveira. O comentário reforça o relato de Maria, em que ela detalha as agressões que sofreu do ex-companheiro.
Flávio Brito reitera esse testemunho ao afirmar que conhece a realidade de Maria. “A conheço e sei bem a realidade dela. Espero que a justiça entenda que foi legítima defesa!!! Foi o único meio que ela teve para repelir a injusta agressão que estava acontecendo”.
Um outro internauta, identificado apenas como ‘mnlc__7’ disse ter ficado feliz pela morte de Jadeilson. “Um dia ele furou minha bola quando estava jogando na rua”.
Outros comentários celebram que ‘Dona Maria’ é uma sobrevivente.
“Se vocês soubessem da metade, ninguém ia passar pano”.
Em meio às centenas de comentários, se destaca o de Fernanda Mendes. Na publicação, ela afirma ser ex-companheira do filho de Maria e diz ter sido esfaqueada por ele quando tentou se separar. Fernanda diz que o “gênio forte” é de família.
“Ele (Jadeilson) sempre foi desse jeito, ela sempre soube. Ela não está errada de ter se defendido, mas essa situação poderia ter sido evitada antes. Ela já tem o gênio forte, a família inteira na verdade, eu que nem fiz nada para o filho dela apenas, pedi separação, ele quase me matou. Me deu uma facada, fiquei dias internada e tudo porque eu separei e voltei para um relacionamento ruim que eu tinha, mas quando fui tentar me livrar deu nisso. E ela pagou uma advogada e ele fugiu. Todos eles são assim, eu não sei quem é o pior dessa família”, diz um trecho do comentário.
Fernanda diz, ainda, que espera que Maria “pague pelo mal que ela fez a outras pessoas” e alerta que se as pessoas soubessem da metade, não estariam dizendo que vão passar “pano com glitter”.
O CASO
Na tarde de terça-feira (7), Maria da Conceição Pereira da Silva foi presa em flagrante pelo homicídio de seu ex-companheiro, José Jadeilson Dias Araújo. O crime ocorreu na residência dela, localizada na Vila “CDI”, próxima ao Distrito Industrial de Marabá (DIM).
Em entrevista ao CORREIO, Maria confessou o ocorrido. Segundo ela, o disparo foi feito durante uma luta corporal, após Jadeilson invadir sua casa e tentar atingi-la com uma espingarda.
Apesar de toda a situação, Maria afirma que não queria ter sangue nas mãos. “Não tinha intenção de fazer isso não, jamais. Nunca passou na minha cabeça fazer uma coisa dessas, mas eu me vi obrigada, eu tive que me defender. Ele disse que era eu ou ele”, reafirma Maria da Conceição, acrescentando que acionou o SAMU e, também, a Polícia Militar. José Jadeilson morreu no local.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil.
(Luciana Araújo)