Correio de Carajás

MPF cobra tombamento de cidade abandonada por Ford na Amazônia

Foto mostra núcleo residencial de Fordlândia (município de Aveiro, Pará) no início do século 20, que foi erguido às margens do rio Tapajós para abrigar seringueiros da fazenda de Henry Ford Imagem: Arquivo Ford.

O MPF (Ministério Público Federal) no Pará fez uma recomendação para que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) realize o tombamento do patrimônio histórico e cultural do distrito de Fordlândia, localizado no município de Aveiro (PA), na selva amazônica.

“A inércia dos órgãos responsáveis em preservar o Distrito de Fordlândia como patrimônio cultural tem colocado em risco sua conservação”. – MPF

Fordlândia deixou prédios históricos

 

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Na década de 1920, o empresário Henry Ford fez um ambicioso projeto no coração da Amazônia, batizado de Fordlândia. A cidade planejada tinha como objetivo suprir a demanda por borracha para a produção de pneus de automóveis.

O local foi inaugurado em 1928, mas acabou abandonado na década de 1940. Abrigou, por mais de uma década, empregados de Henry Ford que trabalharam na extração e produção de borracha para abastecer a fábrica da Ford nos EUA.

A ideia era inspirada no estilo americano para essas obras, com ruas largas, casas para os trabalhadores, hospital, escola e igreja. Mas o projeto enfrentou uma série de problemas.

Valor histórico em prédios fantasmas no meio da Amazônia. As instalações da cidade planejada reúnem reconhecidos valores histórico, arquitetônico e paisagístico.

Antigo convento da Fordlândia
Imagem: Iphan
Por que Henry escolheu a Amazônia

 

Ford queria reduzir a dependência das plantações de borracha no sudeste da Ásia. Ele acreditava que poderia criar sua própria fonte de borracha na América do Sul, o que levaria a uma maior autonomia para sua empresa e, consequentemente, a uma redução nos custos de produção.

Os problemas e o abandono

 

Os trabalhadores locais não estavam acostumados com o estilo de vida proposto por Ford, com horários rigorosos e refeições vegetarianas.

A cultura da borracha na Amazônia demandava conhecimento técnico de extração e produção, que os americanos não possuíam. Epidemias de doenças como a malária também assolaram a região.

Conflitos frequentes entre trabalhadores brasileiros e gerentes americanos. A questão cultural e outras dificuldades fizeram com que a Fordlândia entrasse em crise, e a produção de borracha nunca atingiu os níveis desejados.

Após prejuízos, a Ford Motor Company, à época ainda gerida por Henry Ford, abandonou a Fordlândia em 1945. O empresário morreu dois anos depois.

Galpão da usina de força na Fordlândia
Imagem: Iphan
O que diz o MPF

 

Processo de tombamento tramita há 30 anos. Para haver o tombamento, explica o MPF, é necessária uma deliberação pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que ainda está em fase de composição.

“Embora o Iphan tenha instaurado o processo relativo ao tombamento do Distrito de Fordlândia, o feito permanece em tramitação há mais de 30 anos, ainda inconcluso e sem decisão final, a despeito do reconhecimento pela própria autarquia da relevante significância do distrito para o patrimônio nacional.”  – Recomendação do MPF

A luta pelo tombamento não é nova. Em dezembro de 2021, a Justiça Federal obrigou o Iphan a realizar o tombamento do distrito, cravando prazo até o final de maio de 2022. A medida não foi cumprida, e o MPF solicitou explicações.

Em julho de 2022, o Iphan afirmou que não cumpriu a decisão por falta de membros efetivos para a composição integral do Conselho Consultivo. Em nota à coluna, o Iphan se limitou a dizer que “segue com os trâmites pertinentes ao assunto, conforme a legislação da área”.

Sobre o Conselho Consultivo, o Iphan afirma que decreto presidencial ampliou a participação social no órgão colegiado.

O pedido do MPF é para que, com o Conselho Consultivo criado, haja uma “imediata fixação do calendário de sessões e a apreciação final do processo de tombamento do distrito de Fordlândia”.

A recomendação, do dia 15 de setembro, é assinada pela procuradora da República Isadora Chaves Carvalho e também foi feita ao Ministério da Cultura (onde o Iphan está alocado). Os órgãos têm agora um prazo de 45 dias para viabilizar o Conselho, sob pena de o caso ser judicializado.

O Conselho deve ser composto pelo presidente do Iphan e representantes de entidades públicas:

  • Um da Associação Brasileira de Antropologia;
  • Um da Associação Nacional de História;
  • Um do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios;
  • Um do Instituto de Arquitetos do Brasil;
  • Um da Sociedade de Arqueologia Brasileira e
  • 15 indicados pelo presidente do Iphan da sociedade civil com conhecimento nas áreas de atuação.
Imagem aérea de Fordlândia, em 1934
Imagem: Ford Motor Company Photographic Department / Creative Commons / Domínio Público

(Fonte:UOL)