Correio de Carajás

MPPA faz fiscalização e prisão inéditas em fazenda da Serra das Andorinhas por uso irregular de agrotóxico

Ministério Público fiscaliza área e atuação na propriedade, que já foi alvo de multa do Ibama

Parte dos balde de agrotóxico encontrados a céu aberto na Agropecuária Andorinhas

O Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) realizou na última quarta-feira, 17, uma ação de fiscalização na Agropecuária Andorinhas, uma propriedade de 9.200 hectares que pertence ao alemão Christian Bohdan von Stechow. A atuação foi feita após o órgão receber diversas denúncias de moradores da comunidade tradicional da Vila Santa Cruz, localizada na Área de Proteção Ambiental do Parque da Serra das Andorinhas, no município de São Geraldo do Araguaia.

O CORREIO já realizou, há aproximadamente dois anos, uma reportagem sobre as plantações de pequenos agricultores que relatavam que suas hortas estavam murchando e amarelando após sobrevoos de um avião que estaria lançando agrotóxicos nas proximidades. Vale lembrar, que uma das fazendas que fazia isso é a Agropecuária Andorinhas.

Em julho de 2023, alguns moradores relataram os fatos para os representantes do MPPA que iniciaram uma investigação que resultou na ação conjunta da última quarta-feira, que contou com uma verdadeira força tarefa com equipes do órgão ministerial, Polícia Militar e Polícia Civil.

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Foram encontrados diversos tipos de agrotóxicos sem documentação. Além disso, uma pista aero agrícola onde haviam diversos vasilhames descartados a céu aberto.

Com isso, a Polícia Civil prendeu o gerente da fazenda e outros dois trabalhadores pelo crime de uso ilegal de agrotóxicos. Eles foram soltos dois dias depois, no final da tarde de sexta-feira, 19, por determinação judicial, durante audiência de custódia. Porém, a ação contra a empresa vai continuar.

Agora, o MPPA investiga a parceria da Agropecuária Andorinhas com a Globo Aviação Agrícola, responsável pelo lançamento de “defensivos agrícolas” na fazenda e que estaria causando danos ambientais em propriedades vizinhas.

Dona Madalena, moradora da localidade, está indignada com a falta de respeito e responsabilidade do fazendeiro. Ao CORREIO, ela enviou imagens da sua propriedade e o prejuízo causado pelos agrotóxicos.

A promotora de Justiça Alexssandra Muniz Mardegan, que atua na Promotoria Agrária, auxiliou na investigação e contou com a parceria do promotor Erick Ricardo Souza Fernandes, que atua especificamente no município de São Geraldo do Araguaia.

Ouvido pela Reportagem, Erick Ricardo informou que a ação na fazenda foi de caráter policial e que nesta sexta-feira foram realizadas as audiências de custódia.

AGROPECUÁRIA

A Agropecuária Andorinhas é um conjunto de três fazendas que foram adquiridas a partir de 2001, pelo alemão Christian Bohdan von Stechow. Naquela época, o sócio majoritário era a Lemarey Sociedad (99,7%), uma empresa que, pelos cadastros brasileiros, era uma offshore com sede no Uruguai.

Conhecido na região como “Gringo”, Christian passou a comprar os sítios de camponeses que sobreviveram aos combates da Guerrilha do Araguaia entre 1972 e 1975. O primeiro pedaço de terra que Gringo comprou, em 2001, que se transformou na sede de uma de suas fazendas, pertenceu a Osvaldo Orlando Costa, o comandante guerrilheiro Osvaldão.

O MPPA deve entrar com ação na Justiça contra a Agropecuária Andorinhas e, caso condenada, a empresa pode ser obrigada a pagar até R$ 2 milhões em multa por uso irregular de agrotóxicos.

Vale ressaltar que a Agropecuária Andorinhas já foi alvo de fiscalização e multa por parte do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em três ocasiões diferentes, sendo duas por danos à flora, o que levou a empresa a pagar multa.

A Reportagem não conseguiu contato com advogados do pecuarista alemão para ouvir a versão dele sobre a investigação das autoridades e prisão de seus funcionários. (Da Redação, com MPPA)