Entre 1990 e 2023, houve um aumento no número global de casos e mortes por câncer, apesar dos avanços no tratamento da doença. Se o cenário persistir, a estimativa é de que 30,5 milhões de pessoas recebam um novo diagnóstico de câncer e 18,6 milhões morram pela condição em 2050, de acordo com uma análise do Global Burden of Disease Study Cancer Collaborators, publicado nesta quarta-feira (24) em The Lancet.
Apesar do cenário negativo, o estudo sugere que a maioria dos aumentos de casos e mortes ocorrerá devido ao crescimento e ao envelhecimento da população mundial. Porém, as estimativas estão longe do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis, que incluem o câncer, em um terço até 2030.
“O câncer continua sendo um importante contribuinte para a carga de doenças em todo o mundo e nosso estudo prevê que cresça substancialmente nas próximas décadas, com crescimento desproporcional em países com recursos limitados”, afirma a autora principal da análise, Lisa Force, do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME), Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Leia mais:“Apesar da clara necessidade de ação, as políticas e a implementação do controle do câncer permanecem subpriorizadas na saúde global, e não há financiamento suficiente para enfrentar esse desafio em muitos ambientes”, completa.
A análise foi feita a partir de dados de registros de câncer de base populacional, sistemas de registro vitais e entrevistas com familiares ou cuidadores de pessoas que morreram de câncer. As estimativas incluem 204 países e territórios para 47 tipos ou grupos de câncer e 44 fatores de risco atribuíveis.
Segundo o estudo, em 2023, o câncer de mama foi o mais diagnosticado em todo o mundo para ambos os sexos. Já o câncer de traqueia, brônquios e pulmão foi a principal causa de mortes por câncer.
Desigualdades nos casos e mortalidade por câncer no mundo
De acordo com a análise, as mortes por câncer aumentaram para 10,4 milhões e novos casos saltaram para 18,5 milhões globalmente em 2023 (ambos excluindo cânceres de pele não melanoma). Esses aumentos foram de 74% e 105%, respectivamente, desde 1990.
Embora as taxas de mortalidade padronizadas por idade tenham diminuído 24% em todo o mundo entre 1990 e 2023, a redução nas taxas parece ser impulsionada por países de média-alta e alta renda. Por outro lado, as taxas de novos casos padronizadas por idade em países de baixa e média-baixa renda cresceram 24% e 29%, respectivamente, refletindo o crescimento desproporcional que ocorre em locais com menos recursos para prevenção e tratamento da doença.
Segundo a pesquisa, entre 1990 e 2023, o Líbano teve o maior aumento percentual nas taxas de incidência e mortalidade padronizadas por idade para ambos os sexos combinados, enquanto os Emirados Árabes Unidos tiveram a maior diminuição na incidência padronizada por idade e o Cazaquistão teve a maior diminuição nas taxas de mortalidade padronizadas por idade.
Fatores de risco que poderiam ser evitados têm influência no aumento de mortes
O estudo estima que 42% (4,3 milhões) das 10,4 milhões de mortes por câncer estimadas em 2023 estavam relacionadas a 44 fatores de risco potencialmente modificáveis, ou seja, que poderiam ser evitados.
Entre eles, o tabagismo contribuiu para 21% das mortes por câncer em todo o mundo. O tabaco foi o principal fator de risco em todos os países, exceto os de baixa renda, onde o principal fator foi o sexo sem proteção (12,5% de todas as mortes por câncer).
Para os homens, os fatores que estavam mais relacionados às mortes por câncer eram o tabagismo, alimentação não saudável, alto uso de álcool, riscos ocupacionais e poluição do ar. Já entre as mulheres, os fatores eram o tabagismo, sexo sem proteção, alimentação não saudável, obesidade e alto nível de açúcar no sangue.
“Com quatro em cada 10 mortes por câncer ligadas a fatores de risco estabelecidos, incluindo tabaco, má alimentação e alto nível de açúcar no sangue, há enormes oportunidades para os países atingirem esses fatores de risco, potencialmente prevenindo casos de câncer e salvando vidas, além de melhorar o diagnóstico e tratamento precisos e precoces para apoiar indivíduos que desenvolvem câncer”, afirma o coautor do estudo Theo Vos, do IHME.
“Reduzir a carga do câncer em todos os países e no mundo exige ação individual e abordagens eficazes ao nível populacional para reduzir a exposição a riscos conhecidos.”
Em última análise, o estudo pede que a prevenção do câncer seja um componente das políticas nos países de baixa e média renda e ressalta a necessidade de esforços equitativos de controle do câncer para garantir que todas as pessoas com câncer recebam os cuidados de que precisam, onde e quando precisam.
“Existem intervenções econômicas para o câncer em países em todos os estágios de desenvolvimento. Essas estimativas de carga de câncer podem ajudar a ampliar a discussão sobre a importância do câncer e de outras doenças não transmissíveis na agenda global de saúde. Para controlar o crescimento de doenças não transmissíveis, incluindo o câncer em países de baixa e média renda, é urgentemente necessária uma abordagem interdisciplinar para geração de evidências e colaboração e coordenação multissetorial para implementação”, afirma Meghnath Dhimal, do Conselho de Pesquisa em Saúde do Nepal e co-autor do estudo.
Embora os resultados do estudo sejam relevantes, os autores observam que as estimativas são limitadas pela falta de dados de alta qualidade sobre câncer, particularmente em países com recursos limitados.
Eles também apontam que as estimativas atuais não levam em conta doenças infecciosas que estão ligadas a cânceres e que são comuns em alguns países de baixa renda, como Helicobacter Pylori e Schistosoma haematobium, o que provavelmente subestima a carga de câncer ligada a riscos modificáveis. Também não foi incorporado na análise o impacto da pandemia Covid-19 ou conflitos recentes na carga do câncer.
(Fonte: CNN Brasil/Gabriela Maraccini)