Uma nota assinada por movimentos sociais defende que a morte de Reginaldo Pereira de Oliveira é de responsabilidade da mineradora Vale. Ele morreu no dia 14 de maio, vítima de um tiro que atingiu sua perna e foi disparado por um segurança da Segurpo, contratada da empresa. O caso ocorreu nas margens da Estrada de Ferro Carajás, pertencente à mineradora.
Nas palavras do texto, o assassinato de Reginaldo é apontado como mais um caso de agressividade executado pela mineradora, através de empresas de segurança terceirizadas. Com operações nas cidades de Marabá, Curionópolis, Parauapebas e Canaã, a Vale é tomada como uma empresa de atitudes violentas contra quem se aproxima da ferrovia ou de outras de suas dependências.
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CTP), citados no documento, apontam que nos últimos anos, a mineradora processou mais de 20 lideranças de movimentos sociais nos municípios de Marabá, Canaã, Parauapebas e Curionópolis. “A violência não é apenas física, mas também na forma de criminalização”, acusa o texto.
Leia mais:Para os movimentos, essa prática apontada tem o objetivo de resguardar o transporte de milhões de ferro que circulam diariamente pelas linhas de ferro. “Para proteger esses interesses, a vida das pessoas e os problemas sociais causados pela exploração mineral pouco importam”. Eles finalizam pedindo a apuração rigorosa do assassinato de Reginaldo, bem como a punição de todos os responsáveis.
O documento é assinado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Instituto Zé Claudio e Maria (IZM) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Procurada pelo Correio de Carajás, a assessoria de imprensa da mineradora emitiu nota afirmando que “a Vale acompanha o caso, colabora ativamente com as autoridades e defende o total esclarecimento dos fatos. A empresa de vigilância foi acionada e também está colaborando na investigação. A Vale reforça que é signatária dos Princípios Voluntários sobre Segurança e Direitos Humanos, atua de forma a respeitar os direitos humanos e exige o mesmo de suas contratadas, assim como o cumprimento da legislação e a contínua capacitação de suas equipes”.
RELEMBRE O CASO
Na tarde do último dia 14 de maio, um domingo, a Policia Militar recebeu via NIOP-190 informações de que um disparo de arma de fogo teria sido efetuado embaixo de um viaduto no São Félix, na área que dá acesso ao Bacabalzinho. Diante disso, uma guarnição da PM foi a local, mas chegando lá nada foi encontrado.
Às 16h14, outro telefonema foi feito ao NIOP, desta vez por vigilantes que trabalham em empresa que presta serviço para a Vale, que pediram apoio da PM, pois havia uma vítima de arma de fogo a cerca de 4 km do mesmo viaduto.
Quando a guarnição chegou ao local indicado, os policiais já se depararam com uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) deixando o local, pois os socorristas tinham sido acionados, mas quando chegaram lá Reginaldo já estava sem vida.
No local, os PMs se depararam com um amontoado de ferro. Os vigilantes Jonathas de Oliveira Soares e Diogo da Silva Melo falaram que a ferragem estava sendo furtada por duas pessoas, que foram flagradas pelos vigilantes, por volta de meio-dia. Ainda de acordo com eles, uma das pessoas, antes de correr, colocou a mão na cintura, momento em que o vigilante Jonathas Soares deu um tiro na direção desta pessoa e mais tarde a encontrou sem vida dentro do mato.
Reginaldo foi atingido com um tiro na perna esquerda, na altura do joelho, que pode ter atingido a veia femural, o que provocou sua morte. Os policiais apreenderam a arma usada para matar Reginaldo e conduziram os dois vigilantes para a Polícia Civil, onde o delegado William Lopes Crispim autuou Jonathas por homicídio e o encaminhou ao Poder Judiciário.
Reginaldo tinha deficiência na perna direita (justamente a que levou o tiro), era pensionista do INSS e pai de oito filhos, sendo seis registrados. Familiares afirmam que Reginaldo não estava furtando nada, que ele era passarinheiro e tampouco tinha forças para carregar pesadas ferragens, devido à deficiência física na perna direita e também nas mãos.
Na audiência de custódia, o juízo da 1ª Vara Criminal de Marabá concedeu Alvará de Soltura para que Jonathas tenha o direito de responder ao crime em liberdade.
Em nota enviada para a Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS poucos dias depois do ocorrido, a Segurpro informou que está colaborando com as autoridades policiais para apuração dos fatos ocorridos naquele dia, quando equipe da empresa foi acionada para verificar suspeitos de furto de material na Estrada de Ferro Carajás, em Marabá.
“A Segurpro reforça que seus vigilantes são profissionais formados em escolas reconhecidas e controladas pela Polícia Federal, além de serem capacitados e treinados especificamente para operações”, diz trecho final da nota. (Luciana Araújo e Chagas Filho)