Revolta é o que não falta neste momento entre as mais de 100 pessoas que estão no Terminal de Ônibus Coletivos de Marabá, na Folha 26, Nova Marabá. De um lado, parte dos motoristas das empresas TCA e Nasson, responsáveis pelo transporte público do município, que paralisaram as atividades na tarde desta quarta-feira (21). De outro, os passageiros que embarcaram sem saber que haveria paralisação e simplesmente foram deixados no terminal, longe do destino final.
Segundo um dos motoristas, que preferiu não se identificar, eles estão com salários atrasados de três a quatro meses e há cinco meses sem vale-alimentação. No local, mais de 20 carros estão parados. “A ideia foi chamar a atenção”, explicou. Outros profissionais afirmam que não participaram da organização, mas chegaram e pararam os veículos pelo bloqueio efetuado por parte dos motoristas.
Um deles acrescentou que quando fazem greve na garagem as empresas enrolam os profissionais para que eles retornem às ruas, sendo que posteriormente não cumprem os compromissos firmados. Além disso, mantendo os 30% de frota circulando, obrigatórios por lei, a população não soma forças por ser parcialmente atendida.
Leia mais:O Correio de Carajás acompanha a movimentação no terminal. Diante da situação, alguns passageiros desabafavam junto aos motoristas. “Eu bato o ponto às 16h30 e fui parada, como vou trabalhar? Que chata essa situação!”, afirmava uma delas. “Armaram arapuca pra gente porque se avisassem quando pegamos o ônibus ninguém entraria, quem quisesse apoiar iria e quem não quisesse achasse outro caminho pra ir pra casa. Simplesmente chegaram aqui, a gente desceu do ônibus, ficaram gritando sobre a greve e catando as chaves dos ônibus e enfiando no bolso”, argumentava outra.
Há, ainda, quem esteja apoiando o movimento dos motoristas. Francisca Mendes está no terminal desde 15 horas. Ela embarcou no Núcleo Cidade Nova e pretendia chegar em Morada Nova, mas está longe do destino. “Avisaram aqui no terminal que paralisariam. Só estamos sabendo agora que estão sem receber e trabalhando. É injusto com eles e se eu trabalhasse e não recebesse também pararia, não aceito isso, não. Eu acho que tem que parar porque a população só reclama dentro do ônibus e a gente tá cansada de ver eles sendo humilhados sendo que a própria população que é prejudicada não cobra. A gente paga as passagens, então é justo que eles recebam”, declarou.
José Carlos também defendeu o movimento dos profissionais. “A gente já espera que algo assim aconteça porque nada presta no transporte urbano. Eu sou passageiro e acho que a gente tem que cobrar do Poder Público. Eles estão recebendo dinheiro, a empresa está recebendo dinheiro, tem que colocar serviço que preste”, declarou.
Sindicato e empresas foram pegos de surpresa
Ouvido pela Reportagem há poucos minutos, o advogado das empresas TCA e Nasson, Robert Silva, avaliou que o ato iniciado pelos trabalhadores é arbitrário porque um pequeno grupo chegou ao terminal integrado de passageiros e passou a tomar a chave de outros ônibus que chegavam, impedindo-os de prosseguir viagem aos bairros. “Eles têm outras formas de resolver o impasse, já que estão se sentindo prejudicados com o atraso salarial. Esse é um ato arbitrário que pode levar à demissão por justa causa”, disse Robert, lembrando que o transporte de passageiros é um serviço essencial e que não pode parar.
Também ouvido pelo Correio de Carajás, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviários do Estado do Pará (Sintrasul), Geraldo Dean Silva, disse que está em Tucuruí nesta quarta-feira acompanhando o velório do secretário de Finanças do sindicato, Reginaldo dos Santos, e que foi pego de surpresa com a paralisação em Marabá.
Explicou que só deverá retornar ao município amanhã à tarde e não sabe como iniciou a paralisação, garantindo que não há nenhum representante do Sintrarsul no movimento, pois até mesmo a sede está fechada. “Mas a situação é preocupante porque temos cinco meses de auxílio-alimentação atrasados e o salário de junho foi pago em parte, além de faltar também o de julho”, disse. (Luciana Marschall, Ulisses Pompeu e Karine Sued)