Coletivos e organizações pretendem levar 15 mil pessoas hoje às ruas de Belém na Marcha Global por Justiça Climática. A manifestação ocorre após três COPs consecutivas em países com restrições a protestos
O que aconteceu
Expectativa é de levar denúncias para governos e atores políticos. Ativistas afirmam que a presença da sociedade civil é uma forma de cobrar mais políticas de reparação e de longo prazo, que considerem os eventos climáticos extremos e crimes socioambientais. Uma das ações preparadas para o evento é o “funeral” dos combustíveis fósseis, com mais de 150 artistas.
Leia mais:“É um grito coletivo, uma retomada de mobilização das ruas a fim de pressionar os tomadores de decisão por medidas efetivas para frear as mudanças climáticas”
– Marcos Wesley Pedroso, assessor político-institucional do Comitê COP 30
COP30 marca um retorno da conferência para países com menos restrições. Nos últimos três anos, as COPs tiveram sedes em locais onde protestos e manifestações da sociedade civil enfrentavam entraves. O Egito (sede da COP27) tem leis que restringem protestos. Na época, o país designou uma instalação próxima e limitada ao centro de conferências para os ativistas, que poderiam protestar em determinados horários, segundo a Al Jazeera.
Dubai (sede da COP28) também criou “protestódromo”. Os Emirados Árabes Unidos requerem autorização oficial para qualquer tipo de protesto, mas decidiu autorizar manifestações relacionadas à COP em um “espaço disponível para que os ativistas climáticos se reúnam pacificamente e façam ouvir as suas vozes”.
No Azerbaijão (sede da COP29) também havia preocupação com liberdade de imprensa. A organização Repórter Sem Fronteiras publicou um comunicado solicitando a liberação de jornalistas locais que haviam publicado reportagens denunciando crimes ambientais. Ao EuroNews, ativistas relataram uma “batalha constante” para fazerem suas vozes serem ouvidas.
Protestos na primeira semana
No Brasil, retorno de grandes protestos já marcaram a primeira semana. Seja de barco, como a Yaku Mama, ou por terra, pelas ruas da capital paraense, a sociedade civil já está reocupando espaços de visibilidade frente às demandas por ação climática.
No segundo dia da conferência, as manifestações se intensificaram. Um grupo de militantes invadindo a Zona Azul. A segurança foi redobrada, e causou desconfortos nos bastidores políticos. No entanto, até agora, não houve nenhuma retaliação contra protestantes. Na sexta-feira, dois protestos de povos indígenas causaram o fechamento dos acessos à zona oficial da conferência.
Para alguns ativistas, as restrições não estão apenas nas leis dos países-sede. Sônia Mara Maranho, da coordenação internacional do MAB, afirma que as disputas para que demandas sejam ouvidas estão também na relação do governo e setores privados.
“Já participamos de algumas COPs oficiais em diferentes países, e há uma disputa constante com os governos e as grandes empresas que tratam o clima, a natureza e as questões sociais muitas vezes como mercadoria. Toda a contradição que vem sendo discutida hoje nas COPs tem a ver com o processo de exploração. Muitas vezes, as organizações sociais têm dificuldade de ter acesso às COPs oficiais, por isso elas são organizadas de forma paralela”.
– Sônia Mara Maranho, do MAB
Mais que um evento
COP30 é um marco para muitos ativistas brasileiros, marcando suas primeiras participações. Esse é o caso de Thiago Alves, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e membro da Cúpula dos Povos. Ele é de Minas Gerais e viu em Belém uma oportunidade se aproximar da conferência.
“Há muitos voos e opções de transporte para essa região, então, sem dúvida alguma, foi um facilitador. Se a COP fosse no Rio ou em São Paulo, seria mais um evento, entre outros que estariam acontecendo, talvez um grande show. Aqui em Belém, é um grande acontecimento para a cidade inteira”, Thiago Alves, do MAB.
Desejo é de que participação popular seja permanente nas COPs. Segundo ativistas, a ideia é de lançar um movimento que organize a discussão o tema internacionalmente, cujo legado mantenha-se para as próximas edições da conferência. As reivindicações giram em torno do desenvolvimento sustentável, um modelo econômico mais equitativo, demarcação de terras indígenas, mais investimentos em renováveis, entre outros.
Marcha também ocorrerá paralelamente na capital paulista. Articulada pela Cúpula dos Povos, que reúne mais de mil entidades, o evento também terá uma marcha no mesmo dia em São Paulo, na Praça Roosevelt.
Fonte: Ecoa Uol
