Os dinossauros tiveram que enfrentar grandes alterações climáticas entre 250 a 65 milhões de anos atrás, causadas por elevados níveis de atividade vulcânica. Agora, um novo estudo conduzido por cientistas de Vigo, na Espanha, investigou como certas espécies se adaptaram a isso: desenvolvendo sangue quente.
Durante muito tempo, os paleontólogos presumiram que os dinossauros eram animais ectotérmicos, ou seja, de sangue frio. Isso significa que não precisavam de muita comida e estimulavam o metabolismo por meio do sol e do calor.
No entanto, os animais de sangue frio são muito dependentes do clima. Os répteis, peixes e insetos de hoje, por exemplo, estão nesse grupo e precisam de exposição ao sol para regular a temperatura.
Leia mais:Já se sabe há algum tempo que dois dos três grandes grupos de dinossauros tinham sangue quente, ou seja, eram endotérmicos – assim como nós, humanos, e todos os outros mamíferos e aves de hoje em dia.
Os dinossauros de sangue quente precisavam de mais comida, mas tinham um metabolismo mais elevado, que os tornou menos dependentes de fatores climáticos. Por serem endotérmicos, dependiam mais de um fornecimento regular de alimentos.
Os dois grupos de dinossauros de sangue quente são chamados de terópodes (como o velociraptor e o tiranossauro) – dos quais descendem nossos pássaros modernos – e ornitísquios (como o triceratops e o estegossauro). O terceiro grupo, denominado sauropodomorfos (como o braquiossauro), era composto por dinossauros muito grandes e com pescoços longos – estes eram de sangue frio.
Mudanças climáticas extremas forçaram os dinossauros a se adaptarem
Os investigadores da Universidade de Vigo perguntaram-se quando e por que os grupos de terópodes e ornitísquios evoluíram para animais de sangue quente. Através de uma análise em grande escala de ossos de dinossauros e da sua localização, descobriram que, naquela época, há 200 milhões de anos, as alterações climáticas desempenharam um papel decisivo.
“Não estamos falando das alterações climáticas tal como as conhecemos hoje, esta mudança ocorreu ao longo de muitos milhares de anos”, explica Rainer Schoch, paleontólogo do Museu de História Natural de Stuttgart e especialista em fósseis de anfíbios e répteis terrestres.
As causas das fortes flutuações do clima eram as mesmas de hoje: poluição excessiva de CO2 na atmosfera. Naquela época, porém, o motivo foram os vulcões, que eram mais ativos, libertando enormes quantidades de gases de efeito de estufa na atmosfera. Isso tornou o clima instável. Primeiro, arrefeceu acentuadamente durante muitos milhares de anos, depois tornou-se muito mais quente.
Muitas espécies de dinossauros de sangue frio morreram durante esse período porque não conseguiram lidar com as flutuações, explica Rainer Schoch.
Sangue quente possibilitou novos habitats
A extensão exata das flutuações de temperatura naquela época não pode ser reconstruída de forma fiável, de acordo com Schoch. No entanto, pode-se presumir que as fases frias eram relativamente quentes em comparação com hoje. E as fases quentes eram muito mais quentes para os padrões atuais.
Durante este período, dois dos três grandes grupos de dinossauros evoluíram para o sangue quente – um mecanismo de adaptação às flutuações do clima. “Os animais de sangue quente conseguiram então abrir novos habitats em direção aos polos e encontrar novos nichos”, explica Schoch.
Sem este desenvolvimento no sangue, as aves de hoje em dia não seriam capazes de voar. “A forma como as aves voam requer um metabolismo muito elevado. O sangue quente é um pré-requisito importante para isso”, destaca Schoch.
Apesar de terem sangue frio, algumas espécies do grupo dos sauropodomorfos também sobreviveram. Devido ao seu tamanho e massa gigantescos, eles tinham uma vantagem decisiva: a gigantotermia, fenômeno no qual animais ectotérmicos volumosos tem mais facilidade de manter uma temperatura corporal constante e relativamente alta do que animais menores.
“Os efeitos do clima sobre a vida selvagem são a coisa mais importante que podemos tirar disso. Ainda não entendemos tudo, mas entenderemos melhor se olharmos para o passado”, enfatiza Schoch.
(Fonte:G1)