Correio de Carajás

Morte dos motociclistas: motorista da carreta relata versão dos fatos à Polícia Civil

Ivan Gomes alega que uma outra motocicleta em sentido contrário o forçou a manobra brusca que resultou na queda da retroescavadeira

A retroescavadeira caída e a carreta que a transportava na BR-222/Foto: Josseli Carvalho
Por: Da Redação

O motorista Ivan Gomes, de 47 anos, responsável pela condução da carreta que transportava a escavadeira hidráulica envolvida no acidente fatal da BR-222, prestou depoimento à Polícia Civil de Abel Figueiredo na tarde de domingo (6), relatando sua versão dos fatos que resultaram na morte de quatro motociclistas.

Em depoimento formal registrado na Delegacia de Polícia de Abel Figueiredo, sob a presidência do delegado José Lênio Ferreira Duarte, o motorista da empresa Infrabrasil apresentou uma versão detalhada dos momentos que antecederam a tragédia, alegando que foi forçado a realizar uma manobra evasiva devido à aproximação de uma motocicleta em sentido contrário.

O Relato do motorista

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Segundo o termo de depoimento registrado às 19h42 do dia 6 de julho de 2025, Ivan Gomes, residente na Rua Rosa Cotine, Travessa Particular 08, no bairro Vila dos Remédios, em Osasco/SP, trabalha como motorista para a empresa Infrabrasil e estava transportando uma escavadeira hidráulica Hyundai R520L.

O motorista relatou que saiu do município de Primavera, no Pará, no dia 4 de julho de 2025, por volta das 14h, acompanhado de um veículo de escolta da empresa Aquino e Messias Escolta e Transporte, com destino a Barueri, em São Paulo. Durante a viagem, fez paradas para descanso em Mãe do Rio/PA e posteriormente em Dom Eliseu/PA.

A sequência dos fatos

No dia 6 de julho de 2025, Ivan Gomes disse ter saído de Dom Eliseu por volta das 6 horas da manhã, conduzindo o caminhão trator Volvo FH 540, chassi 9BVRT60D4RE601214, placa STB2I75, reboque Facchini chassi 94BL0552LLVO75241, placa JAX0C11 e semi reboque Facchini placa IPM1A22, rumo a Marabá.

Aproximadamente às 9h, antes de iniciar a entrada da curva sinuosa do Km 155 da BR-222, em Abel Figueiredo, o motorista relatou ter visualizado do alto algumas motocicletas ultrapassando carros no início da curva em sentido contrário.

Segundo o depoimento de Ivan Gomes, como manobra de cautela, ele iniciou a curva um pouco mais pela direita, usando parte do acostamento. Quando já estava vencendo a primeira perna da curva em formato de “S”, uma motocicleta em sentido contrário, “quase invadindo a sua mão”, o obrigou a realizar uma manobra mais brusca para a direita.

O motorista alegou que, como resultado dessa manobra evasiva, a carga rompeu a amarração de correntes e caiu no meio da pista, na faixa de rolamento da contramão do sentido em que seguia. Ele relatou ter sentido apenas a carreta ficar leve e mudar de trajetória, parando cerca de cinquenta metros ou mais de onde a retroescavadeira caiu.

As quatro vítimas fatais trafegavam de moto pela rodovia

Detalhes técnicos

Em seu depoimento, Ivan Gomes forneceu detalhes sobre o sistema de amarração da retroescavadeira, afirmando que ela estava amarrada em seis pontos: quatro na parte traseira da máquina e dois na parte dianteira, com correntes mais grossas, todas amarradas em formato de “X”, de acordo com as normas de segurança.

O motorista declarou que as correntes e esticadores foram fornecidos pela própria empresa Infrabrasil, seguindo os procedimentos estabelecidos para esse tipo de transporte.

Após o acidente

Segundo o relato de Ivan Gomes, ele não escutou explosão no momento da queda da retroescavadeira. Na trajetória após o desprendimento da carga, ouviu pelo rádio seu escolta, André Messias, falar que havia batido e perguntando se estava bem.

O motorista disse ter saído da cabine com ajuda de André Messias para avaliar a situação. Foi quando visualizou uma mulher chorando ao lado de seu marido fora de um Corolla branco que havia batido em um pneu que caiu da prancha.

Cena do acidente

Ivan Gomes relatou ter observado dois corpos pegando fogo e um terceiro mais à frente sem estar em chamas. Preocupado com o fogo que começou a ameaçar incendiar o Corolla, ele ajudou a retirar o veículo do local, utilizando uma corrente para amarrar o automóvel a uma carreta baú e removê-lo da área de risco.

O motorista disse que, ao sair da cabine, falou que era necessário ligar para o 192 (SAMU) e 191 (Polícia Militar), quando André Messias informou que já havia feito os acionamentos.

Chegada das autoridades

Segundo o depoimento, após alguns minutos chegou a Polícia Militar, que tomou conhecimento da situação e conversou com os envolvidos. O motorista relatou que foi o último a ser ouvido pelos policiais militares, que posteriormente o convidaram para ir até a delegacia “por sua própria segurança”, após dois caminhoneiros terem conversado com os PMs.

Ivan Gomes acompanhou as perícias realizadas pela Polícia Rodoviária Federal e pelo Centro de Perícias Científicas, sendo informado posteriormente que as vítimas se tratavam de três homens e uma mulher.

Acompanhamento Legal

Durante o depoimento, Ivan Gomes esteve acompanhado de seu advogado, Dr. Thiago Pires Alves, inscrito na OAB-PA sob o número 35.799, garantindo seus direitos constitucionais durante o interrogatório conduzido pela autoridade policial.

O depoimento do motorista faz parte do inquérito policial instaurado para apurar as circunstâncias do acidente que vitimou os motociclistas Beatriz Teixeira Cardoso Soares, de 21 anos, Erisvan Bezerra da Silva, de 53 anos, Dorivan Alves Soares, de 24 anos, e Caio Leonardo de Souza Gonçalves, de 36 anos.

A versão apresentada por Ivan Gomes será confrontada com os laudos periciais, depoimentos de testemunhas e demais elementos de prova que estão sendo coletados pela Polícia Civil do Pará. A perícia técnica já foi requisitada para esclarecer a dinâmica do acidente e verificar se houve irregularidades no transporte da carga.

Questionamentos

A versão apresentada pelo motorista contrasta com alguns questionamentos levantados pelos advogados que representam as famílias das vítimas. A defesa questiona, entre outros pontos, se as normas de segurança para amarração da carga foram devidamente respeitadas e se o veículo possuía licenciamento regular para realizar o transporte.

Os advogados também questionam como o veículo passou pelos postos de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal sem que fossem detectadas possíveis irregularidades no transporte da retroescavadeira.

Próximos passos

O caso segue sob investigação da Delegacia de Polícia Civil de Abel Figueiredo, com a realização de perícias técnicas e oitiva de testemunhas. A autoridade policial deverá analisar todos os elementos coletados para determinar se houve responsabilidade criminal no acidente que causou a morte dos quatro motociclistas.

A conclusão do inquérito policial será fundamental para esclarecer se a versão apresentada pelo motorista condiz com os fatos apurados pela investigação técnica e se houve negligência ou imprudência que contribuiu para a ocorrência da tragédia na BR-222.