Correio de Carajás

Mulher morta pelo inquilino foi atacada no quarto. Filha também morreu.

O Bairro Cidade Jardim, em Marabá, em geral tranquilo, foi cenário de um crime brutal no final da manhã desta segunda-feira (31). Maria José Duarte Teixeira, 39 anos, proprietária de quitinetes, foi atacada por um de seus inquilinos, bêbado, tomado de fúria e portando um martelo e uma faca. A mulher teve ferimentos fatais e morreu no local. O seu algoz, mais tarde identificado como Ronaldo da Silva Assunção, 39 anos, também perdeu a vida momentos depois, em confronto com a Polícia Militar.

Outra vítima do mesmo ataque foi uma filha de Maria José, a menina Maria Luísa Teixeira Nazari, de oito anos, que chegou a ser socorrida com vida por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), levada ao HMM, depois ao Hospital Regional, mas não resistiu. Tudo aconteceu na Avenida C, próximo à Igreja Quadrangular.

CONTEXTO

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O Correio de Carajás foi a única equipe de jornalismo que esteve no local ao mesmo tempo que a Polícia Civil e os enviados do IML. Era metade da tarde desta segunda-feira e o corpo de Maria José estava sendo removido, após o trabalho minucioso dos peritos.

O que o portal levantou, primeiramente, é que Maria José morava na parte de cima do prédio, um sobrado com acesso de escadaria externa, e locava dois quitinetes na parte de baixo. Era num desses que Ronaldo Assunção vinha morando. Não há notícias de outras testemunhas do crime, além da adolescente filha da mulher e, portanto, não é possível saber, ainda, os fatos que antecederam a morte dela, e se houve discussão.

Portão dava acesso ao sobrado no Bairro Cidade Jardim

O que é possível depreender do local do crime é que Ronaldo subiu as escadas munido de um martelo e de uma faca e adentrou a casa de Maria José que, aparentemente, correu para o quarto para tentar se proteger. Ali, ela foi atingida com marteladas na cabeça e estocadas de faca pelo corpo (a quantidade de golpes só será conhecida no resultado da perícia). É possível que a filha tenha sido atingida no afã de defender a mãe do agressor.

Maria José e a filha Maria Luísa Teixeira Nazari foram vítimas fatais do agressor

INTERVENÇÃO
Equipes do Batalhão de Missões Especiais e 4º BPM foram acionadas por um policial, por volta das 13 horas, sobre o crime, e se dirigiram à localidade. Consta que Ronaldo, após matar a mulher e ferir fatalmente a filha dela, saiu de bicicleta pelo bairro, com a bermuda ensanguentada. Aparentemente procurava um bar para beber, quando foi localizado pelos policiais.
Em fala exclusiva ao Correio de Carajás, o major Teixeira, comandante do Batalhão de Missões Especiais (BME) explicou que a guarnição BME foi a primeira a chegar ao imóvel, que estava com o portão fechado. Um sargento conseguiu subir em uma escada, olhar por cima do mesmo, e visualizou uma criança caída ao chão. A equipe arrombou a porta e em seguida encontrou a mulher caída, bastante machucada, mas com vida.

A vítima e a filha foram atacadas dentro de casa, em um quarto

Foram iniciados os primeiros atendimentos e acionado o Samu. Em ato contínuo, chegaram as viaturas do 4º BPM, com o reforço, e os policiais começaram a tentar entender as circunstâncias do crime e a conversar com populares na rua, que indicaram quem poderia ser o autor e suas características. Com o nome de Ronaldo, uma foto dele e descrição das roupas, os PMs caíram em campo pelo bairro. Uma das estratégias foi cercar todas as saídas da localidade, enquanto ao BME fazia as buscas.
Ronaldo foi visualizado a 18 quadras do local do crime e ainda portava o martelo e a faca que utilizou para agredir as vítimas, utensílios, estes, ainda sujos de sangue.
Segundo o comandante, os policiais começaram a interagir com Ronaldo, lhe orientando a largar as armas, mas o mesmo se mostrava alterado, não se sabe se por efeito de drogas. Também relata que em determinado momento o homem partiu para cima dos policiais, o que ensejou a defesa com arma de fogo.

Ronaldo em foto de documento expedido em 2002, quando era bem mais jovem

Alvejado, Ronaldo ainda foi socorrido pelos policiais com a própria viatura da guarnição e levado ao Hospital Municipal de Marabá, mas ele não resistiu.
A faca e martelo possivelmente usados no assassinato de mãe e filha foram entregues para o Centro de Perícias Científicas (CPC).
Mais detalhes

A reportagem do Correio também levantou que Ronaldo possivelmente era o único inquilino de Maria José no momento e estava na quitinete há um ano. A locatária é casada com um caminhoneiro, o qual estaria em viagem para Castanhal. Maria e a filha de 13 anos eram as únicas pessoas na casa.

O portal também ouviu Antônio Rodrigues da Rocha Filho, que se disse patrão de Ronaldo e informou que o mesmo era ajudante de pedreiro. Questionado se Ronaldo estava trabalhando nos últimos dias, Antônio respondeu que ele não aparecia há 10 dias, e estava o tempo todo “bêbado de cachaça”.

Comandante do BME, Maj. Teixeira diz que suspeito estava alterado

Pesquisa sobre histórico criminal de Ronaldo Assunção indica que esteve recentemente como preso provisório e que respondeu pelos artigos: ART. 129, S-90, ART. 140 CAPUT, ART. 147 do CPB e ARE 70 INCISO I, II da Lei Maria da Penha, ou seja: agressão, injúria e ameaça.

Ele tentou cometer feminicídio em 2018, em Tucuruí. O enquadramento na Lei Maria da Penha foi por agressões a duas companheiras diferentes, em anos distintos.

A reportagem também apurou que quando se tornou inquilino de Maria José, Ronaldo tinha uma companheira, a qual teria deixado ele ao longo do tempo, justamente para fugir de agressões. O seu envolvimento com bebidas e inconveniência já havia lhe rendido um pedido de que entregasse o imóvel. (Texto: Da Redação; reportagem: Josseli Carvalho e Evangelista Rocha)